Com Aécio presidente, a liberdade de imprensa de Minas será o padrão do Brasil?

Nessa noite de quarta-feira (22), o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo reuniu profissionais da área de comunicação e sindicalistas para discutir os 12 anos de governo do PSDB em Minas Gerais, que todos os participantes concordaram ter sido “um regime de ditadura em pleno estado democrático”

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Nessa noite de quarta-feira (22), o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo reuniu profissionais da área de comunicação e sindicalistas para discutir os 12 anos de governo do PSDB em Minas Gerais, que todos os participantes concordaram ter sido “um regime de ditadura em pleno estado democrático” Por Vinicius Gomes Censura aos jornalistas. Perseguição a sindicalistas. Nepotismo e “choques de gestão”. Esse foi o retrato dos 12 anos de governo tucano em Minas Gerais feito por participantes de um encontro realizado nesta quarta-feira (22), no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP). Jornalistas e sindicalistas discutiram o que foi a gestão tucana no estado, que todos concordaram em ter sido “um regime de ditadura em pleno estado democrático” em relação à imprensa. A mediação da conversa foi do jornalista Altamiro Borges e o primeiro a usar da palavra foi o presidente o presidente do SJSP, José Augusto Camargo, o Guto, afirmando que, se servia de consolo aos jornalistas mineiros, a perseguição a eles não era exclusividade do estado, "mas muito comum nos governo do PSDB”. O Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, que na semana passada lançou um “Alerta ao Povo Brasileiro”, esteve representado por seu presidente Kerison Lopes para contar aos presentes como foram os 12 anos de governo tucano na área da liberdade de imprensa e de expressão. Ele afirmou que, antes de Aécio assumir o governo do estado em 2003, Minas Gerais tinha como governador o ex-presidente Itamar Franco e, apesar de não gostar de críticas como figura pública, ele nunca falhou com seu compromisso democrático no que tangia à liberdade dos jornalistas de exercerem plenamente sua profissão. “Isso mudou com a chegada de Aécio Neves”, relata Lopes. Afinal, os jornalistas continuaram seu trabalho de escrever e criticar abertamente o governo estadual da mesma maneira que faziam com Itamar Franco, mas que nos dois primeiros anos de governo tucano, um reinado de terror se abateu sobre os profissionais da categoria, com inúmeras demissões de qualquer um que escrevesse algo que a administração Neves não considerasse adequado. “Bastava escrever alguma crítica, não precisava nem ser denúncia, só desagradar [o governo] que a Andrea Neves mandava demitir”, conta Kerison. Andrea Neves é a irmã de Aécio Neves que durante toda a gestão do caçula foi a chefe de Comunicações de seu governo. Segundo Kerison, nessa época a censura ocorria de maneira direta, quando a irmã do governador se tornou uma das pessoas mais temidas em Minas Gerais, ganhando a alcunha de Andrea “Mãos-de-Tesoura”. “Pois ela mandava cortar tanto matérias jornalísticas como cabeças”. Além disso, os jornalistas demitidos ficavam marcados em Minas, não conseguindo arrumar emprego em nenhum outro veículo, forçando-os a mudarem de estado. O resultado disso, diz Kerison, foi a segunda fase do cerceamento da imprensa: a autocensura, pois todos os jornalistas receavam em escrever algo que poderia lhes custar o emprego. De tal maneira, que todas essas notícias sobre Aécio Neves vindo agora a público em âmbito nacional – como denúncias de nepotismo, os aeroporto es o primo ligado ao tráfico de drogas –, já eram conhecidas pelos jornalistas mineiros há muito tempo, mas nem que chegassem a escrever tais matérias, elas nunca seriam publicadas. “Por isso a internet foi fundamental para mostrar tudo isso que foi vetado”, argumenta Kerison. Todavia, nem mesmo a internet saiu ilesa do hábito de perseguição de Aécio Neves. Os casos são notórios: processos contra o Facebook, Google e o Twitter. Neste último, o escritório que representa Aécio, a Opice Blum, tentou descobrir os dados cadastrais de 66 contas do Twitter, entre eles do jornalista Kiko Nogueira, editor do Diário do Centro do Mundo (DCM), que produziu o documentário “Helicoca – o helicóptero de 50 milhões de reais” contando o caso de apreensão de um helicóptero com 450 kg de pasta de cocaína no Espírito Santo. Esse helicóptero era de propriedade de uma empresa do senador Zezé Perrella (PSD-MG), aliado e amigo pessoal de Aécio Neves. Tal documentário também foi, obviamente, censurado. O método adotado foi alegar violação de direito autoral para que o vídeo fosse retirado do ar. Acontece que o responsável pelo pedido, uma pessoa chamada Jorge Scalvini, não existe. É um perfil fake da internet. “O YouTube acata imediatamente qualquer reivindicação de direito autoral”, explica Nogueira. “Então o vídeo só pode voltar ao ar com autorização do tal ‘Jorge Scalvini’”. Esse autoritarismo digno de reis absolutistas de séculos passados é, segundo Beatriz Cerqueira, coordenadora-geral do SindUTE (Sindicato dos Trabalhadores na Educação e da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais), “a forma de Aécio de governar”. A professora e sindicalista afirma que sua categoria é a que mais sofre com o erroneamente exaltado “choque de gestão” dos anos do tucanato no governo do estado. “A pior remuneração do estado é a da educação”.  Os supostos números positivos da educação em Minas Gerais sob o governo tucano também não correspondem à verdade, de acordo com a sindicalista. “Falta 1 milhão de vagas para alunos do Ensino Médio, apenas 35% de crianças têm acesso à alguma vaga na Educação Infantil”, afirma Beatriz, que ainda conta sobre uma escola operando dentro de um posto de gasolina e até mesmo em um motel desativado. Para ela, a chegada do tucano ao segundo turno das eleições de 2014 foi habilmente construída por Aécio Neves e seus aliados desde 2003, com sua hegemonia em Minas Gerais sendo muito bem articulada por meio do cerceamento da imprensa e do controle dentro das instituições do estado. “O Tribunal de Contas do Estado sempre aprovou as contas do estado, a maioria [aliada] na Assembleia Legislativa é vergonhosa, conseguindo abortar 12 CPIs contra Aécio, com o Tribunal de Justiça de Minas Gerais se alinhando ao governo do estado e havendo cooptação no movimento sindical mineiro”, enumera Beatriz, explicando em seguida que daí vem o mito de 92% de aprovação do tucano no estado mineiro. De acordo com todos os presentes, a vitória de Fernando Pimentel (PT) ainda no primeiro turno para o governo de Minas Gerais foi importantíssima para mostrar ao Brasil o que de fato todos no estado já conheciam. Foto de Capa: Cadu Bazilevski | Legenda: Guto (ao microfone) abre o debate junto com Kiko, Kerison, Miro e Beatriz.