Censura: Moro apoia inquérito contra punks por cartazes anti-Bolsonaro

Os organizadores de um evento punk chamado Facada Fest serão investigados por supostos crimes contra a honra de Bolsonaro e de apologia ao homicídio

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Moro apoiou a abertura de inquérito contra quatro membros de um coletivo de rock de Belém. Os organizadores de um evento punk chamado Facada Fest serão investigados por supostos crimes contra a honra de Bolsonaro e de apologia ao homicídio.

De acordo com a Folha de São Paulo, membros de bandas como THC, Delinquentes, Filhux Ezkrotuz, além de produtores do evento, foram interrogado nesta quinta (27), pela Polícia Federal.

A investigação acontece por causa dos cartazes de divulgação do festival, que acontece desde 2017.

Em uma das artes, Bozo aparece empalado por um lápis. Em outra, o Bolsonaro aparece vomitando marrom, com um bigode de Hitler, uma cueca com a bandeira americana e uma arma em punho. Outro mostra Bolsonaro esfaqueado na cabeça.

O despacho pedindo a abertura de investigação diz que nos cartazes e posts das redes do coletivo há “elementos que indicam a prática, em tese, de crime contra a honra do Sr. Presidente da República”.

Sobre um dos cartezes, o do Bozo empalado por um lápis, Moro aponta “clara apologia ao atentado criminoso sofrido por Jair Messias Bolsonaro durante a campanha eleitoral, que quase tirou a sua vida”.

“A gente estava no meio do desmonte da Educação, de problemas com os ministros  Vélez e Weintraub”, diz Paulo Victor Magno, que criou as artes. “Por isso me deram essa ideia de fazer o lápis, que representa a educação, derrotando essa palhaçada. É por isso que é um palhaço, porque representa essa ignorância.”

O ilustrador afirma que não há apologia ao homicídio em suas artes.. “Não tem nada ver com apologia ao crime ter feito uma coisa tão caricata daquele jeito, né? Não tem incitação de matar ninguém. Não passamos a ideia de fuzilar oposição”, diz ele, em possível referência ao episódio em que Bolsonaro fala em "metralhar a petralhada".

O coletivo Facada usa esse nome desde 2017, quando foi criado. Bolsonaro foi vítima da facada durante a campanha de 2018. As coisas obviamente não estão relacionadas.

“Queríamos algo simples e roqueiro”, contou Josy Lobato, baterista das bandas Klitores Kaos e THC, fundadora do coletivo e autora do nome Facada. “Não é algo que incite violência. É o meio do rock, do metal, um tipo de comunicação que não leva em consideração essa moral cristã.”

O despacho faz parte de uma disputa entre o coletivo paraense e a militância bolsonarista. No ano passado, Carluxo protestou contra uma das imagens em sua conta no Twitter.

“Tá valendo tudo nesse país da putaria da esquerda. Está na hora de agir antes que seja tarde, porque eles já mostraram ao que vieram e não têm mais vergonha alguma de esconder isso”, escreveu ele sobre o Bozo empalado.

“Foi um deputado aqui do Pará, o ex-delegado de polícia, Éder Mauro [do PSD], que compartilhou o cartaz na rede social dele”, conta Josy Lobato, baterista das bandas Klitores Kaos e THC, e integrante fundadora do coletivo.

O Facada deveria acontecer em julho do ano passado —com grupos como Delinquentes, Makina, Surto e Ovo Goro—, mas foi cancelado. Por causa da repercussão do tuíte de Carluxo, os organizadores acharam que o encontro pudesse gerar confusão com bolsominions, já que estava marcado para acontecer em lugar público —em frente ao Mercado de São Brás, uma região abandonada de Belém.

Remarcado para um estabelecimento fechado, O Facada Fest não aconteceu de novo. “Meia hora antes de começar, chegou a polícia. Foram conversar com os donos do estabelecimento e constataram que estava vencido um dos alvarás”, diz Josy.

O novo cancelamento abrupto levou a uma comoção tanto entre parlamentares de esquerda quanto em movimentos sociais da cidade, que passaram a apoiar o Facada. A terceira edição do evento, enfim, foi realizada dois meses depois da data original.

Após as censuras, a repercussão foi tanta que outras cidades quiseram também realizar o festival. Até hoje, o Facada Fest já aconteceu em Campinas, Curitiba, Belo Horizonte e Marabá.

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