"Se a gente quiser derrubar todas as árvores, a gente derruba", diz líder do Movimento Conservador Amazonas

Fala se deu durante audiência pública sobre a pavimentação da BR-319 onde o Prêmio Nobel da Paz e pesquisador do Inpa, Philip Fearnside, foi alvo de ataques xenófobos

Desmatamento da Amazônia (Foto: Arquivo/Imazon)Créditos: Reprodução
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Aconteceu na noite desta terça-feira (29) uma audiência pública para discutir o licenciamento ambiental para a pavimentação da BR-319.

O debate foi tenso e com direito a defesa de derrubada de "toda as árvores" da floresta amazônica e ataques xenófobos ao Prêmio Nobel da Paz, Philip Fearnside, que também é pesquisador do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia".

A pavimentação da BR-319 é uma das prioridades do governo Bolsonaro, pois, a rodovia entre Manaus e Porto Velho é única ligação terrestre entre a capital do Amazonas e o centro-sul do país.

Porém, a obra é alvo de crítica por parte dos ambientalistas, pois, enxergam na obra a viabilização de grilagem e o desmatamento de uma imensa área intocada da floresta.

O estadunidense e vencedor do Nobel da Paz, Philip Fearnside, criticou a obra na audiência e afirmou que o asfaltamento da BR-319 "não tem justificativa econômica e ameaça um imenso bloco de floresta responsável pela manutenção de vapor d'água para São Paulo, logo, o desmatamento da região vai diminuir as chuvas no Sudeste.

"Como é que pode vir um cara lá dos Estados Unidos aqui? Como é que pode o cara vir de lá dizer o que eu vou fazer na minha casa. Essa casa é nossa. Se a gente quiser derrubar todas as árvores, a gente derruba. É nossa", declarou Sérgio Kruke, bolsonarista e líder do Movimento Conservador Amazonas.

O pesquisador e ecólogo Fearnside declarou que o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), que considera a obra viável, se concentra na faixa ao longo do traçado da rodovia e minimiza impactos mais amplos, como a construção de uma rodovia estadual que cortaria o interflúvio entre os rios Madeira e Purus, uma área que ainda não foi desmatada.

Fearnside vive na Amazônia há 45 anos e em 2007 ele recebeu o prêmio Nobel da Paz juntamente com outros cientistas do IPCC, o painel de clima da ONU, por conta dos estudos sobre o aquecimento global.

Por sua vez, o bolsonarista e defensor da derrubada de "todas as árvores" da Amazônia, Kurke não apresentou nenhum estudo que apontasse a segurança da pavimentação.

A Secretaria de Apoio ao Licenciamento Ambiental e à Desapropriação do Programa de Parcerias de Investimentos da Casa Civil, declarou à Folha que, além das audiências públicas, haverá consultas às comunidades indígenas e que uma eventual licença prévia para a pavimentar a BR-319 "só sairá após cumprida essa etapa".