De um professor para Beto Richa: as tuas desculpas não aliviam a nossa dor!

Infelizmente não vimos da parte do senhor um gesto de arrependimento, quando no dia seguinte ao massacre, em uma atitude de demonstração de força e às pressas assinou a Lei que alterou o plano de custeio da PRprevidência. As marcas de sangue ainda corriam pela praça. O silêncio do governador nos longos dias que antecederam o tal pedido de desculpas falou por si só

Escrito en NOTÍCIAS el
Infelizmente não vimos da parte do senhor um gesto de arrependimento, quando no dia seguinte ao massacre, em uma atitude de demonstração de força e às pressas assinou a Lei que alterou o plano de custeio da PRprevidência. As marcas de sangue ainda corriam pela praça. O silêncio do governador nos longos dias que antecederam o tal pedido de desculpas falou por si só Por Luiz Carlos Paixão da Rocha – Professor Paixão*, em Adital Ontem à noite, um pouco antes de completarem os dez dias do massacre que nós educadores (professores e funcionários de escolas) e servidores públicos sofremos na praça pública em frente ao Palácio Iguaçu, o senhor governador Beto Richa foi até a mídia anunciar solenemente um pedido de desculpas pelo fato ocorrido. Aparentemente um gesto de grandeza. Assumir e reconhecer erros é uma atitude para pessoas nobres. No entanto, o tal pedido ocorreu praticamente dez dias após o massacre. E nestes dias, com a dor na alma acompanhamos uma tentativa desvairada do seu governo de culpabilizar o movimento -através de um enredo vexatório – a fim de se desresponsabilizar de qualquer culpa. Primeiro tentaram transformar alguns indefesos estudantes e professores em black blocs. A convicção do governo era tanta nesta história que carrinho de pamonha virou depósito das bombas, groselha virou sangue e uma solução à base de vinagre virou bomba caseira. Até parece, o que chamamos na literatura, de realismo fantástico. Mas tirando um pouco a ironia, com o fracasso da estratégia, a narrativa governamental começou a tentar jogar a culpa nos já pressionados policiais que, com certeza, muitos destes devem ter vivido um dos piores dias de suas vidas. Muitos foram obrigados a bater nos professores dos seus próprios filhos. Creio que alguns se viram em algum momento atacando a si próprios. Quantos daqueles e daquelas não devem ter na família companheiras (os), irmãos (as), mães, tias ou algum familiar que exerce a profissão de educar? O ex-secretário da segurança pública, com a conivência do governador, foi à imprensa acusar o Comando da Polícia. E se não fosse a reação do próprio comando, possivelmente Franscichini ainda estaria no cargo. A omissão do senhor governador, do secretário da Casa Civil, da segurança pública e do próprio presidente da Assembleia Legislativa Ademar Traiano no momento da tragédia é uma coisa assustadora. Aliás, foram mais de duas horas de bombardeio em cima dos educadores e servidores públicos. Não havia confronto. Bastava uma ordem do Senhor para que o massacre não continuasse. Ficaram surdos aos seguidos e inúmeros apelos. Sinceramente nunca vi tanta insensibilidade. Talvez a expressão que mais retrate esta insensibilidade foi a do Ademar Traiano, quando disse: "Aqui não tem bomba, vamos votar!” Ou ainda uma fala do seu secretário Sciarra, captada por uma testemunha em um dos andares da Assembleia Legislativa: "Mete bomba!” Como é triste lembrar de uma pessoa gritando no caminhão de som: "Por favor, pare com as bombas para que possamos buscar os nossos feridos”. Não tivemos nenhuma trégua! Até parece que o governo sofreu de uma catarse coletiva, cujo ataque aos manifestantes fosse um ato de purificação. Lamentável, no mínimo lamentável. Nós educadores e servidores públicos agradecemos em muito as forças espirituais superiores por não termos tido nenhuma morte naquele dia. Infelizmente não vimos da parte do senhor um gesto de arrependimento, quando no dia seguinte ao massacre, em uma atitude de demonstração de força e às pressas assinou a Lei que alterou o plano de custeio da PRprevidência. As marcas de sangue ainda corriam pela praça. O silêncio do governador nos longos dias que antecederam o tal pedido de desculpas falou por si só. Confortados por este silêncio, a equipe governamental se apressava em apagar as suas culpas e insanamente achar outros culpados. Nestes quase dez dias que antecederam o pedido de desculpas do governador, o nosso único alento foi a solidariedade e o apoio que recebemos de milhares de pessoas do Paraná, do Brasil e do mundo. Esta solidariedade aliviou sim, a nossa dor. Seremos eternamente gratos. Em relação ao pedido de desculpas mesmo que tardio do senhor Governador, não tenho muito o que falar. A dor ainda é muito grande. Fomos atacados e agredidos pelos três poderes do Estado. Foi uma sintonia fina constituída para nos atacar. Não vejo que o senhor seja uma pessoa má intencionada ou de má índole. Não acredito nisto. No entanto o senhor tem responsabilidade na tragédia ocorrida. Espero que o pedido de desculpas (até para que sai do campo da pieguice) seja materializado em ações concretas, como a punição de todos os responsáveis pelo que ocorreu, a revisão das alterações na Previdência, e no mínimo o respeito às leis que tratam das condições de trabalho e de salário dos educadores e servidores públicos do Paraná. Isto seria um começo. Do mais, vamos seguir a nossa luta árdua e às vezes até inglória em defesa de uma educação pública de qualidade. Uma luta histórica feita já por muitos que não estão mais no nosso meio. Sigamos a luta, pois as bombas não vão nos calar! *Mestre em Educação e professor da rede estadual de educação do Paraná. Foto: Orlando Kissner/ Fotos Públicas