Os limites do debate e o que ele pode revelar

Encontros como o realizado ontem (1) no SBT elucidam menos do que pretendem, mas apontam para os rumos que cada campanha pode tomar.

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Encontros como o realizado ontem (1) no SBT elucidam menos do que pretendem, mas apontam para os rumos que cada campanha pode tomar Por Glauco Faria Muitas pessoas pedem a substituição do horário eleitoral gratuito por debates, já que estes forçariam embates entre os candidatos, despidos dos efeitos especiais e do marketing dos programas. O problema é que as regras dos embates, em geral, e a postura das direções de campanha fazem com que mesmo os candidatos menores tenham diretrizes específicas e utilizem oportunidades de perguntar a um adversário como escada pra falar do seu tema predileto. Sim, isso aconteceu em boa parte do debate do SBT de hoje à noite. Um dos momentos em que isso se tornou visível foi em um dos principais confrontos da noite entre Dilma e Marina. A candidata à reeleição perguntou sobre o fato de a candidata do PSB não priorizar o pré-sal e Marina simplesmente não respondeu a pergunta, tangenciando e atacando a gestão da Petrobras. Na réplica, foi a vez de Dilma ignorar a não-resposta, insistindo no tema e, na tréplica, Marina voltou à estatal. Um não diálogo. O encontro entre a petista e a pessebista se repetiu outras quatro vezes, com perguntas recíprocas e mais dois jornalistas fazendo perguntas para uma, com comentário da outra. O cenário foi desolador para Aécio Neves, que teve oportunidade de confrontar Dilma duas vezes, seu alvo principal. Em cada resposta do tucano havia críticas ao atual governo, refletindo um nítido esforço para recuperar o voto anti-PT perdido para Marina. Apesar de Levy Fidelix ter reclamado do jornalista Kennedy Alencar, coube a ele, como no debate anterior, fazer uma tabelinha com o tucano para atacar a presidenta. Constrangedor para os dois. O tucano foi, assim como no outro encontro promovido pela Band, aquele que apresentou maior eloquência ao falar, mas foi quase burocrático em suas intervenções. Quando fez uma questão sobre segurança pública para Dilma, não só deixou a adversária ter a última palavra a respeito do assunto como foi “pautado” pela petista, que aproveitou o espaço para falar a respeito de mobilidade urbana e listar investimentos feitos em obras de Minas Gerais e outros locais governados pelo PSDB. Aécio simplesmente esqueceu da própria questão e embarcou no tema proposto pela rival. Marina e a economia Ao contrário do debate da Band, quando os jornalistas do grupo se preocuparam mais em mostrar todas as posições editoriais (conservadoras) dos patrões, as perguntas feitas hoje pelos profissionais de imprensa permitiram o confronto, com temas que forçavam o embate. A essa altura, a decepção foi a questão feita a Aécio sobre corrupção. Embora apoiadores do PSDB tenham reclamado do questionamento, a pergunta foi muito similar a que William Bonner já havia feito ao candidato no Jornal Nacional, o que possibilitou que o tucano também desse a mesma resposta. Marina viu-se várias vezes às voltas com a economia, tema que utilizou para perguntar e atacar Dilma. Vacilou em alguns momentos e mostrou insegurança quando tocou em pontos específicos como, por exemplo, a questão da autonomia do Banco Central. “Nós defendemos sim a autonomia do Banco Central porque este governo, com a atitude que tem tomado, com políticas erráticas, tem feito com que a autonomia de fato fosse completamente depreciada, por isso precisa institucionalizá-lo.” Em suma, a explicação da pessebista é que o Banco Central tem que ser autônomo porque ele não tem autonomia... Marina também fez uma distinção entre o governo FHC e Lula no que diz respeito aos avanços de cada período quando respondeu à candidata do PSOL Luciana Genro, que a afrontou: “Tu és a segunda via do PSDB?”. A pessebista disse: “Vamos manter sim as conquistas da política econômica do governo do Fernando Henrique, as conquistas da política social do presidente Lula”. Ao fazer essa divisão, identifica o governo tucano com a estabilidade econômica, mas se esquece do período de alta inflacionária (12,53%) no último ano de seu segundo mandato e daquela que era a principal preocupação dos brasileiros, o desemprego. É possível combinar os dois tipos de conquista citados pela candidata com um modelo econômico nos moldes do vigente àquela época? Mas foi Dilma quem teve que responder sobre a situação econômica quase o tempo todo. Nesse aspecto, foi criticada por todos os seus adversários, mas manteve a linha de contextualizar a existência de uma crise internacional. “Eu considero que a nossa diferença é que nós não enfrentamos a crise nem desempregando nem arrochando salários e acredito que criamos as bases para um novo ciclo”, afirmou. Trata-se da mesma linha argumentativa apresentada no horário eleitoral, contrastando com o noticiário recente que apontou queda do PIB no segundo trimestre. Ainda que os efeitos não sejam sentidos diretamente pelas pessoas, causam apreensão em relação ao que pode vir. Se os apoiadores do governo centram no medo calcado pela volta ao passado, os opositores fazem algo similar, propagando o medo em relação ao futuro.