População LGBT brasileira sofre o equivalente a seis "atentados de Orlando" por ano

Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas
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Somente em 2012, de acordo com a Secretaria de Direitos Humanos, 310 brasileiros foram assassinados em crimes cujo o pano de fundo foi a homofobia. Na madrugada do último domingo (12), Omar Marteen abriu fogo dentro de uma boate voltada para o público LGBT e deixou 49 pessoas mortas e outras 53 feridas Por Victor Labaki O ataque de Omar Marteen a boate Pulse, casa noturna voltada ao público LGBT em Orlando (EUA), na madrugada do último domingo (12) e que deixou 49 pessoas mortas e outras 53 feridas chocou o mundo inteiro, não só por se tratar do maior ataque da história dos EUA depois do 11 de setembro, mas também por se tratar de um crime motivado pelo ódio e homofobia. Os últimos dados sobre o número de mortes no Brasil causadas por motivações homofóbicas foram coletados pela Secretaria de Direitos Humanos em 2012. O estudo aponta que pelo menos 310 brasileiros morreram vítimas de crimes cujo o pano de fundo foi a intolerância com a comunidade LGBT. Isso equivale a praticamente seis ataques semelhantes ao da boate Pulse em apenas um ano. No entanto, o documento da secretaria coletou apenas os casos de mortes que foram noticiados pela mídia. Fernando Quaresma, presidente da APOGLBT (Associação da Parada do Orgulho LGBT), disse que os números são ainda maiores. "Os familiares muitas vezes não tem coragem ou têm vergonha de falar que tem um filho ou parente LGBT e cai na vala comum do homicídio ou da lesão corporal. Então se você for pensar nisso o número é ainda muito maior". Fernando completou dizendo que a falta de leis no Brasil que punam a LGBTfobia ajuda a perpetuar esse quadro. "Essas coisas acontecem no Brasil porque nós não temos uma lei específica que puna a LGBTfobia porque nosso Legislativo não funciona a favor dos LGBT's". Jean Wyllys (PSOL-RJ), único deputado brasileiro assumidamente homossexual, disse que o que está em questão e que precisa ser debatido profundamente é a motivação desses crimes. "A motivação homofóbica e essa homofobia ao falar homofobia eu também me refiro a lesbofobia, a transfobia, a bifobia  são produtos de uma cultura que não é recente. Na verdade, tanto o assassinato em massa em Orlando quanto o assassinato do varejo aqui no Brasil expõe um nó que precisa ser desatado. Porque o assassinato, a lesão corporal, ou seja, a expressão dura da homofobia, só existe porque há uma homofobia social, uma homofobia cultural, reproduzida há milênios por diferentes instituições, por diferentes aparatos, por diferentes discursos e essa homofobia que é reproduzida milenarmente faz parte da nossa sociedade. A gente introjetou esses valores anti-homossexuais". Jean Wyllys chamou a nota divulgada pelo Itamaraty, que não citou o fato do crime ter ocorrido em uma boate gay, de vergonhosa, mas disse que ela está em "completa sintonia com o governo a que serve o atual ministro das Relações Exteriores, José Serra". "É uma nota completamente coerente com o governo interino e golpista de Michel Temer. O governo Michel Temer é sustentado por forças conservadoras e contrárias aos direitos de minorias. As forças que sustentam o governo na Câmara dos Deputados é a chamada bancada evangélica, a bancada da bíblia, que é composta por evangélicos fundamentalistas e católicos fundamentalistas", criticou. "A nota do Serra não poderia contrariar essa base de apoio ao governo interino. Ela fala casa noturna e não menciona boate gay. Uma nota vergonhosa para nós, uma nota vergonhosa para a diplomacia do Brasil", completou. Foto de capa: Paulo Pinto/Fotos Públicas