Desfocado, protesto da elite paulista reúne 800 pessoas

Movimento "Cansei" partiu do Ibirapuera para o local do acidente do vôo da TAM para protestar contra o caos aéreo.

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Movimento "Cansei" partiu do Ibirapuera para o local do acidente do vôo da TAM para protestar contra o caos aéreo. Por Vermelho Desafiando temperaturas que beiravam os 10 graus em São Paulo – e que talvez explique o pequeno número de participantes –, parentes de vítimas e integrantes de pequenas ONGs de São Paulo realizaram na manhã deste domingo uma caminhada de protesto contra a crise aérea e em homenagem aos cerca de 200 mortos no acidente com o Airbus da TAM. Embora a organização tivesse anunciado que o protesto não teria caráter partidário, faixas e gritos de ordem culparam o governo federal pela tragédia e gritos de “Fora Lula” foram ouvidos. A marcha começou na região do Ibirapuera, zona sul de São Paulo, e chegou ao local do acidente, na área do aeroporto de Congonhas, por volta das 11h45 deste domingo. A região é considerada área nobre da capital e costuma reunir grandes multidões nas manhãs de domingo por causa das atividades de lazer do Parque do Ibirapuera. Aproveitando-se da presença involuntária dos usuários do parque, os organizadores da marcha contavam com a adesão de milhares de pessoas na manifestação. Mas segundo o blog Nariz de Palhaço (www.narizdepalhaco.com.br), que integrava a lista de “entidades organizadoras” do evento, a participação ficou restrita a 800 pessoas. Rompendo uma tradição de sempre avaliar a quantidade de participantes em manifestações, desta vez a Polícia Militar, comandada pelo PSDB, decidiu não fazer estimativas sobre o número de manifestantes. Isso deu liberdade aos organizadores para inflacionar a adesão ao protesto: alguns mais exaltados falavam em 7 mil manifestantes. A maioria dos veículos de imprensa, como a Globo, que ajudou a convocar o protesto, calculou em dois mil o número de participantes da marcha. Marcha das elites Além dos familiares das vítimas da tragédia do vôo 3054, participaram do protesto empresários, advogados, socialites, estudantes, alguns artistas e funcionários públicos de alto escalão dos governos estadual e municipal. Entre as entidades presentes ao evento estavam a ABRAPAVAA (Assoc. Bras. Parentes Amigos de Vítimas de Acidentes Aéreos), CRIA Brasil (Cidadão, Responsável, Informado e Atuante), Campanha Rir para não Chorar, Casa do Zezinho, Fundação SOS Mata Atlântica, Instituto Brasil Verdade, Instituto Rukha, Movimento Nossa São Paulo: Outra Cidade e Blog Nariz de Palhaço. Todas são entidades apartadas dos movimentos sociais de massa e têm em comum o fato de serem geridas por setores da classe média. A marcha também contou com o apoio do movimento intitulado “Cansei - Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros”, liderado pela Ordem dos Advogados do Brasil – Seção São Paulo (OAB-SP). Mas o nome do movimento, que rapidamente virou motivo de piada nos meios políticos, foi praticamente ignorado durante o protesto. Um dos organizadores da caminhada, Marcio Neubauer, empresário e executivo da multinacional Intel e “diretor” da entidade CRIA Brasil, exerceu a função de “porta voz” dos manifestantes. Ele começou a caminhada puxando a palavra de ordem: "RES-PEI-TO". Mais adiante, já fora do trio elétrico, entrou no coro partidário que dominou grande parte da marcha e aderiu aos gritos de "Fora Lula". O publicitário Marcus Hadade e Ronaldo Koloszuk, do Conselho de Jovens Empresários da Fiesp, foram anunciados pelo trio elétrico. O trio, aliás, cercado por guardas particulares da empresa Santo Segurança. Na concentração da marcha, um pequeno tumulto impediu a participação aberta de militantes do PSDB. Cinco rapazes carregando bandeiras do partido foram “convidados” a se retirar. "Sem bandeira, sem bandeira", gritaram os organizadores. Apesar da expulsão de seus militantes, o PSDB foi generoso com a marcha. A certa altura, os manifestantes foram brindados gratuitamente com copinhos de água mineral que traziam o símbolo da Sabesp - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo - e os dizeres "Distribuição gratuita. Material promocional". Raro em manifestações. Além da distribuição gratuita da água "promocional" da Sabesp, outras novidades na passeata do "Cansei" foram, basicamente, as pessoas que dela participaram. Muitas sem qualquer experiência em passeatas. Ao celular, uma senhora usando casaco de pele tinha dificuldade para explicar a alguém onde estava: "Eu tou na passeata. É, passeata. Pas-se-a-ta". "Conclusão" da ?Veja? enfraqueceu movimento A orientação política dos organizadores do movimento e que foi abraçada pelos familiares das vítimas da tragédia com o avião da TAM é a de empurrar toda a “responsabilidade” pelo acidente para o lado do governo federal. Todas as declarações e pronunciamentos feitos durante a passeata deste domingo foram neste sentido. Mas alguns manifestantes comentaram a “traição” da revista Veja. Eles estavam inconformados com o fato da revista ter trazido em sua edição deste final de semana uma matéria na qual aponta a falha do piloto e não problemas de infra-estrutrura como principal motivo do acidente com o avião da TAM. A revista Veja é tida como porta-voz dos setores mais conservadores e reacionários do país, que estavam representados na passeata e não gostaram de ver sua “versão” dos fatos ser descredenciada pela reportagem de Veja. Samba de doido O músico Seu Jorge, um dos poucos negros presentes na manifestação, cantou "Pra não dizer que não falei das flores", de Geraldo Vandré e incluiu alusões ao acidente em alguns trechos da canção. Utilizando um discurso generalista e raso, típico da classe média despolitizada, criticou o governo Lula por "todos os problemas do país". Em certo momento, ao avistar uma moradora de rua que assistia a passeata dos ricos à distância, ele sugeriu à ministra do Turismo, Marta Suplicy, que viva a mesma experiência. "Eu sou ex-morador de rua. Manda relaxar e gozar ali. Quero ver ela (a ministra) sentar ali, deitar ali, relaxar e gozar ali", afirmou, apontando para o local onde sem teto vivem, que estava coberto por uma lona preta. Mais tarde, em declarações à imprensa, ele mostrou simpatia pelo discurso golpista das elites. Ao ouvir gritos de "Fora Lula", o cantor disse apoiar esse sentimento. "É o povo quem está dizendo. Precisamos tirar essa gente do ar", comentou sem especificar nomes. Marcha com Deus Em comentário publicado na sexta-feira, 27, em seu blog, o jornalista Mino Carta, editor da revista CartaCapital, comparou a marcha deste domingo à “Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade” - aquele movimento que foi às ruas em março de 1964 para desestabilizar o presidente João Goulart e praticamente patrocinar o golpe militar. Além de protestos contra os atrasos nos vôos - com palavras de ordem contra o governo - a passeata registrou falas ou cartazes contra a violência, pela reforma do Judiciário, contra a construção da usina nuclear Angra 3 e até em defesa de maior apoio ao futebol feminino. Um grupo de manifestantes também distribuiu folhetos exigindo "o fechamento definitivo e imediato do aeroporto de Congonhas" e defendendo que seja criado um parque no local. E por diversas vezes foram solicitadas salvas de palmas para Deus e para Jesus e orações como o Pai Nosso foram feitas pelos manifestantes. Vermelho