Candidatos mudam declaração de cor para eleição de 2020 de olho em cota e voto negro

Até agora, 21 mil trocaram raça em relação ao informado em 2016 com pressão por representatividade e nova regra para distribuição de recursos de campanha

Foto: Nelson Jr./ ASICS/TSE
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Entre os candidatos a prefeito e vereador que concorreram nas eleições municipais de 2016 e disputam novamente neste ano, pelo menos 21 mil mudou a declaração de raça em relação ao informado no último pleito. O levantamento foi realizado pelo jornal Folha de S.Paulo, com base nos registros disponibilizados até agora pela Justiça Eleitoral.

O contingente é apenas 8% das 260 mil candidaturas que constavam no sistema até a última quinta-geira (24), mas os números devem aumentar, uma vez que as inscrições ainda estão sendo acrescentadas. Do contingente que disputou a eleição de 2016 e concorre novamente em novembro deste ano, os 21 mil que mudaram de cor representam 26% ou um em cada quatro candidatos.

A tendência é identificada em um momento em que os partidos têm sido pressionados a ampliar a participação de negros. Além da maior cobrança na sociedade, especialistas em eleições já destacaram o aumento de pessoas que se reconhecem como pretas e pardas com a maior visibilidade de movimentos contra o racismo e as legendas estão interessadas nestes votos.

A alteração da declaração de cor também está relacionada com a fixação de cotas na distribuição dos recursos de campanha proporcional à quantidade de candidatos negros. Aprovada pelo Tribunal Superior Eleitoral para 2022, a medida deve ser aplicada já nas eleições deste ano. Neste mês, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, concedeu liminar favorável, mas o caso ainda será analisado pelo plenário do STF.

A criação da cota financeira para negros nas campanhas apresentas brechas que foram alvo de discussão. A principal é a subjetividade da autodeclaração de cor e raça, o que abriria espaço para candidatos burlarem a regra.