Contradições dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas ficam evidentes com a proximidade do evento

Segundo ativistas, gastos na realização do evento seriam uma incoerência num momento em que a Funai tem a sua estrutura comprometida pelo corte de verbas e redução no quadro de funcionários

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Segundo ativistas, gastos na realização do evento seriam uma incoerência num momento em que a Funai  tem a sua estrutura comprometida pelo corte de verbas e redução no quadro de funcionários

Por Agência Pulsar

Sob criticas de organizações indigenistas e protesto de etnias, os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMPI) começam na próxima sexta-feira (23) na cidade de Palmas, em Tocantins. Ao todo serão nove dias de competição que reunirá cerca de cinco mil atletas de 30 países.

Esta é a primeira edição internacional do evento e conta com modalidades esportivas tradicionais, como por exemplo, tiros com arco e flecha, corrida com tora e corrida de velocidade. Além das atividades nativas, haverá também provas que seguem o estilo ocidental, é o caso do futebol de campo, atletismo e natação.

Contudo, a proposta de integração dos indígenas de diversas partes do mundo tem levantado o debate sobre as condições em que as etnias vivem no território nacional.

O Conselho Indigenista Missionário (CIMI), organização que luta pela população indígena no país, ressalta que  entidades importantes como a Fundação Nacional do Índio (Funai), que trabalha pelo direito das etnias, não foi convidada para participar do evento.

O CIMI destaca ainda a contrariedade de um evento voltado para os povos tradicionais que tem na sua base de organização parlamentares  historicamente conhecidos pela defesa de políticas anti-indigenistas, como a Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Katia Abreu  (PMDB).

Outro ponto que ainda não foi esclarecido pela organização do evento, em especial pelos irmãos Marcos e Carlos Terena, que estão a frente dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, foi o critério utilizado para a escolha das etnias participantes que deixou de fora várias tribos do próprio Tocantins, gerando, em alguns casos, conflitos internos entre as aldeias.

As contradições trazidas com os Jogos não param por ai. O movimento indígena questiona também o total de investimento para a realização dos Jogos, orçado em 150 milhões de reais, no qual o governo federal aplicou aproximadamente   25 milhões de reais. Segundo os ativistas, é uma incoerência este gasto num momento em que a Funai  tem a sua estrutura comprometida pelo corte de verbas e redução no quadrquestão indígenao de funcionários.

A implicações por trás do megaevento fizeram com que dois  povos do Tocantins recusassem o convite da organização. No mês passado, o povo Kraô entregou uma carta aos organizadores dos Jogos questionando o financiamento do governo aos JMPI ao mesmo tempo que promove o genocídio dos Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul.

Em apoio aos Kraô, o povo Apinajé também se retirou dos Jogos Mundiais Indígenas. No manifesto, a etnia declarou que ‘não irá participar de um evento de caráter midiático e sensacionalista que tem por finalidade usar imagem dos povos indígenas para distorcer os fatos e mentir no exterior; ocultando a verdadeira realidade e o sofrimento dos povos indígenas do Brasil.

Ao longo de toda a semana a Pulsar Brasil realizará uma cobertura especial sobre os bastidores dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas. Acompanhe pelo nosso site. (pulsar).

Foto de capa: Marcelo Camargo/Agência Brasil