Dez estratégias de campanha que levaram Boulos ao segundo turno em SP

Do convite à Erundina para ser a vice à oposição ferrenha a Bolsonaro, passando pela atuação nas redes: as estratégias que levaram Boulos ao segundo turno em São Paulo

Luiza Erundina e Guilherme Boulos (Divulgação)
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Filho de um casal de médicos - a mãe é a infectologista Maria Ivete Castro Boulos, e o pai é o professor Marcos Boulos, do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - e crescido em meio à classe média alta paulistana, Guilherme Boulos pediu aos pais, ainda na adolescência, para ser transferido da escola particular onde estudava para um colégio público.

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A opção, diz ele, mudou sua vida e deu início à sua luta por moradia, que cresceria e mais tarde se consolidaria como principal liderança do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), enfrentando a alcunha e todo o preconceito que os movimentos sociais atraem, especialmente da mesma classe média alta de onde vivia.

No entanto, em pouco mais de dois anos - com uma candidatura às eleições presidenciais nesse meio - Guilherme Boulos conseguiu se ver livre da pecha de invasor e conquistou muitos adeptos à luta, ao explicar que eram os bancos - e não os sem-teto - os responsáveis pela "invasão" das casas de milhares de brasileiros de classe média a cada ano.

O convite para disputar a prefeitura de São Paulo partiu de uma octagenária com energia adolescente, que topou a contrapartida de formar a chapa puro-sangue do PSOL e encabeça esta lista de 10 estratégias que levaram Guilherme Boulos ao segundo turno das eleições municipais na maior cidade do Brasil.

1) Luiza Erundina
Ao ser convidado pela ex-prefeita e atual deputada federal, Luiza Erundina (PSOL), para ser candidato a prefeito de São Paulo, Guilherme Boulos retrucou e disse que só se lançaria candidato se tivesse a migrante nordestina na chapa. Aos 85 anos, com energia de uma garota, Erundina construiu um legado na capital e é lembrada como poucos na periferia da cidade. Como candidata a vice, fez com que até um "Erundinamóvel" fosse construído para que pudesse ir às ruas catar votos durante a pandemia.

2) Atuação nas periferias
A militância histórica junto à população periférica no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e a memória dos anos Erundina impulsionaram a campanha de Boulos no subúrbio da capital paulista.

3) Pulverização nas redes com perfis paralelos
Usuário "hard" das redes sociais, Guilherme Boulos e sua equipe de campanha pulverizaram a ação com diversos perfis paralelos, como a do @famosoceltinha50, fruto de uma reportagem da Folha de S.Paulo que listou o veículo modesto como o automóvel do candidato - diante de frotas e carrões de propriedade dos adversários

4) TikTok e Memes
Com mais de 43 mil seguidores, Guilherme Boulos mobilizou a juventude antenada na rede TikTok com vídeos bem humorados, na linguagem dos usuários da rede, que foi ampliado para os memes produzidos e distribuidos em outras redes sociais.

5) Big Boulos Brasil
Liderando as interações nas redes sociais e um dia após aparecer dividindo o primeiro lugar na pesquisa espontânea do Datafolha, Boulos iniciou uma espécie de “Big Brother”, mostrando sua rotina por 24 horas nas redes. A primeiro "edição" da Big Boulos Brasil, como ficou conhecida atingiu 1,6 milhão de views - o que daria 6 pontos no Ibope - e ajudou o candidato do PSOL a superar os parcos 17 segundos de TV.

6) Wagner Moura e apoio de artistas
Com 17 segundos na TV, Boulos teve em seu primeiro programa o ator Wagner Moura como "âncora". A estratégia fez com que o vídeo viralize nas redes e despertou a ira dos adversários, como Joice Hasselmann, que entrou com pedido na Justiça para retirar o vídeo da campanha. A ação judicial, no entanto, só ajudou a impulsionar a estratégia de Boulos

7) Gabinete do amor
A estratégia da equipe de Boulos nas redes sociais ainda passou pela ironia fina de se criar o "gabinete do amor" para contrapor ao gabinete do ódio bolsonarista nas redes sociais.

8) Proximidade com Lula e apoio de petistas históricos
A proximidade com o ex-presidente Lula durante o golpe, que resultou em encontros e na aparição ao no histórico discurso em São Bernardo do Campo quando o petista foi libertado da injusta prisão, angariou a simpatia e o apoio de petistas históricos à candidatura de Guilherme Boulos.

9) Antagonização com Bolsonaro
Com histórico de atuação desde as eleições presidenciais de 2018, Boulos se colocou como o principal candidato anti-Bolsonaro na cidade onde a aprovação do presidente está em queda livre.

10) Russomanno como principal adversário
A estratégia de se colocar como anti-Bolsonaro fez com que Boulos polarizasse com o candidato do presidente, que tem histórico de derretimento eleitoral na capital paulista. Como esperado, conforme a campanha foi caminhando, Celso Russomanno viu sua candidatura derreter - e consequentemente a de Boulos crescer.