Breno Altman: PT, MP e o peixe morre pela boca

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"O partido passou a considerar que a democracia vinha da combinação entre soberania do voto, participação popular e autonomia dos poderes de Estado. O petismo, dessa forma, alimentou um dos monstros que corrói nossa democracia, sob a manta de republicanismo: a autonomia, como fundamento do Estado, esvazia o papel soberano do povo e o transfere para espaços cuja ascensão nada tem a ver com as urnas ou a participação cidadã" Por Breno Altman O PT nasceu sob vários influxos. Um deles foi a crítica contra o socialismo real, a experiência forjada pela revolução de outubro e liderada pela URSS. O centro desta crítica era a questão democrática. Muitos dos formuladores dessa crítica não escondiam reverência a ideias liberais, prestando homenagem ao suposto caráter universal dos princípios de Montesquieu, sobre a separação de poderes. Alem desta influência cultural, o pensamento democrático hegemônico no PT também foi construído a partir do espírito da luta contra a ditadura e da vivência corporativo-sindical. O fato é que o partido passou a considerar que a democracia vinha da combinação entre soberania do voto, participação popular e autonomia dos poderes de Estado. Os petistas viraram campeões, antes e depois de liderarem o governo federal, da pressão por autonomia do Ministério Público, dos órgãos policiais e outras estruturas do Estado, cujo comando se deslocou do primado da vontade popular, chancelada pelo voto, para a auto-regulação das corporações. O petismo, dessa forma, alimentou um dos monstros que corrói nossa democracia, sob a manta de republicanismo: a autonomia, como fundamento do Estado, esvazia o papel soberano do povo e o transfere para espaços cuja ascensão nada tem a ver com as urnas ou a participação cidadã. Deu no que deu.

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