10 pontos para pensar a Lava Jato nesses dias pós-hecatombe

São Paulo - O juiz federal Sérgio Moro participa do simpósio Lava Jato e Mãos Limpas, realizado no auditório do Ministério Público Federal (Rovena Rosa/Agência Brasil)
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Adriana Dias lista comparações com a italiana Mãos Limpas e faz observações sobre questões ainda obscuras a respeito da operação comandada por Sergio Moro Por Adriana Dias
  1. Em sua frequente comparação com a Mani Pulite, operação italiana dos anos 90 de combate à corrupção, um exame detalhado do agente centralizador de ambas operações é muito revelador: Antonio de Pietro estudou primeiramente na Alemanha, no início da década de 70; formou-se em engenharia eletrônica, trabalhou dois anos naquele país depois de formado, antes de retornar à Itália, quando em Milão começou os estudos na faculdade de Direito, trabalhando na área de engenharia. Esse é o homem da Mani Pulite, um homem com duas faculdades, que antes de assumir a função pública trabalhou para pagar o próprio sustento, e morou em dois países distintos. Na década de 80 entra para a Academia de Polícia e, sempre conciliando trabalho e estudo, chega a procurador adjunto de Bergamo. Giuseppe Di Pietro, seu pai, morreu no campo, esmagado pelo trator arando campos de beterraba.
  2. Do outro lado temos Sérgio Moro, o juiz da Operação Lava Jato, que se situa num lugar muito diferente do campo. Revelou-se numa reportagem que ele só andou de ônibus pela primeira vez aos dezoito anos. Viveu na Maringá cidade dos sonhos, da qual saiu para Curitiba como juiz, nunca trabalhou para se sustentar durante o período da universidade, e o curso em Harvard que consta em seu currículo dura menos de um mês. Você pode verificar em http://hls.harvard.edu/dept/academics/continuing-and-executive-education/. Seu pai, funcionário público biônico da ditadura, foi nomeado pela ARENA. Esses lugares tão diferentes mostram o quanto a concepção das operações é diversa: numa REALMENTE se desejava combater a CORRUPÇÃO; na outra, apenas UM PARTIDO POLÍTICO, O PT, o partido dos proletários, dos operários, dos trabalhadores. Lugar que Moro desconhece por nascimento.
  3. Como bem observaram outros analistas, na Mani Pulite, toda a imprensa italiana recebia as mesmas informações. Ou seja, o Unità, fundado por Antonio Gramsci; o Il Giornale, de Silvio Berlusconi; o Do Osservatore Romano, órgão do Vaticano; o Il Manifesto, jornal de esquerda; o Corriere della Sera, moderado e conservador, o La Repubblica, de centro-esquerda, e toda a imprensa partidária, que era forte na Itália dos anos 90 recebia A MESMA informação. Moro, ao contrário, privilegiou a imprensa de direita, interessada em destruir o PT e seu governo que depois manipularia os dados a favor de seus interesses, e depois daria a Sergio Moro prêmios e mais prêmios. Virou um verdadeiro ciclo nada virtuoso, ele fornece as matérias; ela, os prêmios e as manchetes que dão a ele destaque, e o ciclo se repete.
  4. Na Itália se divulgavam sistematicamente os avisos de intimação, aprovisionando aos investigados o direito de saber de sua situação. Moro criou grandes circos midiáticos para cumprir procedimentos de depoimento, informando a imprensa, mas não ao acusado ou a seus advogados acerca da intimação. Isso diminui a possibilidade de defesa.
  5. Obviamente, é claro que a CORRUPÇÃO, não apenas na PETROBRÁS E DENTRO DE OUTRAS ESTATAIS, é antiga e remonta a governos muito anteriores. Não falo nem de FHC ou de ITAMAR, falo do GRANDE SALTO PARA O CAOS, falo do GRANDE GOVERNO CORRUPTOR, A DITADURA BRASILEIRA. Se quisessem mesmo passar o Brasil a limpo, abriríamos os papéis (TODOS) a partir daí. Mas, quem se atreveria a tanto?
  6. Não vejo pedido de liminar por todo país por investigados e citados na Lava-Jato, alguns mais de uma vez, no Ministério do Temer. Não vejo indignação por corruptos roubadores de merenda em ministério, por ministros da Saúde com suplentes presos, a indignação parece que passou. A LAVA JATO parece ter nome, partido, cor, tempo, CPF, limites. E a nota da Polícia Federal ameaçando o PT e apenas o PT deixou isso muito claro. E não falemos em erros e equívocos.
  7. A LAVA JATO corre riscos? Não, se você quer apenas petistas pobres e pretos condenados. Se quer empresários presos, talvez. Mas, se quer um Brasil passado a limpo, esqueça. A LAVA JATO nunca existiu para isso.  E olhe, eu adoraria estar errada. Adoraria ver o Maluf entregue a Interpol pelas autoridades brasileiras, adoraria ver todos os investigados, do VIAGRA ao NAZISTA (alguém já descobriu a origem e o significado dos apelidos encontrados na investigação da LAVA JATO?)
  8. Gostaria de saber se a LAVA JATO algum dia vai explicar a relação do ALVARO DIAS e de seu doleiro favorito, Alberto Youssef, ou os laços familiares e trabalhistas de Moro nunca vão permitir isso? Flávio Arns, que papel você teve nesse golpe? Sua irmã reze por você, se você fez parte, porque a História não lhe perdoará. E as Igrejas Evangélicas citadas como destinatárias do dinheiro investigado pela LAVA JATO, citadas ou encontradas em provas serão investigadas? Ou os pastores estão acima de qualquer suspeita?
  9. Rodrigo Janot, esse que a história marcará como golpista, engavetador ou procurador-geral da República de um momento tenso, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a ampliação do inquérito-mãe da Lava Jato para incluir novos alvos. No texto, o PMDB é apontado como um dos dois “eixos centrais” da “organização criminosa” investigada por atuação na Petrobras e em outros órgãos públicos. É incrível porque em Minas Gerais uma juíza usou a mesma expressão para se referir ao PSDB. Janot fala o mesmo do PT. Visto que todos os partidos têm citações a Lava-Jato e viraram “organização criminosa”, das duas uma: ou viraram mesmo, ou muitas doações foram mídia-transformadas em crime. Se assim foi, separar joio de trigo vai levar anos, e muita reputação manchada vai demorar décadas para se recuperar. Se for possível recuperar.
  10. Gustavo do Vale Rocha, advogado de Cunha, assumiu a subchefia de assuntos jurídicos da Casa Civil. E CUNHA, como fica na LAVA JATO? E de novo eu pergunto, visto que perguntar não ofende: ministros do STF vocês vão assistir tudo isso de toga na mão rezando o Rosário? Desculpem, mas nem Nossa Senhora do Desterro, como escreveria Antonio di Pietro (ele adorava invocar a proteção de uma Nossa Senhora, e acredito que seja o caso!) livra vocês do INFERNO se vocês lavarem as mãos.

Foto de capa: Rovena Rosa/ Agência Brasil