Buraco em Pinheiros é o 12º acidente das obras da Linha 4

Em dois anos, 12 acidentes graves foram registrados. O último ocorreu na quarta-feira, 8

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Em dois anos, 12 acidentes graves foram registrados. O último ocorreu na quarta-feira, 8 Por Vermelho A Parceria Pública Privada (PPP) para a construção da Linha 4-Amarela do Metrô, firmada entre o Governo do Estado de São Paulo e grandes empreiteiras internacionais – mais conhecida como Consórcio Via Amarela – tem se revelado um verdadeiro show de horrores para os paulistanos. Em um pouco mais de dois anos, 12 acidentes graves já foram registrados. O último, ocorrido na quarta-feira, 8, na Rua dos Pinheiros, não deixou vítimas – ao contrário do que ocorreu em janeiro – mas sinaliza que o filme de terror pode continuar se o governador Serra permanecer insistindo no modelo de gestão das obras. É o que afirmam lideranças do Sindicato dos Metroviários e da Federação Nacional dos Metroviários (Fenametro). Com o apoio de técnicos, eles apontam irregularidades do Consórcio desde o início das obras e denunciam o acordo draconiano firmado pelo Estado com as empresas. Ao todo, 66 casas localizadas nas proximidades das obras já foram interditadas. Uma casa afundou por conta de desmoronamentos. Outras quatro mil já ficaram sem luz. A parede de uma loja também já desabou e um carro caiu num buraco de 35 metros por falta de segurança nos canteiros do Consórcio. (Veja abaixo quadro de acidentes por ordem cronológica). O número de vítimas já chegou a 14. A maior tragédia ocorreu em 12 de janeiro deste ano, quando uma cratera se abriu na futura Estação Pinheiros, levando a morte sete pessoas e removendo do local outras 132. O 12º acidente nas obras se deu no final da tarde desta quarta (8), quando o tatuzão (máquina shield que perfura os túneis do metrô) abriu um buraco de dois metros ao percorrer a Rua dos Pinheiros. A rua ficará interditada por pelo menos uma semana. Os engenheiros das empreiteiras, responsáveis pelas obras, culpam a chuva e o tipo de terreno como responsáveis pelos desastres. Porém, para técnicos e sindicalistas a natureza não é a causa dos acidentes. Tempo é dinheiro O contrato da obra da Linha 4 do Metrô foi feito no sistema de "porteira fechada", também conhecido como Turn key. Isso significa que o consórcio contratado recebeu o pagamento para entregar o "pacote" de obras num prazo estipulado. Para o presidente da Federação Nacional dos Metroviários, Wagner Fajardo, este tipo de contrato é prejudicial para a obra do ponto de vista técnico, já que se aparecerem imprevistos que delonguem as obras as empreiteiras sairão no prejuízo. "Eu acho que o prejuízo é muito grande. O exemplo disso é a Linha 4. É a primeira obra contratada dessa forma e é a que temos o maior número de acidentes", disse Fajardo, em entrevista concedida a Paulo Henrique Amorim na ocasião do acidente em janeiro. Segundo Fajardo, o contrato com "porteira fechada" é ruim porque o consórcio contratado passa a ter toda a responsabilidade pela obra e não tem acompanhamento de técnicos do poder público. "Isso joga fora toda a experiência acumulada em 30 anos nas obras públicas do Metrô", disse. Dentro desta lógica quanto mais rápido a obra terminar melhor é para o Consórcio, que ganha o mesmo valor que ganharia por uma obra em um tempo maior. Além disso, a responsabilidade por tudo o que acontece na obra, do início ao final, é do consórcio contratado. As empreiteiras só podem reajustar preços se houver mudanças no projeto. E é aí que mora o perigo, já que com os acidentes as obras definitivamente já estão atrasadas e o prejuízo pode ser incalculável. Contra o tempo Depois de um Termo do Ajustamento de Compromisso firmado entre o Consórcio Via Amarela, pelo Metrô, pelo IPT e pela Promotoria de Habitação e Urbanismo as obras foram suspensas em 15 de fevereiro. Mas, mesmo sem um laudo oficial sobre o acidente de janeiro, e sob protestos de moradores e de metroviários, o IPT voltou a liberar as obras em 8 de maio, mantendo suspensa somente às obras na Estação Pinheiros. De acordo com o laudo técnico encomendado pelo próprio Consórcio Via Amarela no período do acidente de janeiro, e assinado pelo especialista em soldagem Nelson Augusto Damásio, foram constatadas 46 irregularidades nas obras da Linha 4. Naquele momento o técnico chegou a alertar para novos desmoronamentos em função da qualidade inadequada das soldas na estrutura metálica que sustenta as paredes da futura Estação Pinheiros (conhecido como “bacalhaus”). “Existe perigo de novos desmoronamentos”, já teria dito Damásio, que acrescentou “a obra de uma segunda estação, a Fradique Coutinho, pode ocasionar acidentes de proporções irreversíveis”. Dito e feito. Mesmo com um laudo técnico em mãos, o Consórcio seguiu em frente com as obras e na quarta-feira, 8, justamente na futura Estação Fradique Coutinho, um buraco de dois metros se abriu. De acordo com Roberto Vergueiro, dono de uma loja de automóveis que funciona em frente ao local, um motoqueiro quase caiu quando o buraco apareceu. "Um colega meu viu quando o asfalto cedeu, a moto quase voou. Ele teve de se segurar", conta. Descaso e protesto Diante de todos estes fatos, o diretor de contratos do Consórcio Via Amarela, Márcio Pellegrini, minimizou os novos problemas na construção da Linha 4 nesta quarta e deixou bem claro que o tatuzão vai seguir funcionando 24 horas até a futura Estação Oscar Freire. Enquanto que o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) promete o laudo oficial das causas do acidente de 12 de janeiro para o início de 2008, um ano após a tragédia, os engenheiros seguem culpando a natureza pelos problemas das obras. "Choveu, há galerias de água antigas, redes de esgoto e o solo é areia pura. Para nós, é um problema. A Rua dos Pinheiros é podre", justificou como motivo do buraco desta quarta o engenheiro do Consórcio Via Amarela, Carlos Henrique Maia. Para protestar contra o descaso do Governo Serra e do Consórcio, os moradores da região, o Sindicato dos Metroviários de São Paulo e a Federação Nacional dos Metroviários farão um protesto neste sábado, 11, às 15h, em frente à futura Estação Pinheiros. Além de alertar para o perigo constante em que as obras se transformaram, eles denunciarão o acordo draconiano que o Consórcio significa para o Estado. “Segundo o contrato as empresas privadas entrariam com 27% e o governo com 73% dos investimentos. Porém, as empresas investirão no máximo 15%, enquanto que o governo arcará com outros 85% restantes, tendo praticamente zero participação nos lucros futuros. Para os trabalhadores essa postura de Serra é de total entrega do patrimônio público aos interesses privados”, disse Flavio Godoy, presidente do Sindicato dos Metroviários. Os manifestantes também prestarão solidariedade às vítimas das tragédias aéreas que aconteceram na cidade neste ano, como no caso do acidente da Gol e da TAM. Abaixo segue o levantamento feito pelos órgãos de imprensa e pelo Sindicato dos Metroviários dos principais acidentes ocorridos desde março de 2005 nas obras da Linha 4-Amarela. 1º acidente 16/03/05: Três operários ficaram feridos após explosão no canteiro de obras da estação Butantã, provocada pela detonação de uma espoleta para implosão de rochas. 2º acidente 21/11/05: Um vazamento de gás paralisa as obras da estação Fradique Coutinho. O problema foi causado por uma escavadeira que danificou a tubulação da Companhia de Gás do Estado de São Paulo (Comgás). 3º acidente 02/12/05: Um funcionário que trabalhava na estação Vila Sônia foi atingido por uma barra de ferro e caiu em um poço de cerca de 27 metros. A vítima quebrou uma perna. 4º acidente 03/12/05: Uma casa afundou e a edícula de outra desabou por causa de uma infiltração de água nas escavações do Metrô entre as estações Faria Lima e Pinheiros. Outras três residências foram interditadas por medida de segurança. 5º acidente 06/12/05: A parede de uma loja na avenida Cásper Líbero, próximo à estação Luz caiu durante a demolição de um prédio vizinho, que dará lugar à estação. 6º acidente 15/01/06: Cabos telefônicos foram atingidos quando técnicos que trabalhavam nas obras do Metrô faziam a medição do nível de água no subsolo próximo a estação Oscar Freire. Cerca de quatro mil casas ficaram sem telefone por três dias. 7º acidente 19/04/06: Uma fissura encontrada na parede de um túnel do Metrô provocou a interdição de oito casas na rua João Elias Saad, próximo à futura estação Oscar Freire. 8º acidente 03/05/06: Um corsa quase caiu em um buraco de aproximadamente 35 metros de profundidade aberto no canteiro de obras do Metrô próximo a estação Oscar Freire, depois de ser atingido por uma picape. 9º acidente 27/06/06: Um operário que trabalhava na obra da estação Fradique Coutinho foi atingido por um deslizamento de terra. Ele ficou parcialmente soterrado e foi levado ao Hospital das Clínicas com ferimentos leves. 10º acidente 04/10/06: O operário José Alves de Souza morreu soterrado depois de um desmoronamento em um túnel de 25 metros de profundidade na estação Oscar Freire. Outro operário sofreu escoriações e foi levado ao Hospital das Clínicas. 11º acidente 12/01/07: Uma cratera sem precedentes na história da engenharia brasileira abriu-se nos canteiros de obras da futura Estação Pinheiros, deixando sete pessoas mortas e 55 casas interditadas. Também foram retiradas do local 132 pessoas. Mais de 500 trabalhadores foram mobilizados para na remoção dos escombros e atendimento às vítimas. 12º acidente 08/08/07: Parte do asfalto no trecho entre as ruas Mateus Grou e Mourato Coelho cedeu, abrindo um buraco de cerca de dois metros de diâmetro e dois metros de profundidade. Ninguém ficou ferido, mas o trânsito já complicado na região piorou ainda mais com a interdição da rua por pelo menos uma semana. Vermelho