A Coreia do Sul tem um novo presidente. De esquerda. O que podemos esperar dele?

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Novo mandatário não deve realizar grandes mudanças econômicas, mas traz expectativas democráticas Por Vinicius Sartorato*, colaborador da Rede Fórum de Jornalismo Localizado no leste asiático, a Coreia do Sul é uma república presidencialista, com um parlamento unicameral e que conta com uma população de 50 milhões (2015) de pessoas. Conhecido como um dos "tigres asiáticos", o país destaca-se pela posição geopolítica controversa, com conflito com norte - que segue com um armistício (desde 1953). Lembrado também pelo desenvolvimento socioeconômico que atingiu, é um dos países mais ricos do continente asiático, sendo um dos maiores exportadores de bens do mundo, com empresas famosas como Samsung, Kia, LG e Hyundai. Para se ter uma ideia, as exportações representam 45,9% do PIB total do país. Apesar de viver certa estabilidade econômica e uma perspectiva de crescimento em 2017, os escândalos acumulados após uma década dominada por políticos conservadores levaram a presidente, Park Geun-Hye, ao impeachment (dezembro 2016). Envolvida em casos de corrupção, a presidente deposta mostrou ao mundo o quanto o país ainda sofre com o tema da corrupção (Transparência Internacional 2016). Considerada ainda uma "democracia incompleta" (The Economist 2016), distante dos níveis das democracias europeias, um dos temas principais é justamente a Lei de Segurança Nacional, de 1948, um dos principais instrumentos da censura das ditaduras que assolaram o país - da 1ª a 5ª República (1948-87). Tal lei é considerada abusiva, atrasada e autoritária por especialistas que condenam a criminalização da liberdade de expressão e organização, em especial de opositores do governo. Neste quadro, a eleição presidencial debateu, além dos casos de corrupção e o conflito com o norte, a democratização do país e temas comportamentais, como a homofobia. O presidente recém-eleito no último domingo, 9/5, Moon Jae-In, do Partido Democrata, tem um perfil de centro-esquerda. Ex-advogado da área de Direitos Humanos, conquistou o 1º lugar com uma diferença considerável para os outros candidatos. Moon conquistou 40, 08%, enquanto o 2º colocado, Hung Jun-Pyo, do partido conservador, conquistou 24,03%. Em resumo, o novo mandatário não deve realizar grandes mudanças econômicas e traz grandes expectativas democráticas – em termos de liberdades e anti-corrupção. Desde a democratização do país em 1987, o partido conservador hegemonizou o poder. Com a derrota do partido na eleição parlamentar (abril 2016) e com o impeachment da presidente Park (dezembro 2016), abriu-se a possibilidade de um novo ciclo de democratização do país, bem como um novo tempo, com uma nova política de aproximação com o norte – fator contraditório em relação aos EUA. Vinicius Sartorato é sociólogo, mestre em Políticas de Trabalho e Globalização (Universidade de Kassel, Alemanha) Foto: Reprodução/YouTube