BTG e XP estão a serviço de estrangeiros suspeitos de compra ilegal de terras, diz reportagem

Parceria entre as duas investidoras resultou numa operação milionária com a Brasilagro, expoente do agronegócio no Brasil

22/8/2017- Brasília, DF, Brasil - Núcleo Rural Pipiripau, Planaltina, A terceira edição da Expedição Safra-Brasília fará uma análise completa da cultura do maracujá no Distrito Federal. Equipes da Emater-DF, da Secretaria da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural e da Embrapa Cerrados percorrerão 180 hectares de cultivo, em 126 propriedades. A propriedade de Maria dos Anjos Silva, de 50 anos, no Núcleo Rural Pipiripau, foi uma das primeiras a ser visitada pelos extensionistas e pesquisadores do projeto. Ela cultiva maracujá na área há dez anos. Foto: Tony Winston/Agência Brasília
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Reportagem da Pública revela um lado B que desmistifica a máxima de que há "falta de interesse e medo de investidores estrangeiros apostarem no Brasil sob Bolsonaro", pois, "operações do mercado financeiro revelam que, no dia 24 de janeiro, quando a XP Investimentos juntou-se ao banco BTG Pactual para uma parceria que resultou numa operação milionária".

Segundo a publicação, "as matrizes dos dois bancos e suas filiais nos Estados Unidos venderia o equivalente a mais de R$ 670 milhões em ações de uma 'das maiores empresas brasileiras, a Brasilagro, em quantidade de terras agricultáveis' do país. Tanto o BTG quanto a XP venderiam, os papéis sob uma condição: o que não fosse comprado por terceiros seria adquirido por ambos".

Acontece que o governo brasileiro investiga a Brasilagro por suspeita de aquisições ilegais de terras desde 2016. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) afirma que a companhia é "suspeita de atuar em desconformidade com a lei, driblando limites impostos nas vendas de terras a estrangeiros".

Outro fato que chama atenção é que, ao contrário do que o nome sugere - Brasilagro -, os documentos obtidos pela Pública indicam que são investidores argentinos e norte-americanos que conduzem a empresa. A reportagem, a partir de documentos oficiais, identificou compras "desse grupo estrangeiro na Bahia, no Maranhão e no Piauí - todas se autorização do Incra ou do Congresso Nacional".

"As fazendas da Brasilagro se espalham pelo berço das águas brasileiro, o Cerrado. Parte das propriedades fica em sua nova fronteira da soja, o chamado Matopiba, que engloba os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Nesse território, maior que a França e a Inglaterra somadas, denúncias de grilagem e desmatamento se multiplicam enquanto o preço das terras se valoriza desde os anos 2000", revela a publicação.

O modelo de trabalho da Brasilagro envolve "comprar e preparar terras para o cultivo de cana-de-açúcar, milho e soja, ou para a pecuária em larga escala. A produção agrícola do grupo é vendida a grandes empresas do exterior, como a holandesa Bunge, a norte-americana Cargil a britânica Glencore. Feito o serviço, o que era cerrado vira ativo financeiro: terras já desmatadas e registradas no governo valem mais, especialmente para agronegócios".

As investigações feita pelo Incra avançaram até 2016, quando a presidenta Dilma foi impichada e o então vice-presidente, Michel Temer. Com isso, o trabalho de apuração de tais negócios "não teve a mesma celeridade".

Ainda segundo informações da Pública, "com menos de um mês de investigação, o Incra apontou 241.289 hectares [de fazendas] adquiridos e não vendidos pela Brasilagro. O órgão informou que não houve aval para essas aquisições".

A reportagem e os documentos que serviram de base podem ser conferidos aqui.