Boulos foge de pegadinhas das "páginas amarelas" da Veja e crava: Não há possibilidade da esquerda ficar de fora do 2º turno

O líder do MTST também falou sobre a sua pré-candidatura ao governo do estado de SP e afirmou que é possível quebrar preconceito com a esquerda no interior do estado

Guilherme Boulos (Reprodução/Twitter)
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O líder do MTST e pré-candidato do PSOL ao governo do estado de São Paulo, Guilherme Boulos, é o entrevistado desta semana das páginas amarelas da revista Veja. Boulos consegue escapar de todas as pegadinhas da entrevista, mas não pôde fugir do texto desonesto que antecede a conversa.

Logo na primeira linha, o texto da revista Veja chama o MTST de "barulhento". Na sequência, o texto, de forma irônica, afirma que "embora tenha se esforçado na última campanha (à prefeitura de SP, onde ficou em segundo lugar) para desmistificar a imagem de radical, ele (Boulos) usa chavões como 'neoliberalismo' e 'convulsão social' para falar sobre o quadro atual".

O tom irônico e debochado segue ao longo da entrevista. Na primeira pergunta Boulos é questionado sobre a disputa à presidência da República no ano que vem e sobre qual candidato o seu partido vai apoiar. "Esta eleição é diferente, o Brasil teve um retrocesso civilizatório. O grande desafio é acabar com esse pesadelo Defendo uma unidade no campo progressista para derrotar Bolsonaro", responde Boulos.

Na tentativa de pregar uma peça em Boulos, a revista pergunta se no campo progressista "cabe todo mundo que é contra o presidente". "O campo progressista se define a partir de duas características. Uma é a defesa da democracia contra a ameaça a autoritária. Nesse ponto, é bastante amplo. Mas há outra, que tem a ver com o projeto econômico. Numa eleição, você não vai para dizer contra quem você está, é preciso apresentar um plano. O campo progressista é aquele que não aceita a agenda econômica neoliberal", disse.

Em determinado momento, após Boulos defender a revogação do teto de gastos para ampliar o investimento em saúde e educação, a publicação o questiona se não seria "uma irresponsabilidade" defender tal medida. "Até o editorial do Wall Street Journal, que é insuspeito de ser comunista, defendeu, no contexto da pandemia, a necessidade de maior intervenção do Estado. Estamos vendo isso acontecer no mundo inteiro. Essa é a forma de responder à crise: romper com a amarra ao investimento público para garantir um plano ousado de obras em infraestrutura, saneamento e moradia. O argumento da responsabilidade fiscal não pode servir para legitimar a irresponsabilidade social".

No melhor estilo " E o PT? E o Lula?", a revista questiona a posição de Boulos sobre reformas estruturais e afirma que a posição dele contraria, inclusive o ex-presidente Lula, que tem dialogado com partidos do Centro. "A margem de manobra para conciliar interesses existe quando você tem uma onda de crescimento, porque aí você faz políticas sociais por meio do manejo orçamentário, sem precisar confrontar grandes interesses e entrar em temas distributivos. No Brasil, isso não existe, aqui é uma terra arrasada". Em seguida, e ainda sobre Lula, a publicação traz para a entrevista as acusações de corrupção contra o ex-presidente.

"Em um estado de direito, todo cidadão é inocente até que se prove o contrário. O que o STF mostrou no caso do Lula foi que o processo conduzido por Sergio Moro era absolutamente viciado. Se o tema da corrupção aparecer em 2022, será centrado em quem faz rachadinha, em quem está comprando o Centrão", disse Boulos.

Sobre as eleições de 2022, a revista pergunta se em um cenário de segundo turno sem a esquerda, se ele votaria em João Doria (PSDB) ou Luiz Henrique Mandetta para derrotar Bolsonaro. "Não vejo espaço para esse dilema. Se olharmos as pesquisas de opinião, não existe possibilidade de o campo da esquerda ficar fora do segundo turno", diz Boulos.

A pré-candidatura de Boulos ao governo do estadual de São Paulo entra na conversa e a revista que buscar saber se Boulos e Haddad estarão juntos em uma chapa e como fazer para angariar votos no interior paulista, que é historicamente avessa aos candidatos da esquerda.

"Coloque o meu nome à disposição para debater uma unidade de esquerda que acabe com o tucanistão. Há um cansaço com o PSDB, acelerado por João Doria e seus graves problemas de gestão. Temos a oportunidade de virar o jogo. Tenho Conversado com o PT, PDT, PCdoB e Rede. Enfrentar a máquina do PSDB é pesado, é preciso ter unidade […] acho muito improvável (chapa com Haddad). Pelo que o Haddad tem dito, ele está focado em ajudar Lula na construção da candidatura […] um dos grandes legados da campanha de 2020 foi ter ajudar a quebrar estereótipo, sobretudo em relação às invasões. Mostramos que o MTST luta pelo cumprimento da lei, da função social da propriedade prevista na Constituição, dos dispositivos do Estatuto da Cidade para lidar com imóveis abandonados. Desmistificamos aquela coisa 'ah, o Boulos vai invadir a sua casa'. Podemos fazer isso no interior também", finalizou Boulos.

Com informações da revista Veja