Demitidos da Servatis processam empresa e dizem que má gestão pode causar novos acidentes

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A Servatis, empresa do ramo agroquímico instalada no Rio de Janeiro, na cidade de Resende, tornou-se, desde o dia 18 de novembro de 2008, um turbilhão de polêmicas. Naquela data, o vazamento do agrotóxico endusolfan – proibido na União Europeia e outros 20 países – para o rio Pirapetinga, mudou o cotidiano das comunidades locais. Com a contaminação, os moradores da região tiveram o consumo de água e peixes severamente prejudicados pelo efeito do agente poluidor.

Agora, além dos problemas ambientais, há complicações de outras origens. Ações judiciais, relacionadas à questões trabalhistas e morais, estão sendo movidas contra a empresa. E o mais curioso: por acionistas.

Em 2005, a Servatis assumiu um quadro de funcionários que havia sido demitido da multinacional alemã Basf, criando-se um modelo societário de cooperativa (Sociedade Anônima Laboral) onde, teoricamente, os trabalhadores são proprietários da indústria. Eram 151 “trabalhadores acionistas”, numa sociedade anônima de capital fechado, financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) e pelo banco Real (que hoje pertence ao grupo espanhol Santander).

No entanto, a partir de dezembro de 2008, demissões passaram a ocorrer, incluídos os acionistas. Mais de 70 pessoas foram dispensadas. Harlei Monteiro e Arturo Couto Tuffanelli, que ocupavam, respectivamente, os cargos de engenheiro químico e gerente de desenvolvimento e tecnologia, estão entre aqueles que movem ações jurídicas contra a empresa. A cooperativa, que deveria ter cunho social, evitando extinção de postos de trabalho, implantou um sistema de “cotas societárias’, que não preveem o pagamento de garantias trabalhistas.

Harlei requer direitos referentes a quatro anos de trabalho, como férias vencidas, horas extras e periculosidade. Já o caso de Arturo é mais contundente, pois inclui ação por danos morais. Ele afirma que foi coagido, pressionado a pedir demissão, no dia 8 de janeiro deste ano.

“Os motivos para nossas demissões são claros. O presidente da Servatis, Ulrich Meier, quer concentrar poder, decidir tudo sozinho. Então, o que ele fez? Numa assembleia, forçou a aprovação de uma cláusula que transforma as ações ordinárias em preferenciais. Só que as ordinárias têm poder de votos, as preferenciais, não.”, diz Harlei, que foi demitido no dia 12 de dezembro de 2008. “Continuei com as ações ordinárias, com poder de voto, pois fui demitido antes da decisão. O Ulrich quis se livrar de todos que poderiam questioná-lo e votar contra ele. Você já viu um sócio ser demitido de uma empresa? Pois, na Servatis aconteceu. Ninguém ofereceu a compra das minhas cotas, simplesmente fui demitido”, afirma.

De acordo com o engenheiro químico, que tem 25 anos de carreira, a gestão da empresa é temerária, o que faz com que a Servatis não disponha de confiança e crédito no mercado. “Além do presidente desejar o controle total, ele faz uma gestão temerária. Demite e contrata do jeito que bem entende, toma decisões erradas. Hoje, só há um engenheiro químico com experiência na empresa, quando deveria haver, no mínimo, cinco. O Arturo, que é um homem com muito conhecimento na área, com 26 anos de atuação em várias regiões do pais, foi substituído por um francês que não possui nenhum conhecimento prático”, comenta.

Harlei ressalta, ainda, que existem trabalhadores acumulando funções, o que aumenta a probabilidade de novos acidentes: “tem operador que gerencia mais de uma área, corre para todos os lados. Isso, contando com o problema de falta de manutenção, que foi o que causou o acidente de 18 de novembro, mais a defasagem tecnológica, faz crescer a possibilidade de novos desastres ambientais”.

Aliás, de acordo com informações de Arturo e Harlei, um acidente ocorreu antes da contaminação pelo endusolfan. Em outubro do ano passado, uma explosão aconteceu no interior da fábrica, produzindo grande quantidade de fumaça tóxica. “A comunidade do entorno veio bater na porta da empresa e com razão. A fumaça era tóxica e mandou muita gente para o hospital. O responsável tomou uma decisão equivocada, inconsequente. O engraçado é que está lá até hoje. Só ficam na Servatis aqueles que compactuam com a má gestão do presidente “, menciona Harlei.

O papel do BNDES é questionado pelos demitidos. “Temos ações na Servatis. Não queremos que ela quebre, mas parece que é um caminho inevitável. Só que se essa cooperativa foi criada como ação de cunho social para manter empregos; se tem dinheiro público envolvido, onde está o BNDES? Por que não faz uma intervenção? Eu diria que isso é omissão, pois a ação social não existe, o presidente faz gestão em causa própria . É uma pessoa que nunca se sabe quando está dizendo a verdade. Tem uma frase, que ficou muito conhecida na empresa, em que ele diz que toda situação tem metade verdade e metade mentira. No caso do Ulrich, eu nunca vi a metade verdadeira”, conclui Harlei.

Em resposta à reportagem, a Servatis enviou uma nota oficial, por meio da assessoria de imprensa. Leia, abaixo, a íntegra do comunicado:
“A Servatis, por uma questão de política interna de Recursos Humanos, não comenta desligamentos e lamenta que seus ex-colaboradores tenham adotado a postura de tentar denegrir a imagem da empresa. A Servatis, dentro de seus princípios e valores, segue de forma plena a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) e a Legislação referente à Sociedades Anônimas e não possui qualquer tipo de passivo trabalhista. A empresa acredita que a Justiça é o campo adequado para dirimir quaisquer dúvidas”.

A assessoria do BNDES também se manisfestou sobre as declarações dos trabalhadores, declarando que a política da instituição, inicialmente, é de não interferir nas gestões das empresas que recebem empréstimos, mas que podem ser aplicadas penalidades caso o banco receba denúncias por parte de órgãos de fiscalização, como o Ministério do Trabalho.

Foto Paulo Fehlauer.

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