"Se disserem que vamos acabar com as conquistas dos trabalhadores, responda em alto e bom tom: não é verdade", diz Dilma

No ato comemorativo dos 35 anos do PT, presidenta falou sobre a política de ajuste fiscal implementada neste início de mandato. "A nossa diferença para muitos países por aí é que não fazemos equilíbrio por fazer".

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No ato comemorativo dos 35 anos do PT, presidenta falou sobre a política de ajuste fiscal implementada neste início de mandato. "A nossa diferença para muitos países por aí é que não fazemos equilíbrio por fazer"

Por Ivan Longo, de Belo Horizonte 

Em meio a críticas e ataques recentes por conta dos ajustes fiscais e, principalmente, denúncias de corrupção na Petrobras, a presidenta Dilma Rousseff (PT) resolveu, finalmente, falar em um evento público. Ela participou do ato comemorativo de 35 anos do Partido dos Trabalhadores, realizado na noite da última sexta-feira (6) em Belo Horizonte (MG). Acompanhada do presidente uruguaio José Mujica, do ex-presidente Lula e outras lideranças do agremiação, Dilma discursou para mais de mil pessoas.

Demonstrando bom humor, a petista viu uma militância fervorosa gritar o seu nome à maneira como gritavam para o seu antecessor. O “Olê, olê, olê, olá, Dilma, Dilma” fez, inclusive, a presidenta brincar com a platéia. “Vocês disseram que o Lula é lindo e ele diz que não. Mas eu sou linda, sim”. O público, prontamente, respondeu, em coro: “Linda, linda!” .

Em sua fala, depois das longas saudações, a presidenta reeleita enalteceu a história do partido em memória aos 35 anos de sua fundação, mas também tocou em pontos delicados, como a política de ajuste fiscal implementada no início do segundo mandato e as denúncias que tentam associar o PT às práticas de corrupção na Petrobras. Além desses pontos, falou, ainda, sobre futuro e projetos que coloca como prioritários em sua gestão, como é o caso da reforma política.

Confira alguns pontos abordados por Dilma em seu discurso.

Economia 

Tudo o que estamos fazendo tem um objetivo: manter o modelo de desenvolvimento em que é possível conciliar desenvolvimento econômico, distribuição de renda e ascensão social.”

“Os ajustes que estamos fazendo são necessários, não só para que mantenhamos o rumo, mas para que ampliemos nossas prioridades. As mudanças que o país espera nos próximos anos dependem muito da estabilidade e da credibilidade de nossa economia. Nós precisamos garantir a solidez da economia, o controle da inflação e das contas publicas. Garantindo, assim, a geração de emprego e renda, que é o objetivo fundamental de tudo isso.”

“Hoje, a economia vem sofrendo os efeitos de dois choques: um externo, que é a redução expressiva do crescimento em vários países do mundo (…) e, no plano interno, o Brasil viveu uma das maiores secas dos últimos anos, que culminou no aumento de preço dos alimentos. Agora, surpreendentemente, a seca não está no Nordeste, mas no Sudeste.”

“Durante a crise econômica que o mundo viveu nos últimos anos, combatemos os efeitos nefastos desse choque e protegemos nossa população. Mas nós, agora, atingimos um limite. Nós estamos diante da necessidade de promover um equilíbrio fiscal e recuperar a economia o mais rápido possível."

“Queremos garantir o emprego e a renda. Nossa diferença para muitos países por aí é que nós não fazemos equilíbrio por fazer.”

“Nós vamos promover o equilíbrio fiscal de forma gradual, em um esforço que a economia pode suportar sem afetar renda e emprego. Pelo contrário, renda e emprego são uma condição para esse equilíbrio. Que isso seja algo que caracterize a economia brasileira.”

“Quando disserem que vamos acabar com as conquistas dos trabalhadores, responda em alto e bom tom: não é verdade.”

Petrobras 

“Eles sabem que a Petrobras é a empresa mais estratégica do Brasil. Na terça-feira, a Petrobras ganhou o maior prêmio do mundo na área do petróleo, de uma organização internacional. A Petrobras desenvolveu toda uma tecnologia pra extrair petróleo do Pré-Sal; a Petrobras só pode ganhar esse prêmio porque, num determinado momento, o governo decidiu investir na produção de petróleo”.

“Não podemos aceitar que alguns tentem colocar a Petrobras como sendo uma vergonha para o Brasil. Eu sei punir. E é fundamental que a gente não deixe se repetir nenhuma irregularidade na Petrobras, mas precisamos fazer isso sem deixar que diminuam a empresa.”

“Nosso partido é exemplo no combate à corrupção. Afinal, nós não nomeamos ‘engavetador geral da República’.”

“Nós vamos continuar apostando no modelo de partilha. Esse modelo garante que a maior parte da riqueza do Pré-Sal volte para o povo brasileiro em saúde e educação. Vamos continuar apostando na política de conteúdo local. Vamos continuar acreditando na mais brasileira das nossas empresas.”

“Ela só poderá continuar servindo bem ao nosso país se for cada vez mais brasileira. Nós temos que fechar a porta para a corrupção, mas não para o desenvolvimento, a renda e o emprego.”

Reforma Política 

“Há uma grande expectativa com a reforma política. Isso para nós é questão central e vamos colocar como prioridade já agora no primeiro semestre. Vamos colocar isso para sociedade, contando com a participação popular. Sabemos que é uma tarefa do Congresso Nacional, mas cabe a nós, nas ruas, impulsionar essa mudança para garantir novas formas de financiamento de campanha e, fundamentalmente, proibir o financiamento empresarial.”

Políticas sociais, minorias e futuro 

“Esse equilíbrio visa, sobretudo, manter nossas políticas sociais. Bolsa família, Pronatec, Ciências Sem Fronteiras e também políticas voltadas ao combate à violência contra a mulher. Nós inauguramos a primeira Casa da Mulher Brasileira essa semana no Mato Grosso. Isso é um avanço cultural, baseado na nossa crença de que não teremos uma democracia plena se homens e mulheres não tiverem os mesmos direitos.”

“A questão da mulher, do negro, do indígena da população LGBT são e serão, para mim, uma política de Estado.”

“Diante da crise, nós sempre tivemos a força para reagir. Somos capazes de agir. Se olharmos para o futuro, vamos ver que temos uma força imensa.”

“Nós não podemos vacilar. Se tiver erro, aqueles que erraram pagam por eles. Mas temos que preservar a história desse partido e a história do nosso governo. Nós vamos mostrar que não cabe e não é necessário escolher entre controle da inflação e inclusão social, nós fazemos as duas simultaneamente.”

“Não vamos ficar eternamente como uma nação emergente. Vamos trilhar o caminho para um a nação desenvolvida, mas com oportunidades para todos os brasileiros, não a nação desenvolvida que exclui. Uma nação onde o brasileiro e a brasileira sejam respeitados.”

(Foto de capa: Lydiane Ponciano)