Diferentes povos erguendo a mesma bandeira

Imigrantes vão às ruas para exigir fronteiras livres na 9ª Marcha dos Imigrantes em São Paulo

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Imigrantes vão às ruas para exigir fronteiras livres na 9ª Marcha dos Imigrantes em São Paulo Por Pâmela Vespoli [caption id="attachment_76148" align="alignleft" width="348"]Cerca de 500 pessoas se reuniram na Praça da República. (Foto: Pâmela Vespoli) Cerca de 500 pessoas se reuniram na Praça da República. (Foto: Pâmela Vespoli)[/caption] Neste domingo (29), aproximadamente 500 pessoas se reuniram na Praça da República, centro da cidade de São Paulo, para se manifestarem contra os muros físicos, legais e sociais que cercam os imigrantes. Cartazes e faixas escritos “migrar é um direito” ilustram o tema da 9ª Marcha dos Imigrantes: “Fronteiras Livres, Não à Discriminação”. Segundo Roque Renato Patussi, do Centro de Apoio e Pastoral do Migrante (CAMI), entidade responsável pela organização da marcha, a temática foi escolhida por causa do panorama mundial de preconceito com refugiados e imigrantes que estão tentando sair de situações de violência, seja devido miséria, religião ou de conflito armado. “A marcha é o único movimento que dá visibilidade tanto aos problemas quanto as bandeiras de luta dos imigrantes”, declarou Patussi. O Bloco das Mulheres Imigrantes com seus tambores e chocalhos chamaram a atenção para as exigências femininas da igualdade de gênero entre os imigrantes. Andrea Carabantes, da Frente de Mulheres Imigrantes, diz que “Mulher sofre machismo em todo lugar, mas quando é imigrante se torna ainda mais invisível”. Ela conta que muitas vezes a mulher é a última a tirar o visto, porque normalmente é o marido quem tem prioridade para trabalhar. Carabantes menciona que as mulheres costumam ser as últimas a aprenderem a língua, cita o exemplo das colombianas que ficam o dia inteiro nas oficinas de costura com outras colombianas e pouco têm contato com a língua portuguesa. A marcha saiu por volta das 10h30 da Praça da República em direção à Câmara Municipal, onde foi recebida com aplausos por fiéis do candomblé e da umbanda que aguardavam a marcha para unirem-se a ela. Assim a marcha uniu diferentes religiões em defesa dos imigrantes, porque “juntos somos mais fortes” - assim eram as palavras de ordem pronunciadas. O ato foi finalizado na Praça da Sé. Situação dos imigrantes no Brasil Em março deste ano foram contabilizados mias de 1,8 milhões de imigrantes regularizados no Brasil, conforme estatísticas da Polícia Federal. No entanto, Camila Asano, coordenadora de Políticas Externas da Conectas Direitos Humanos, acredita que “No Brasil, pela esfera pública, é complicado obter dados, no critério de refugiados e imigrantes não é diferente”. O coordenador da Coordenação de Políticas para Migrantes da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Paulo Illes, concorda com Asano sobre a dificuldade de se obter dados precisos sobre a quantidade de imigrantes e refugiados no Brasil pelo Polícia Federal. Ele explica que isso atrapalha a criação de políticas públicas para atender esse público e por isso anunciou, durante evento em São Paulo no dia 26 de novembro, que o mapeamento de imigrantes faz parte das metas da Coordenação de São Paulo para 2016. Para Camila Asano, o Brasil adota um discurso de país receptivo, enquanto na prática é “agora que você entrou, está por sua conta e risco”. Muitos estrangeiros chegam ao Brasil com situações financeiras precárias, já que a maioria saiu de sua terra natal por necessidade e teve altos custos com a viagem. Sendo assim, muitos não têm onde morar, o que comer, onde trabalhar - situação que demanda esforços das autoridades para atender as necessidades básicas desses povos, algo que para Asano não tem sido atendido como deveria. Ranim Keyloun veio há seis meses para o Brasil com seus pais e irmão fugidos da guerra na Síria. Apesar dos refugiados em seu país receberem renda auxiliar para moradia e comida, no Brasil não acontece o mesmo. Para sobreviver usou a economia da família e dependeu da ajuda de outros estrangeiros que já estavam estabilizados no Brasil. No momento Keyloun trabalha e dá aula de inglês nas horas extras para o auxílio da renda familiar que, segundo ela, está baixa porque além dela apenas o irmão trabalha. Os pais não conseguem emprego por não falarem português. No momento, a competência de cuidados com a migração é dividida entre os ministérios do Trabalho, Relações Exteriores e da Justiça, sendo o último responsável pelo controle migratório e concessão dos documentos, via Polícia Federal. Sendo assim, “ser migrante no Brasil é um caso de polícia”, declarou Asano. Para ela o país precisa ter uma política migratória mais humanitária, que acolha os imigrantes e refugiados e para isso é preciso criar uma instituição autônoma civil para cuidar da migração. Foto: Pâmela Vespoli