Bolsonaro ataca Enem após sinalizar interferência: "Ativismo político"

Em entrevista a jornalistas durante viagem ao Catar, ele afirmou que não viu as questões da prova, mesmo depois de ter dito que "teriam a cara do governo”

Bolsonaro faz viagem pelos Emirados Árabes. Foto: Alan Santos/PR
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Após ter sinalizado interferência no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ao dizer que as questões "teriam a cara do governo”, o presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) negou que tenha visto a prova.

Em entrevista a jornalistas nesta quarta-feira (17), durante viagem ao Catar, nos Emirados Árabes Unidos, ele afirmou que não viu as questões do Enem deste ano. "Não, não vi. Eu não vejo, não tenho conhecimento", respondeu.

O presidente, no entanto, repetiu ataques feitos ao Enem durante o período da campanha eleitoral, quando disse que a prova tinha "questões esquisitas" e de "ativismo comportamental".

"Olha o padrão do Enem do Brasil. Pelo amor de Deus! Aquilo mede algum conhecimento, ou é ativismo político? Ou é ativismo também na questão comportamental. Não precisa disso", ressaltou.

Motociata em Doha

Bolsonaro falou com a imprensa após um passeio de moto. Sem nenhum compromisso oficial na agenda presidencial, ele aceitou o convite da Harley Davidson, montadora de motos de luxo, para participar de uma motociata pelas ruas da capital Doha.

Em Doha, Bolsonaro divulgou vídeo do passeio de moto. “Motociclistas do Brasil, estou no Catar. Fui convidado a dar um passeio de moto aqui na capital. Vou dar um passeio, de 30, 40 minutos. Aquilo que foi plantado no Brasil pelos motociclistas está pegando, vai pegar no mundo todo”, disse Bolsonaro antes de subir na Harley Davidson.

Crise no Enem

O Enem vive uma crise nos últimos dias, principalmente após um desligamento em série de 37 servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) depois do pedido de exoneração do coordenador-geral de exames para certificação, Eduardo Carvalho Sousa, e do coordenador-geral de logística da aplicação, Hélio Junior Rocha Morais.

Servidores do órgão responsável pelo exame afirmaram em reportagem ao "Fantástico" que sofreram pressão psicológica e vigilância velada na formulação do Enem 2021 para que evitassem escolher questões polêmicas que eventualmente incomodariam o governo Bolsonaro.

Segundo eles, houve tentativas de interferência no conteúdo das provas, situações de intimidação e despreparo do presidente do órgão, Danilo Dupas.