Exame apresentado por Bolsonaro não comprova que ele está imunizado; infectologista explica por que

Em mais uma declaração desprovida de embasamento científico, o presidente afirmou que não vai se vacinar, pois, já foi infectado pelo coronavírus e isso o tornou imune

Infectologista desmente declaração de Bolsonaro sobre estar imune/ Foto: reprodução redes sociais
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Em uma nova afirmação sem qualquer embasamento científico, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) declarou que não vai se vacinar, pois, argumentou que tem anticorpos contra a doença porque já teve Covid-19 e, na cabeça dele, isso torna a vacinação desnecessária.

Além disso, o presidente afirmou que "no tocante à vacina, eu decidi não tomar mais […] A minha imunização está lá em cima, IgG está 991. Para que eu vou tomar uma vacina?", questionou Bolsonaro.

Mas será que o presidente está certo: quem já foi infectado pelo coronavírus não precisa tomar a vacina?

O exame que ele apresenta para justificar a sua posição é o correto para descobrir se você possui anticorpos suficientes para lhe proteger contra o coronavírus?

O médico infectologista Marcos Caseiro afirma que a declaração do presidente é "completamente equivocada" e explica que o exame apresentado pelo presidente Bolsonaro não comprava que ele está imunizado contra o coronavírus.

Além disso, uma série de pesquisas mostram que a chamada “imunização natural” contra o coronavírus é de curta duração e que não protege contra a Covid. Ou seja, tem que tomar a vacina.

Abaixo você confere a explicação do pesquisador e médico infectologista Marcos Caseiro:

"Essa fala dele é completamente equivocada, como todas as falas dele né? Mas, a grande questão que é faltava nos trabalhos (pesquisas acadêmicas) para gente determinar quais seriam os anticorpos protetores.

O fato de você ter anticorpo no sangue não se correlaciona necessariamente a proteção.

Na semana passada saiu uma publicação onde chamamos de correlatos de proteção. Esses correlatos de proteção são o que nós chamamos de pesquisa de anticorpos neutralizantes, que não é um exame simples e certamente não é esse que ele (Bolsonaro) mostra, porque não é em numeração, é em porcentagem.

O fato de você ter anticorpo não indica necessariamente que você tenha proteção. Para você ter proteção você necessita de um exame, que é pesquisa de anticorpos neutralizantes anti-spike, anti-espícula do vírus que, certamente não é exame que ele mostra, pois, esse é um exame caro e um ou dois laboratórios do Brasil está fazendo esse exame”.

“Infecção ou vacinação não nos torna invulneráveis ao coronavírus”

O debate sobre uma possível "imuninização natural" não é novo e já esteve no centro da pauta. Em entrevista ao Fórum Onze e Meia explicou que, mesmo vacinado, as pessoas podem ser infectadas pelo coronavírus,

“30% daqueles casos de P.1 em Manaus foram reinfecções. Os anticorpos não duram. A gente tem feito um trabalho, a gente colheu em 1 ano, que faz parte de um projeto junto com o Fapesp (Fundação de Amparo a Pesquisa de São Paulo), o sangue no hospital, de 1.600 funcionários. A gente colhe a cada três meses. Começamos em julho do ano passado. Os anticorpos sobem até o 5º mês, a partir do 6º eles caem. Os anticorpos não se sustentam”, explicou Caseiro.

De acordo com o médico e pesquisador, já havia uma desconfiança sobre a durabilidade dos anticorpos após a infecção e reforçou o uso de máscara e o distanciamento social.

“Nós já tínhamos a ideia dessa queda e agora eu vou ter os dados da vacina. Então, é assim: tomou vacina ou teve a doença, isso não nos torna invulneráveis. Enquanto não tivermos uma imunização coletiva e uma diminuição expressiva de casos de mortes, não dá pra pensar ou discutir a possibilidade de não usar a máscara ou evitar o distanciamento. Não é hora de aglomerar, não é hora para fazer festas coletivas, é hora de ficar quietinho e utilizando máscara”, finalizou Caseiro.