Daniel Ortega quer a reeleição

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O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, aproveitou o ato público de comemoração dos 30 anos da Revolução Popular Sandinista para anunciar, diante de 50 mil pessoas, sua intenção de modificar a Constituição por meio de um plebiscito para permitir a reeleição nos cargos executivos. Pela legislação atual, presidente, prefeitos e vereadores não podem concorrer a uma nova eleição (o país não tem governadores).

Os deputados, que vão tomar a decisão de convocação ou não do referendo, não têm essa restrição. Para levar adiante seu projeto, Ortega necessita do apoio de 2/3 dos 90 votos do congresso unicameral nicaraguense. Falta muito pouco. O partido do presidente, a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), fez uma aliança com o Partido Liberal Constitucionalista e agora resta conquistar apenas três deputados.

Pelo jeito como se faz política no país, a reeleição pode estar muito próxima. Os conflitos políticos, que desembocam não raramente em violência, acontecem na mesma proporção das reaproximações e conchavos entre inimigos históricos. No ato de ontem (19), por exemplo, no mesmo palanque de Ortega, estava ninguém menos do que Edén Pastora, que ficou conhecido mundialmente em 1978 ao liderar a ocupação do Palácio Nacional, sede do congresso nicaraguense na época do ditador Anastácio Somoza. O comandante Zero, seu nome de guerra, é uma personalidade típica das novelas do realismo fantástico latino-americano. Logo depois do triunfo revolucionário, assumiu um cargo de direção no exército e, meses depois, desapareceu misteriosamente. Deixou no ar a ideia de que ia lutar em outros países, numa tentativa, quem sabe, de reeditar o místico guerrilheiro Chê Guevara.

Algum tempo depois, Pastora reaparece à frente de um grupo armado na Costa Rica...para lutar contra os próprios sandinistas. Não deu certo e após duas fracassadas tentativas de chegar à presidência com um discurso agressivo contra Ortega e a FSLN, lá estava o "comandante Zero" no palanque. O mesmo aconteceu dom Miguel Obando y Bravo, ex-cardeal de Manágua e um duro crítico do sandinismo no primeiro período da revolução e responsável pela expulsão da Igreja de sacerdotes e religiosas progressistas. Em 2006, abençoou a candidatura de Ortega que, por sua vez, tem retribuído com um recorrente discurso no qual reivindica a inspiração de Deus para governar.

A impressão é, que diferentemente do que ocorreu em Honduras, o presidente sandinista não terá dificuldade em aprovar a medida. O exército da Nicarágua nasceu da luta revolucionária e tampouco será obstáculo. Resta saber o que dirá o povo. Em 1990, contra todas as expectativas, Daniel Ortega perdeu a eleição para a candidata da oposição, Violeta Chamorro. As urnas guardam muitos mistérios.