Crônica Mendes: "A cultura da periferia está ocupando o centro"

O rapper é mais um dos convidados que faz parte do seminário “A Periferia no Centro: cultura, narrativas e disputas”, organizado pela revista Fórum, na próxima sexta-feira (14). Confira a entrevista

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O rapper é mais um dos convidados que faz parte do seminário  “A Periferia no Centro: cultura, narrativas e disputas”, organizado pela revista Fórum, na próxima sexta-feira (14). Confira a entrevista  Por Ivan Longo  Natural da Bahia, Crônica Mendes já passou pelas periferias de Brasília, interior de São Paulo e capital. Falar da cultura periférica é, portanto, uma tarefa fácil para o rapper que, atualmente, realiza trabalhos de cunho social, levando rap para escolas do extremo sul de São Paulo. Esse envolvimento com as comunidades e suas culturas será exposto pelo rapper em sua participação no seminário “A Periferia no Centro: cultura, narrativas e disputas”, que será realizado nesta sexta-feira (14) no Museu de Arte Moderna (MAM). Crônica participará da última mesa do evento, que tem como tema a cultura e a disputa de espaços na periferia.  Para participar do seminário, assim como saber mais informações sobre a programação, entre no site. Confira, abaixo, a entrevista que Crônica Mendes deu à Fórum, adiantando um pouco alguns pontos que serão debatidos no seminário. Fórum - Você acredita que a cultura da periferia vem ganhando espaço fora das periferias? Crônica Mendes - Acredito que sim. Vem ganhando mais espaço, só que ainda em um ritmo lento. Acho que a gente já está mais do que preparado para acelerar esse ritmo. Na medida em que isso vai acontecendo, a cultura da periferia está ocupando o centro, mas isso tem que acontecer como uma extensão e não como abandono. Muitas vezes esses caras que fazem essa cultura de periferia, que está indo pro centro, abandonam um pouco a periferia, acabam deixando de lado a raiz. Acho super positivo ocuparmos o centro e levarmos nossa cultura, pois temos direito ao centro. Só que isso tem que ser feito como uma extensão. Ocupar o centro, em momento algum, significa abandonar a periferia. Fórum - Nesse sentido, portanto, qual a importância da sociedade discutir a cultura da periferia? Mendes - Acho que é tomar pertencimento. Por mais que a gente desenvolva a cultura de periferia, por mais que a gente saiba dessa ebulição, temos que tomar pertencimento dela e também entender como é importante consumir a cultura de um modo geral. Não é por que somos de periferia que devemos consumir só cultura da periferia. Hoje, temos na perifa a literatura em abundância, o rap, o funk, o teatro... Então é importante ter esse pertencimento, saber que aquilo é nosso e está sendo feito por gente nossa. Mas quando a gente tem a oportunidade de consumir uma cultura do centro, uma peça de teatro feita pelo pessoal que não é de periferia, é importante também. Acho que a gente , por ser periférico, não tem que ser limitado a cultura de periferia. Somos brasileiros e o Brasil é um país culturalmente rico demais. Quanto mais a gente tomar pertencimento da nossa cultura, melhor. Seja ela cultura de periferia ou não. Além disso, a gente também sofre um bombardeio muito grande de uma cultura americanizada nas periferias. O importante é debater essas questões: o pertencimento da cultura de periferia mas também que a gente não deve se sentir isolado, sentir que já  está bom... Temos que consumir o que vem do centro, o que vem do Nordeste. Assim nos tornamos um pouco mais brasileiros. Fórum - A cultura da periferia é rica e abrange vários âmbitos: música, literatura, arte, dança... Como é a disputa de espaços dessas frentes dentro das comunidades? Há diferenças entre as periferias de outras regiões do país? Mendes - A palavra disputa é meio forte para o que está acontecendo nas periferias. Ela coloca sempre um vencedor e um perdedor. O que vem acontecendo é uma efervescência, estamos vivendo nossa “primavera poética”. A gente está com grandes células culturais nas periferias. Sejam elas do hip-hop, do funk, do teatro, da literatura... E essas células estão  se multiplicando cada vez mais e o importante é que estão dialogando bem. Hoje em dia a gente dialoga muito bem com o hip hop, a periferia respira literatura. A gente vê rappers nos saraus recitando suas letras, vê funkeiros, vê em show de rap intervenções teatrais... A gente vê nas atividades que tenho feito nas escolas no extremo sul, que são atividades direcionadas ao hip hop, mas com o pessoal do funk, da dança de rua. Então, a periferia está dialogando muito bem culturalmente com todas as suas vertentes e isso só tende a crescer. E em relação às diferenças entre as periferias da capital paulista, do interior ou de Brasília, elas existem, sim. Por exemplo, a questão da literatura e do teatro, nas periferias de Brasília, está chegando agora, está começando a aquecer. Mas o bom é que ela já está acontecendo e seguindo o mesmo diálogo que existe em São Paulo. No interior é a mesma coisa, tudo isso dentro de periferias que antes só consumiam o rap e o funk, que é o mais tradicional. Hoje temos uma série de escritores da periferia escrevendo sobre nós e a periferia está consumindo mais isso. Consequentemente, o hip hop, como é uma musica de periferia, dificilmente não manteria o diálogo com todas as vertentes culturais que estão em ebulição nas periferias no Brasil. Foto: divulgação