Conflito pelo ouro na Cordilheira Central

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Cajamarca, Colômbia - Em uma área protegida da Cordilheira Central da Colômbia, chocam-se planos de exploração aurífera com o interesse de agricultores, ativistas e autoridades ambientais em preservar florestas e recursos hídricos. Um movimento formado por 25 organizações não governamentais internacionais, nacionais e locais reclama do Estado o fim das tarefas de exploração por parte da multinacional de mineração AngloGold Ashanti, com sede na África do Sul. A companhia, que trabalha na região desde 2006, espera a autorização para concluir as explorações de uma jazida no município de Cajamarca, Departamento de Tolima, enclavado na Reserva Florestal Central.

A Lei Segunda de 1959 demarcou esta reserva com o fim de garantir a proteção de uma faixa de 1,5 milhão de hectares que vai de norte a sul no centro-oeste da Colômbia, passando por dez Departamentos, entre eles Tolima. Nesta área se encontram recursos auríferos importantes, como a chamada estrela hídrica do Tolima, uma área de 160 nascentes de água, e a Bacia do Rio Coello, bem com os ecossistemas que os sustentam: planícies, florestas de neve e regiões florestais protetoras e produtoras, segundo a Corporação Autônoma Regional do Tolima (Cortolima), máxima autoridade ambiental do Departamento.

Na última década, a empresa obteve autorizações para explorar 27 sítios do Tolima, 15 na zona rural de Cajamarca, outorgadas pelo Instituto Colombiano de Geologia e Mineração do Ministério de Minas e Energia. Em 2006, descobriu a jazida. Em dezembro de 2007, a corporação anunciou que a riqueza explorada em La Colosa – inicialmente estimada em 12,3 milhões de onças de ouro – a convertiam em uma das dez maiores minas de ouro do mundo. Em janeiro de 2008, a companhia contratou 400 trabalhadores e intensificou a exploração, tomando amostras de água e terra por meio de 74 perfurações de “até 700 metros de profundidade”, disse ao Terramérica o ativista Evelio Campos, coordenador da organização não governamental Ecoterra de Cajamarca.

Em fevereiro desse ano, a diretora da Cortolima, Carmen Sofia Bonilla, pediu a intervenção do Ministério do Meio Ambiente, Habitação e Desenvolvimento Territorial para que ordenasse a suspensão do projeto. Por lei, o Ministério deve conceder uma autorização para as atividades produtivas em áreas protegidas, chamado “subtração de área”, que consiste em delimitar um terreno onde não haja nada além de pastos e mato para trabalhos básicos que não afetem as espécies protegidas, explicou Bonilla. Essa permissão não foi solicitada pela empresa, por isso a petição de Bonilla foi aceita.

“Em fevereiro de 2008, foram suspensos os trabalhos por ordem do Ministério”, disse ao Terramérica a estudante de Economia Cristian Frasser, da Universidade de Tolima e membro da não governamental Consciência Ambiental. Entretanto, em maio deste ano, a companhia formalizou um pedido para operar em 515 hectares, a fim de alcançar a viabilidade econômica e ambiental do projeto, e o Ministério do Meio Ambiente a concedeu apenas para uma área de 6,4 hectares. A contratação de trabalhadores diminuiu para não mais do que 30, mas é impossível obter dados precisos porque a informação sobre o projeto está restrita e o acesso à mina permanece guardado pelo Exército.

La Colosa fica a 5,5 quilômetros em linha reta do centro urbano de Cajamarca, e 35 quilômetros a oeste de Ibagué, capital do Departamento. Em Cajamarca vivem cerca de 25 mil pessoas, a maioria camponeses. Uns poucos se dedicam ao comércio, instalado em torno da praça central do centro urbano, passagem obrigatória entre o centro e o leste do país, por sua proximidade com a Estrada Panamericana. A zona rural é de aproximadamente 500 quilômetros quadrados e inclui todos os pisos térmicos da montanha, onde prosperam, segundo as temperaturas, cultivos de café, frutas e hortaliças como a batata baroa (Arracacia xanthorriza), ou mandioquinha, um tubérculo apto para solos frios. Esse desenvolvimento agrícola corre perigo se as autoridades derem luz verde à atividade mineradora, afirmam os críticos do projeto.

À campanha contra La Colosa somaram-se a organização católica Pax Christi Holanda e parlamentares de diferentes tendências políticas, a Procuradoria Geral da Nação e o procurador ambiental e agrário de Ibagué, Diego Alvarado. Em uma audiência pública realizada em fevereiro, Alvarado afirmou que “o ouro de La Colosa está espalhado nas rochas, em concentrações de poucas gramas por tonelada, o que exige uma exploração intensiva e a céu aberto, com graves prejuízos para a região”.

Esse modo de produção consiste em extrair enormes quantidades de rocha, que devem ser submetidas a um processo químico conhecido como lixiviação, que precipita o ouro, separando-o dos demais minerais. “Para a lixiviação se usa cianureto, por isso é impossível acreditar que esta atividade seja compatível com o uso do solo em áreas de reserva florestal, se o cianureto contaminar a água do subsolo”, disse Alvarado. Um estudo feito pelo norte-americano especialista em Hidrologia, Roberto Moran, contratado pela Pax Christi, estima que será preciso “um metro cúbico de água por segundo por tonelada de mineral processado” para lavar o ouro.

“Se consideram processar entre 20 e 30 milhões de toneladas de mineral por ano, significará entre 630 e 950 milhões de metros cúbicos de água por ano, ou entre nove e 24 trilhões de metros cúbicos durante a vida da mina, calculada entre 15 e 25 anos”, disse Moran em seu informe. Esse consumo acabaria com a água que alimenta “o aqueduto dos cultivos, com 400 quilômetros de canais que regam arroz, sorgo e algodão no centro e sul do Departamento, e que abastece cinco aquedutos municipais”, disse ao Terramérica a ativista Paola Robayo, estudante de Engenharia Florestal na Universidade de Tolima.

As autoridades deveriam decidir entre suspender a autorização para exploração, e, assim, acabar com a ideia de exploração futura, ou mudar a denominação da reserva florestal de modo a permitir intervenção na área sem restrição. “Sabemos da influência da AngloGold Ashanti em países de alta corrupção como a Colômbia, por isso não estranharemos se acabarem mudando a legislação”, disse o ativista Campos. No mês passado, o presidente da filial na Colômbia, Rafael Hertz, disse à imprensa que em julho será informada a decisão do Ministério.

Enquanto isso, a empresa realiza na região investimentos de caráter social. “Pintam casas, pavimentam ruas e fazem doações a escolas e colégios”, acrescentou campos. Também patrocinou o Festival Folclórico de Ibagué, que acontece durante duas semanas no mês de junho. Paradoxalmente, essa festa popular serviu de âmbito para que os críticos distribuíssem folhetos e expusessem cartazes contra La Colosa.

Com informações da IPS/Envolverde.