Avião que caiu em MG estava atacando acampamento com rojões, diz MST

Após uma hora de rasantes sobre as famílias sem-terra que ocupam uma fazenda em Tumiritinga (MG), um avião caiu e matou as duas pessoas que estavam a bordo, entre elas o prefeito da cidade vizinha Central de Minas, Genil da Mata (PP); de acordo com o movimento, Genil alegava ser o dono da propriedade e já havia dito que resolveria a situação "à sua maneira".

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Após uma hora de rasantes sobre as famílias sem-terra que ocupam uma fazenda em Tumiritinga (MG), um avião caiu e matou as duas pessoas que estavam a bordo, entre elas o prefeito da cidade vizinha Central de Minas, Genil da Mata (PP); de acordo com o movimento, Genil alegava ser o dono da propriedade e já havia dito que resolveria a situação "à sua maneira"  Por Redação  Na tarde desta terça-feira (14), uma aeronave caiu em uma fazenda na cidade de Tumiritinga (MG), matando as duas pessoas que estavam a bordo. Entre as vítimas, está o prefeito da cidade vizinha Central de Minas, Genil da Mata (PP). A outra vítima ainda não foi identificada. A fazenda onde o acidente ocorreu estava sendo ocupada por cerca de 200 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) desde o último dia 5 de julho.  A área, considerada improdutiva, pertencia à empresa Fíbria, mas foi adquirida por Genil Mata da Cruz, que também é dono de uma grande rede de postos de combustíveis na cidade. De acordo com os trabalhadores do movimento, Genil já estava, há algumas semanas, em conflito com os integrantes da ocupação. Ele teria aparecido na fazenda e falado sobre o seu direito de posse, mas teria sido orientado pela polícia a reivindicar esse direito na Justiça. O prefeito, então, teria afirmado que resolveria a situação "à sua maneira". Segundo o MST, antes de cair, o avião ficou fazendo rasantes e disparando rojões contra as famílias por cerca de uma hora. Os trabalhadores contam que esta não é a primeira vez que as famílias acampadas na área sofrem ataques. Na madrugada da última sexta-feira (10), cerca de 12 pistoleiros em dois veículos teriam invadido o acampamento e soltado fogos de artifício contra as barracas. Uma pessoa foi atingida e sofreu pequenas queimaduras no corpo. Um boletim de ocorrência, inclusive, foi feito pelo movimento na delegacia local por conta das constantes ameaças. O advogado do prefeito, Siranides Gomes, por sua vez, disse que, de fato, uma ação de reintegração de posse estava sendo preparada e que o sobrevoo desta terça-feira seria para fotografar a área. A Polícia Militar informou que está investigando a queda do avião e os possíveis ataques mencionados pelo movimento. Confira, abaixo, a nota divulgada pelo MST sobre o caso.

Na madrugada do dia 5 de julho de 2015, 300 famílias da região do Vale do Rio Doce ocuparam a fazenda Casa Branca, no município de Tumiritinga – MG, à 50 Km de Gov. Valadares, região leste do estado.

A Fazenda, com aproximadamente 1.500 hectares, pertence à empresa Fíbria Celulose. Após a ocupação compareceu a fazenda o Sr. Genil Mata da Cruz, prefeito de Central de Minas e proprietário da Rede de Posto de Combustíveis Gentil, alegando que está negociando a compra da fazenda junto a Fíbria e reivindicando a posse da área. Na ocasião, a Polícia Militar estava presente e orientou o Sr. Genil a reivindicar seu direito de posse junto à justiça.

No dia 9 de Julho, ao final da tarde, fomos informados de que o então suposto proprietário estava disposto a fazer, ele mesmo, o despejo das famílias, uma vez que ele não poderia recorrer à justiça pelo fato de não possuir nenhum documento da área. Nessa mesma tarde, caminhões foram à fazenda e retiraram duas famílias de funcionários que moravam na área. Na madrugada do dia 10, as famílias foram surpreendidas com cerca de 12 pistoleiros, dois veículos e dois tratores. Os pistoleiros efetuaram vários disparos de balas e foguetes sobre as famílias acampadas. Os tratores foram blindados, preparados para guerra.

As famílias conseguiram pedir socorro policial e os pistoleiros, ao perceberem a aproximação da polícia fugiram. Na fuga um trator caiu em uma vala.

No dia 11 último, representantes do governo do Estado de Minas, através da mesa de conflitos agrários, e o superintendente regional do INCRA-MG, preocupados com a situação de conflitos e tensão, estiveram na região e se reuniram com o suposto proprietário, com a Polícia Militar e com a Coordenação dos Trabalhadores Sem Terra. Foi o início de um importante diálogo, onde poderia culminar em uma negociação. Porém, na segunda-feira (13) recomeçaram os boatos de que o fazendeiro iria realizar o despejo.

Na tarde desta terça-feira (14), por volta das 16h, o fazendeiro começou a cumprir a promessa. Dois aviões começaram sobrevoar o acampamento efetuando disparos sobre as centenas de pessoas acampadas, entre elas mulheres, jovens, crianças e idosos. As famílias viveram momentos de terror. Em meios aos ataques um avião caiu e pegou fogo. A informação é que duas pessoas morreram carbonizadas.

Não sabemos as circunstâncias de tal acidente e nem quem são as vítimas. Isso cabe as autoridades investigar. O que nós do MST temos feito é nos colocar a disposição para o diálogo para fazer avançar a Reforma Agrária, mesmo que esta esteja praticamente paralisada. Essa disposição nunca nos faltará, mesmo com vários tipos de violência que temos sofrido, como o massacre de Felizburgo, Eldorado dos Carajás, entre outros.

14/07/2015

Direção estadual do MST-MG

Foto: MST