Crise econômica e meio ambiente

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Quando o Conselho Internacional (CI) decidiu realizar a 9ª edição do FSM em Belém, o mundo estava ainda sob o impacto dos dados divulgados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que apontavam o inevitável aquecimento global e a necessidade de um desenvolvimento sustentável. A Amazônia seria o melhor cenário para discutir a crise climática. No segundo semestre de 2008, a crise financeira, logo transformada em enorme crise econômica global, colocou mais lenha na fogueira da discussão sobre o modelo de desenvolvimento. Ficara ainda mais claro, como vinha defendendo o Fórum desde 2001, que não se tratava apenas de uma crise ambiental, mas de uma profunda crise do sistema, e, para além dele, de uma crise civilizatória.
A crise econômica, que surgiu nos países centrais do neoliberalismo, em 2008, deu razão ao FSM. Alertas haviam sido dados muito tempo antes da existência do próprio Fórum em relação às consequências do modelo de desenvolvimento vigente: riscos ao meio ambiente, à paz, aumento da miséria e da fome. O quadro forneceu mais argumentos à crítica que o Fórum já vinha fazendo ao modelo de desenvolvimento neoliberal.
Em Davos, neste ano, houve muito pessimismo: só se falou de “irresponsabilidade”, de “protecionismo”, da necessidade de mais “transparência” e de “refundação do capitalismo”. Como sempre, “o fórum das elites econômicas e políticas” de Davos, expressão utilizada pelo jornal The Washington Post no dia 26 de janeiro de 2009, preocupou-se apenas com seus interesses particulares. Ao contrário do Fórum de Belém, terminou sem nenhuma proposta alternativa à crise econômica. A conclusão foi assim resumida pelo principal colunista do Financial Times, Martin Wolf: “Todos sabemos que nada sabemos”.
Alguns esperavam que Davos, que sempre defendeu o dogma de que não havia outro mundo possível que não fosse o mundo neoliberal, voltasse atrás diante do fracasso de suas teses e fizesse a sua necessária autocrítica. Ao contrário, não apresentou nenhuma resposta à crise e nem reconheceu, como era de se esperar, que estava errado.
Em relação ao FSM, o pessimismo ficou por conta de alguns poucos, como o deputado Fernando Gabeira, que na Folha de S. Paulo (30 de janeiro de 2009) se perguntava: “Se houver outro mundo, ou, mais modestamente, um mundo melhor, dependerá mesmo de fóruns como esses?” Se ele tivesse participado do Fórum de Belém não teria essa dúvida. Em 2001, os céticos já haviam profetizado o fim do movimento altermundista. Chamaram o FSM de movimento retrógrado. Quem esteve em Belém constatou a extraordinária vitalidade, atualidade e capacidade do FSM de se reinventar e de responder aos desafios do presente. O impacto do Fórum aumentou. Quem agora está em crise é o Fórum de Davos e seus dogmas econômicos que caíram por terra.
A crise econômica deu mais relevância ao tema do desenvolvimento sustentável. Ele ganhou novo interesse e grande atualidade. Nesse contexto, não é de se estranhar que tivesse tido, nessa edição, a repercussão que teve. De certa forma, esse tema resume o debate das crises atuais. Há dois anos, quando iniciamos a preparação deste Fórum, pensávamos que essa edição seria dominada pela crise climática. A crise energética e a financeira deram um outro conteúdo ao tema da Amazônia. De certa forma, nele convergiram todas as grandes crises atuais: a crise social, cujo resultado é a pobreza e a exclusão; a crise de alimentos, agravada com a crise da água; a crise do efeito estufa, acelerada pelo aquecimento global.
Entre as alternativas de desenvolvimento sustentável ganhou mais espaço, nesse Fórum, a economia solidária, com suas numerosas iniciativas coletivas, projetos e empreendimentos. Ela pode ser uma das formas de superação da crise econômica. Por princípio, ela se apoia no desenvolvimento sustentável e no respeito aos direitos das pessoas. A economia solidária incorporou a sustentabilidade socioambiental como dimensão de uma nova cultura do desenvolvimento chamada, na tradição indígena, de “bem viver”.
A crise que vivemos hoje não é apenas econômica. É a crise do nosso próprio modo de produzir e reproduzir nossa existência no planeta. Os movimentos sociais e ONGs, a sociedade civil global, no espaço do Fórum, vão ter muito trabalho para construir esse outro mundo possível. Hoje, os poderosos, os senhores da guerra, que ridicularizaram ontem, arrogantemente, os militantes do FSM, não o fazem mais com a mesma desenvoltura. O Fórum estava certo, mas não basta estar certo para mudar o mundo. É preciso muito mais.
No próximo número falaremos da comunicação e da mídia livre no contexto do FSM. F