Depois de Pazuello e Araújo, centrão pedirá a cabeça de Ricardo Salles

A crença de que a "gripezinha" estava no fim e que um céu de brigadeiro abrigaria uma economia que se encontra em aterrissagem desde o golpe de 2016 levou Bolsonaro a começar a ceder cabeças para manter a sua própria

Ernesto Araújo e Ricardo Salles (Foto: Arthur Max/AIG-MRE)
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Jair Bolsonaro (Sem partido), que passou quase três décadas no Congresso Nacional, esqueceu-se rapidamente de uma lição básica da relação - fisiológica - quando se entra em acordo (ou seria tentativa de compra?) com o centrão: ao oferecer os anéis, vão os dedos, os braços e tudo mais que for passivo da sanha da politicagem que rege o jogo no parlamento.

Ao comprar votos, num grande acordo, para eleger Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) no comando do Senado, Bolsonaro apostava todas as fichas de que estávamos no "finzinho" da pandemia e acreditou na lorota de Paulo Guedes sobre a propalada "retomada em V" da economia, o que garantiria apoio popular para segurar a negociata com o parlamento sem ceder mais ainda do que cedeu.

No entanto, quando o presidente é Bolsonaro, a ignorância não parece ter fim. A crença de que a "gripezinha" estava indo embora - não compartilhada por especialistas e nenhum brasileiro em sã consciência - e que um céu de brigadeiro abrigaria uma economia que se encontra em aterrissagem desde o golpe de 2016 levou Bolsonaro a começar a ceder cabeças para manter a sua própria.

Nesta segunda-feira (29), o último olavista raiz deve deixar o governo. Ernesto Araújo pede demissão do Itamaraty após levar o Brasil - que sempre teve uma diplomacia exemplar - à pária no cenário internacional.

A demissão acontece um fim de semana depois da oficialização da queda do general Eduardo Pazuello, que deixou um saldo de mais de 300 mil mortos pela pandemia.

A saída de Araújo, no entanto, não vai estancar a sangria que o centrão impõe ao governo Bolsonaro. O próximo alvo é Ricardo Salles, que já balançou no Ministério do Meio Ambiente em um outro contexto de relações do Planalto com o parlamento. Salles vai cair por motivos muito parecidos aos de Araújo, numa tentativa de limpar a barra do país no cenário internacional.

Depois dele, a cabeça do ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, que entregou os anéis e os dedos na relação com o parlamento, pode ser ceifada por pressão interna, do próprio governo. Pastor Milton Ribeiro, que é o que resta da pauta conservadora, virá a seguir.

E Bolsonaro vai ceder, não sem dor, a cada imposição do centrão para tentar chegar ao menos vivo até as eleições de 2022. Resta saber quem ainda estará com ele até lá.