"Nunca imaginei que sofreria censura em 2021", diz Juremir Machado, demitido do Correio do Povo

Desligado do jornal gaúcho, jornalista contou ao Fórum Onze e Meia como o espaço de liberdade foi diminuindo aos poucos após o veículo se "bolsonarizar": "Fazia como na época da ditadura"

Jornalista Juremir Machado. (Foto: Reprodução/Youtube)
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Demitido pelo jornal Correio do Povo após 14 anos escrevendo diariamente para o veículo, o jornalista Juremir Machado afirmou, em entrevista ao Fórum Onze e Meia nesta quinta-feira (13), que "nunca imaginava que seria vítima da censura em 2021".

Segundo o professor, que foi desligado em agosto de 2020 da Rádio Guaíba, que pertence também ao Grupo Record, o espaço de liberdade foi diminuindo aos poucos desde 2019, quando os veículos se "bolsonarizaram". "A censura pegou e eu fui uma das vítimas em duas etapas. Primeiro, fui demitido da Rádio Guaíba e pouco mais de um ano depois do jornal Correio do Povo", relatou Juremir.

O jornalista contou que o espaço se tornou tão "rarefeito" que, para não se incomodar, fazia como na época da Ditadura Militar no Brasil: publicava poesias no lugar de opiniões em sua coluna. "Todos os dias tinha problema ou censura, e daqui a pouco não podia nada. Passei mais de um ano sob pressão, e a gente acaba até na autocensura", disse.

De acordo com Machado, sua “queda” na Rádio Guaíba, começou quando o impediram de entrevistar o ex-presidente Lula (PT) 10 minutos antes de começar o programa que comandava, o Esfera Pública.

"Marquei uma entrevista com o ex-presidente Lula e 10 minutos antes de entrar, com ele já plugado, em frente ao computador, veio a ordem de derrubar. Uma entrevista com um ex-presidente, depois da prisão, a primeira do Rio Grande do Sul depois da prisão, com expectativa de repercussão nacional", desabafou.

O escritor contou, ainda, que a partir daí houve uma escalada de censura. O professor Lenio Streck, por exemplo, que frequentemente ia ao programa, foi impedido de participar, assim como Rui Vicente Oppermann, o reitor mais votado para assumir a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 2020, mas que não tomou posse por interferência do presidente Jair Bolsonaro (PL), que escolheu Carlos Bulhões Mendes, o menos votado.

Esfera Pública já entrevistou Lula

Machado disse, no entanto, que nem sempre houve atentados à liberdade de expressão. Pouco antes de Lula ser preso, em 2018, o ex-presidente foi entrevistado com exclusividade pelo Esfera Pública durante sua caravana em São Miguel das Missões (RS). "Na época podia, mas virou e o espaço foi se estreitando", afirmou o professor.

Juremir ressaltou, ainda, que a Rede Globo deveria ter "a grandeza jornalística" de ouvir Lula, principalmente porque, ao que tudo indica, ele ganhará as eleições de 2022. "A Globo vai fazer o que? Se opor por princípio ao presidente? Todo mundo sabe que os governos do Lula não tiveram nada de fascista, não atentaram contra a liberdade de expressão, foram anos de liberdade de expressão plena", pontuou.

Assista ao programa na íntegra:

https://www.youtube.com/watch?v=8e9bVPHDXEw