Dilma, aborto também é problema seu

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Na última segunda (08), em entrevista ao canal francês France24, a presidenta Dilma Rousseff declarou que o Estado brasileiro não deve se envolver na questão do aborto, alegando que o país ainda precisa passar por um longo processo de evolução sobre o assunto. Quando questionada qual seria o seu posicionamento não enquanto presidenta, mas enquanto mulher, a presidenta respondeu que "enquanto mulher, é presidente". A resposta de Dilma foi genial em somente um aspecto: realmente, ser mulher não é diferente de ser presidenta, já que ela não deixa de ser mulher por ser líder de Estado e ser governante não é uma função incompatível com ser mulher. A resposta de Dilma, no entanto, foi covarde e desonesta. Na entrevista, ela afirma que os governantes devem manter suas opiniões privadas; que espécie de governo é esse que tem posicionamentos públicos sobre incontáveis questões, mas ocultos em temas tão urgentes como o aborto? É difícil acreditar em uma democracia real e na integridade de governantes que escondem seus posicionamentos políticos. As eleitoras e eleitores jamais se sentirão ouvidos e contemplados por políticos que nem sequer declaram o que pensam ser melhor para o país. Infelizmente para a Dilma, o aborto é um dos maiores problemas do Brasil e se omitir a respeito não é nenhuma solução. Para uma líder que fala tanto em ter "coragem" para fazer "mudanças", deveria ser desconcertante agir com tanta covardia quando o problema do aborto está em foco. Se o Estado não for responsável por criar políticas públicas e soluções para evitar que milhares de mulheres morram todos os anos, quem será? As clínicas clandestinas, mais similares a açougues, onde cenas de horror acontecem? Ou os fundamentalistas religiosos, que desejam tirar o direito até mesmo de mulheres estupradas receberem atendimento médico? Enquanto mulher - e enquanto presidenta -, a Dilma é, sim, responsável pela situação das mulheres brasileiras. Seu governo deve reconhecer que há um problema gravíssimo de saúde pública e mortalidade feminina e que o Estado precisa se envolver para assegurar medidas eficientes em favor das suas cidadãs. A presidenta está se enganando se pensa que sua omissão lhe trará mais segurança para que o PT se fortaleça em uma próxima eleição. Pelo contrário: cada vez mais as forças de esquerda e os movimentos feministas se afastam do seu partido. Fazer o jogo dos conservadores não preservará o governo petista; só espantará, definitivamente, aqueles que tanto lutaram para que a Dilma fosse reeleita. O sangue das mulheres mortas pelo aborto ilegal está nas mãos do Estado - e esse sangue também é vermelho. Foto de capa: Reprodução