Democracia em Vertigem: Veja diz que "polarização ideológica" chega a Hollywood pela "ótica irreal do PT"

Na entrevista com Petra Costa, diretora do documentário, Veja pinça uma frase da cineasta para dar a manchete de que a filmagem do golpe - chamado de impeachemt pela revista - foi "uma experiência deprimente e única”

Capa e chamadas da Veja sobre Democracia em Vertigem (Montagem)
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Em reportagem de capa na edição que chega às bancas nesta sexta-feira (17), a revista Veja monta sua própria narrativa sobre a indicação de Democracia em Vertigem para o Oscar de Melhor Documentário e diz que "a indicação de Petra Costa e seu filme à estatueta de documentário leva o drama nacional aos holofotes em Hollywood — e pela óptica peculiar e irreal do PT". No texto, Veja chama de "tumulto natural de um impeachment" o processo que levou ao golpe parlamentar de Dilma Rousseff e diz que junto à "algaravia", os parlamentares "tinham de lidar com uma tensão adicional: a presença de equipes de documentaristas". "Mas quem se destacava era uma moça inquieta — e obsessiva: a cineasta mineira Petra Costa. Ela enlouquecia os políticos e até sua equipe com determinações como gravar na íntegra as sessões do impeachment. Petra contava com a simpatia explícita dos petistas e montou seu QG nos gabinetes dos então senadores Lindbergh Farias (RJ) e Gleisi Hoffmann (PR)", diz a Veja. Segundo a revista da família Civita, foi o lançamento do filme em 190 países que "provocou reações extremadas por aqui". "O enredo corrobora a versão, tão alardeada pelo partido, de que o impeachment “foi golpe”. No lado oposto ficaram aqueles que enxergaram no impeachment a libertação do país da corrupção sistêmica dos doze anos do PT, exposta pela Operação Lava-Jato. Para essa massa de brasileiros, Democracia em Vertigem é um exercício vitimista apoiado numa visão convenientemente ilusória dos fatos", afirma a revista, sem se incluir na "massa de brasileiros". Segundo a publicação, a indicação do filme ao Oscar seria um recado ao governo Jair Bolsonaro. "A simbologia política da indicação é óbvia. Para Hollywood, pouco importa o drama particular de Dilma. A chegada ao Oscar soa mais como recado ao governo de Jair Bolsonaro, que desagrada a celebridades do cinema com sua cruzada contra o ativismo ecológico na Amazônia e suas posições sobre a questão indígena". Petra Costa Na entrevista com Petra Costa, diretora do documentário, Veja pinça uma frase da cineasta para chamar no título que a filmagem do golpe foi "uma experiência deprimente e única”. "Fogos de artifício marcaram cada etapa do processo. A condução coercitiva de Lula, o dia 17 de abril, a posse de Temer e a eleição de Bolsonaro. Eles vinham anunciando o raiar de um velho dia. Neste ano novo, percebi quanto esse ruído havia me traumatizado. Eu nunca tinha entrado no Congresso Nacional. E de repente estava ali, assistindo em primeira mão aos bastidores de uma crise que mudou nosso destino. Foi uma experiência única. Deprimente e única", diz Petra, ao ser indagada sobre a experiência de "ver de perto o processo de impeachment da ex-presidente". A publicação ainda tenta, a todo custo, ligar a cineasta a Lula e ao PT, dizendo que a proximidade dela é atestada pelo fato de Lurian, filha do ex-presidente, ter vivido com sua família em Paris nos anos 90. "Até que ponto a intimidade com Lula abriu as portas?", pergunta Veja. "Eu só tinha 8 anos na época e não cheguei a conhecer o Lula, apenas o vi falar em público algumas vezes. Em 2016, escrevi uma carta em que pedia uma entrevista. Soube depois que ele nunca a leu. Passei 24 semanas insistindo para gravar até ele topar, depois de um dia em que fiquei dez horas plantada no instituto dele", respondeu Petra, explicando que a temporada em Paris se deu após a mãe perder a filha, Elena, então com 20 anos. "Nessa mesma época, ela tinha ficado sensibilizada com a exposição da Lurian, tão nova, na eleição de 1989, e a convidou para ir conosco. Minha mãe não era próxima do Lula, o convite foi feito por meio de uma amiga em comum. E ela topou".