Conduta de relator indica que ele deve pedir cassação de Temer

O voto é sigiloso, mas a conduta do ministro Herman Benjamin, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), bem como as perguntas que fez aos delatores da Odebrecht, dão a entender que ele deverá pedir a cassação da chapa Dilma Rousseff e Michel Temer em 2014.

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O voto é sigiloso, mas a conduta do ministro Herman Benjamin, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), bem como as perguntas que fez aos delatores da Odebrecht, dão a entender que ele deverá pedir a cassação da chapa Dilma Rousseff e Michel Temer. Da Redação* O voto é sigiloso, mas a conduta do ministro Herman Benjamin, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), bem como as perguntas que fez aos delatores da Odebrecht, dão a entender que ele deverá pedir a cassação da chapa Dilma Rousseff e Michel Temer. O primeiro ponto abordado com insistência por ele trata do uso de R$ 50 milhões em propina na campanha, fruto, segundo os delatores, de contrapartida pela aprovação da medida provisória 470, apelidada de Refis da Crise, em 2009. O dinheiro, de acordo com a delação, acabou não sendo utilizado na campanha de 2010, ficando como "crédito" para as eleições de 2014. O segundo tema é o pagamento de R$ 25 milhões, via caixa 2, para "comprar" (termo usado nos relatos) o apoio de partidos à chapa Dilma-Temer e aumentar o espaço de propaganda na televisão. O terceiro assunto perseguido pelo relator nos depoimentos diz respeito a gastos não declarados de ao menos R$ 16 milhões com o marqueteiro João Santana, que trabalhou na campanha. Os depoentes que mais trataram dos temas foram Marcelo Odebrecht, ex-presidente e herdeiro do grupo, Alexandrino Alencar, ex-diretor de Relações Institucionais, Hilberto Mascarenhas, ex-diretor do departamento de operações estruturadas da empresa, conhecido como o setor de propinas, e Fernando Migliaccio, ex-funcionário da mesma área. Para entender o processo de aprovação da MP 470, Benjamin fez ao menos 25 perguntas somente a Marcelo Odebrecht. No diálogo, o ministro questiona: "Os R$ 50 milhões não saíram em 2010?". O executivo responde que não é novamente acionado: "Ficou o crédito?". Em seguida, o relator faz perguntas sobre de que forma o governo teria dado contrapartida ao grupo. O ministro do TSE deixa claro que, além de querer saber se o dinheiro foi ou não utilizado em 2014, também quer esclarecer se trata-se de caixa 2 "puro", uma doação não contabilizada, ou se foi um ato de corrupção, quando envolve promessa ou ato em troca de uma vantagem indevida. Durante as audiências,o ministro expôs seu entendimento sobre a diferença. "Porque tecnicamente, só para orientar o depoimento, eu nem sei se o senhor terá informações sobre isso, caixa 2 não está necessariamente vinculada à propina no sentido de: olha, eu vou lhe dar um benefício que não é muito lícito, mas, em contrapartida, eu espero uma contribuição. Isso é propina", disse o relator. COMPRA DE ALIADOS Sobre a compra de partidos para que a coligação tivesse mais tempo na televisão, Benjamin indagou ao menos 29 vezes Alexandrino Alencar, o responsável pela negociação de R$ 21 milhões com três siglas (PC do B, Pros e PR) em menos de uma hora de oitiva. Esse foi basicamente o único tema explorado com o ex-executivo. Além desses partidos, o PDT, segundo a Odebrecht, recebeu R$ 4 milhões pelo mesmo esquema. "Em outras palavras, segundo o que o senhor disse, só com a compra de tempo de três partidos e, portanto, de caixa 2, esse valor já superava a contribuição oficial? Não é isso?", disse Benjamin. Os partidos negam a acusação e afirmam que apoiaram a chapa Dilma-Temer por questões ideológicas. Os três pontos destacados dizem respeito apenas aos depoimentos de delatores da Odebrecht – os últimos a serem chamados. A Folha teve acesso às transcrições na última semana. O processo, porém, começou em 2014, logo depois da eleição. Cerca de 50 pessoas foram ouvidas ao longo desses dois anos. Nesta segunda (24), ele entregou o relatório final do caso ao tribunal, abrindo caminho para o início do julgamento da ação. *com informações da Folha