Cooperativa adocica economia solidária

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A oferta de doces é diversificada, ao gosto do freguês. Tem de leite, banana, ameixa, mamão, queijo e até de batata. "Mas o segredo da nossa receita está mesmo é na solidariedade", ensina dona Maria Izabel dos Santos (foto), uma das 45 integrantes da Cooperdoce, empreendimento organizado na comunidade da Cabrita, em São Cristóvão, município da Grande Aracaju. Formalizada há apenas um ano, a Cooperdoce recebeu apoio da Universidade Federal de Sergipe (UFS) para se fortalecer. A iniciativa integra o Programa Nacional de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (Proninc), que realiza Seminário Nacional de Acompanhamento até hoje, 26, em Brasília.

Dona Maria é uma das convidadas do evento. Como ela mesma diz, sua vida mudou depois desta história de economia solidária. "Está sendo muito importante para mim como pessoa e também pro meu grupo. Tenho aprendido muito. Hoje, aqui, eu prestei atenção numa coisa: alguém falou que o dinheiro repassado para as incubadoras pertencem ao povo e que não pode ser disperdiçado. Ou seja, eu vi que esses recursos são mesmo um direito da gente", diz, ainda entusiasmada com o discurso de horas atrás. "O grupo do qual a Maria Izabel faz parte é bem atuante, nós aprendemos bastante com eles também", afirma Maria da Conceição Vasconcelos, coordenadora da Incubadora Tecnológica de Empreendimentos Econômicos Solidários da UFS, que acompanha o seminário.

Instituída em 2002, atualmente a incubadora acompanha 12 grupos produtivos dos segmentos de alimentação, artesanato, confecção e resíduos sólidos. De acordo com Conceição, as principais dificuldades encontradas para a sustentabilidade dos empreendimentos estão relacionadas às finanças solidárias e ao escoamento da produção. "Como geralmente os trabalhadores incubados têm baixo poder aquisitivo, inevitavelmente esbarramos na falta de capital de giro", justifica a professora. Na avaliação dela, a competitividade acirrada do mercado capitalista também fecha muitas portas. "Falta espaço para mostrar e vender os produtos da economia solidária" observa.

Conceição aponta o acesso ao crédito como o outro grande desafio a ser vencido. "Uma maneira que encontramos para driblar este obstáculo é inscrever propostas para os grupos em seleções públicas de projetos. A Fundação do Banco do Brasil e o próprio Proninc têm sido grandes parceiros nesse sentido". A professora faz questão de reforçar que a finalidade da incubação é a emancipação técnica e econômica dos empreendimentos e explica que o tempo para alcançar esse patamar varia muito. "Trabalhamos com uma média de três anos, mas depende do estágio em que o grupo está quando chega até a gente. Algumas vezes eles já têm uma estrutura de funcionamento e só precisam resolver problemas de gestão. Noutras, estão apenas começando".

Incubada desde o início de 2007, a Cooperdoce avançou rápido. Hoje, o empreendimento funciona num imóvel arrendado, equipado com fogões, geladeiras, mesas, cadeiras e utensílios. "Foi tudo reformado e pintado de branco. O uniforme que a gente usa também é branco. Não tem nada de fumaceira de fogão a lenha. Está tudo nos trinques", conta dona Maria, satisfeita com a vida. "Não tenho do que reclamar. Eu criei meus oito filhos sozinha, foram 25 anos fazendo doces e queimando a barriga no fogão para dar o melhor para eles. Eu fazia os doces na minha casa e depois ia até Aracaju vender de porta em porta", recorda.

Animada, dona Maria não se deixa abater nem quando pensa nas contas a vencer. "Nossa cooperativa ainda não está dando lucro. Estamos trabalhando para pagar as contas. Mas vamos dar duro pras coisas melhorarem", planeja. Por enquanto, a renda de dona Maria tem sido garantida pela venda dos doces em feiras informais, já que o grupo ainda não tem aval para funcionar no ramo alimentício. Mas, pelas contas de Conceição, dentro de três meses a Cooperdoce deve receber a autorização da vigilância sanitária e o negócio estará pronto para entrar no mercado. "O grupo mesmo está indo atrás de pontos de venda, buscando parcerias com os comerciantes e supermercados", destaca.

Sonho compartilhado - Segundo dona Maria, a Cooperdoce é resultado da persistência de uma cooperada. "Há mais de 20 anos a Santaninha (Tânia Santos) batalha por isso. Ela vivia indo atrás de apoio, tinha esse sonho de trabalhar num grupo por conta própria. Ela tanto fez que acabou dando certo". Liderança dentro da comunidade, Santaninha costumava participar de muitos seminários e conferências em busca de informações sobre políticas públicas e ações sociais. Num destes eventos, ficou sabendo sobre o apoio dado pelas universidades aos grupos da economia solidária. "Esta Santaninha é uma danada. Foi ela quem procurou a nossa incubadora e já chegou cheia de idéias sobre uma cooperativa de doces", conta Conceição.

Na universidade, os trabalhadores da Cooperdoce participaram de cursos sobre temas como higiene, produção de quitutes, gestão e cooperativismo. "A gente atua com o objetivo de formalizar os empreendimentos, melhorar a qualidade dos produtos e trabalhar a formação teórica", explica Conceição, acrescentando que a assessoria técnica é contínua nesse processo e que todos os assuntos são amplamente discutidos entre incubados e incubadores. Na prática, a autogestão tem mostrado também os seus dissabores. "As pessoas são muito diferentes. Quando um quer assim, outro quer assado. No final das contas, quem resolve é a maioria. Mas é uma briga boa. Tanta gente fazendo guerra por aí e a gente fazendo doce", diverte-se dona Maria.

Programação 

Mais de 180 universitários, gestores públicos, pesquisadores e trabalhadores da economia solidária participam do seminário do Proninc. A programação inclui debates sobre estratégias para garantir a sustentabilidade das incubadoras, a difusão de metodologias, a apropriação de conhecimentos pelos trabalhadores e a criação de novos cursos e disciplinas voltados para o segmento. Com encerramento previsto para as 18h de hoje, o evento é realizado desde ontem, 25,  no Hotel Grand Bittar (SHS, Quadra 5, Bloco A), na capital federal.

Proninc 

Criado em 1998, atualmente o Proninc é coordenado pela Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego (Senaes/MTE) e financia a ação das incubadoras. Os outros gestores do Programa são os ministérios do Turismo, do Desenvolvimento Social, da Justiça, da Ciência e Tecnologia, da Educação, da Cultura, a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca, a Fundação e o Banco do Brasil e o Comitê de Entidades no Combate à Fome pela Vida (Coep).

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