Confrontos com a polícia escondem ação de milícias no Rio de Janeiro

Confrontos entre polícia e tráfico deixam vítimas em diferentes regiões do Rio de Janeiro. Milícias apavoram ainda mais os moradores

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Confrontos entre polícia e tráfico deixam vítimas em diferentes regiões do Rio de Janeiro. Milícias apavoram ainda mais os moradores Por Anselmo Massad Um menino de 10 anos foi baleado na manhã de terça-feira, 4, em uma ação da Polícia Civil no Complexo de Lins, na zona norte do Rio de Janeiro. Ele está internado em estado grave, mas estável, no Hospital Marcílio Dias. O tiroteio teria ocorrido em um confronto entre traficantes e policiais da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC). Na segunda-feira, 3, operação da Polícia Civil na favela do Fumacê, em Realengo (zona oeste do Rio), deixou sete pessoas mortas. Os confrontos entre policiais e traficantes escondem um outro lado da crise de segurança pública no Rio de Janeiro. Nos complexo de Lins e da Cachoeirinha, segundo a Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência, ataques de milícias formadas por policiais ocorrem paralelamente às ações policiais. Maurício Campos, da Frente de Luta Popular e da Rede, denuncia que essas quadrilhas de policiais atuam com a conivência de comerciantes ou lideranças locais. Diferentemente da ação oficial, as milícias se comportam como verdadeiras quadrilhas ocupando regiões onde o tráfico é menos presente. Além disso, não acontece repressão a áreas em que há milícias e algumas ocupações desses grupos foram iniciadas logo depois de intervenções oficiais das corporações contra o tráfico, o que desperta a acusação de ações combinadas. Os milicianos passam a controlar o acesso a ligações clandestinas de TV a cabo (os gatos), atividades como caça-níqueis, além de cobrar pedágio sobre a circulação e mensalidade dos moradores. Essas atividades eram, antes, controladas por integrantes do tráfico. A Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro nega a ação combinada, mas não descarta a participação de policiais. Campos cita uma reunião do movimento com o ex-comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), tenente-coronel Mário Sergio de Brito Duarte, atualmente deslocado para o setor de inteligência no estado. “Perguntamos por que a polícia trata de modo diferente traficantes de milicianos”, relata o ativista. “Ele disse que os traficantes reagiam às operações, e os milicianos não. Mas isso não é resposta, então ele garantiu que, com trabalho de inteligência, os membros das milícias eram ‘pegos no quartel’, reconhecendo que são policiais”, garante. Campos ainda questiona por que a polícia não emprega os tais mecanismos de inteligência para prender traficantes sem as incursões que resultam, com freqüência, em mortes de inocentes e execuções sumárias de acusados de tráfico. Na comunidade Marcílio Dias, na Penha, zona norte do Rio, algumas lideranças da estão no programa de proteção de testemunhas por terem denunciado quatro policiais integrantes das milícias em fevereiro deste ano. Os acusados foram presos à época, e liberados no início de setembro. “O inquérito aponta que a milícia causou mais de 200 mortes no Rio”, lamenta Campos. Depois das prisões, grupos de traficantes teriam promovido ação para retomar a área, mas a polícia agiu, no que a Rede considera uma “ajuda” aos milicianos. Um muro chegou a ser construído, além das outras práticas ilegais, mas nenhuma operação oficial foi realizada. Leia mais:Medo limita denúncia de arbitrariedadesChegada de milícias é troca do ruim pelo muito pior