Ato em apoio às manifestações no Brasil reúne mil pessoas em Buenos Aires

A marcha terminou na embaixada do Brasil, onde foi entregue uma carta em solidariedade à tarifa zero

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A marcha terminou na embaixada do Brasil, onde foi entregue uma carta em solidariedade à tarifa zero Por Melissa Teófilo Cerca de mil pessoas se reuniram no Obelisco de Buenos Aires, na tarde desta terça-feira (18), para mostrar seu apoio às manifestações em prol da revogação da decisão de aumentar a tarifa de ônibus nos diversos estados do Brasil. A concentração começou pouco antes das 17h, quando já se podia ver alguns manifestantes levantando cartazes criticando, além do aumento das tarifas no transporte público, a corrupção e os gastos com a Copa do Mundo. “Eu fiquei sabendo da manifestação pela internet e foi o que eu precisava, porque a gente sente muita revolta com tudo que está acontecendo no Brasil. E agora, você pode estar aqui, com um monte de brasileiro, pra mostrar que não está satisfeito com o que está acontecendo lá”, contou a estudante Tatiana Cristina. A partir das 18h10 a marcha seguiu em direção a embaixada do Brasil ocupando todas as faixas da rua Carlos Pellegrini, marginal da Av 9 de Julio, uma das principais da cidade. A polícia argentina organizou o fechamento dos cruzamentos e nenhum problema foi reportado. O trajeto demorou por volta de 25 minutos. Frente ao local, os manifestantes leram uma carta de apoio, criada coletivamente, e cantaram o hino nacional. O ministro conselho Julio Telli recebeu a manifestação e o documento junto com assinaturas que mostravam apoio. “A carta vai seguir oficialmente para o Ministério das Relações Exteriores, para o Itamarati e para o governo brasileiro”, disse. “A embaixada está aberta para receber os representantes de vocês e ouvir o que vocês têm a dizer. Essa é a nossa função”, completou. A organização foi feita basicamente por Facebook e foi ressaltado o caráter pacífico e apartidário do movimento, que não tinha liderança centralizada.“A ideia surgiu desde o inicio das manifestações em São Paulo. Teve um chamamento pelo Facebook para todos os interessados em organizar. A gente se reunia, levantava pauta, decidia coisas, colocava no Facebook para todo mundo opinar, para as pessoas se inteirarem”, disse Renato Nonato, 24 anos. Leia abaixo a carta na íntegra: CARTA ABERTA AO EMBAIXADOR DO BRASIL EM BUENOS AIRES: Nós, brasileiros, argentinos, e pessoas de várias nacionalidades, nos reunimos hoje, dia 18 de junho de 2013, em Buenos Aires, Argentina, em um protesto de solidariedade às manifestações que vêm acontecendo nas últimas semanas no Brasil. Há quase 10 anos, o Movimento Passe Livre existe com o objetivo de “descatralizar” o transporte público. Mais uma vez a tarifa aumentou e o movimento foi às ruas. Durante as manifestações pacíficas realizadas em São Paulo, os participantes foram alvo de extrema violência repressiva por parte da Polícia Militar, em particular por sua Tropa de Choque. Essa violência foi marcada pelo uso abusivo das chamadas armas “não-letais”, já que os policiais, sem tomar nenhuma das precauções necessárias, atiraram diretamente contra os manifestantes bombas de efeito moral, gás e balas de borracha, além de fazer uso indiscriminado de cassetetes. A reação das autoridades, de diferentes partidos e níveis de governo, diante dessa situação não corresponde ao que se espera em uma sociedade livre e democrática. A repressão, somada à negligência do Estado, teve o efeito de fortalecer o movimento, que tomou proporções inimagináveis, e hoje transcende inclusive as fronteiras nacionais. A população brasileira vive um momento de expressão democrática. As pessoas querem decidir sobre as políticas públicas que afetam as suas vidas: os gastos públicos, os sistemas de transporte, a qualidade de vida nas cidades. Elas saíram às ruas para lutar por isso, mas sobretudo para reivindicar o próprio direito de sair às ruas e serem ouvidas. Nós, hoje aqui presentes, somos levados por um sentimento de impotência, por estar longe, mas também de orgulho dos nossos amigos, irmãos, pais, mães, companheiros e companheiras que saíram às ruas em muitas cidades do Brasil. Estamos aqui em solidariedade aos feridos e às feridas, às vítimas de prisão arbitrária, e a todos que saíram às ruas e continuam na luta. A truculência da polícia brasileira é tradição em um país historicamente marcado por um sistema repressivo, autoritário e violento que, neste momento, está sendo desafiado por pessoas de diferentes grupos e contextos. Hoje, o que essas pessoas têm em comum é a coragem e a vontade de mudança. É para nos unir a esse movimento que realizamos este ato pacífico. Impulsionados pelo desejo de construir um Brasil melhor, oferecemos de Buenos Aires o nosso apoio.