DJ que tocou na Parada gay seria "nazi", acusa grupo antifascista

Coletivo acusa Enrico Tank de ser "nazista" e compara evento LGBT com Marcha das Vadias

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Coletivo acusa Enrico Tank de ser "nazista" e compara evento LGBT com Marcha das Vadias

Por Redação O grupo Rash-SP, que reúne skinheads, comunistas e anarquistas, afirma, em um texto publicado no seu blog (confira a íntegra abaixo), que um dos DJ’s contratados para tocar na Parada do Orgulho LGBT de São Paulo é "metrossexual nazi". A tese é levantada por conta das tatuagens que Enrico Tank carrega no corpo, repleta de símbolos nazistas, segundo o grupo. Durante o texto, o coletivo afirma que "o clima nas atividades relacionadas à Parada do Orgulho é bem diferente daquele que encontramos na Marcha das Vadias, manifestação da qual participamos pela primeira vez este ano e onde pudemos sentir um vigor político que talvez nunca tenha havido na Parada." Confira o texto: 

Do RASH-SP (SKINHEADS COMUNISTAS E ANARQUISTAS – SEÇÃO SÃO PAULO)

O coletivo RASH-SP esteve presente nas últimas três edições da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. Ainda que mantivéssemos sempre uma postura crítica em relação ao evento e às organizações do mainstream LGBT – como podem observar nos panfletos que distribuímos em 2011 e 2012 – sempre nos sentimos no dever de estar junto dxs heterodissidentes que lutam. Assim como ocorreu no ano passado, quando punx e skins antifascistas quase fomos impedidos de participar da Parada pela polícia, neste ano tivemos a companhia de uma escolta policial, que nos vigiou e fotografou durante todo o trajeto. Dias antes, um outro grupo de skins e punx antifascistas havia tido sua participação na feira cultural LGBT do Anhangabaú impedida por, segundo informação que ainda não pudemos confirmar, sugestão da polícia. Como de costume, consideramos estranho que as forças da lei e da ordem, que se dizem tão bem informadas sobre as “gangues” da cidade, nos considerem uma ameaça em potencial à população heterodissidente… mas, enfim, parece que a lógica será sempre a da criminalização.

De qualquer forma, o clima nas atividades relacionadas à Parada do Orgulho é bem diferente daquele que encontramos na Marcha das Vadias, manifestação da qual participamos pela primeira vez este ano e onde pudemos sentir um vigor político que talvez nunca tenha havido na Parada. O espírito é totalmente outro: ao contrário da Parada do Orgulho, cujo objetivo principal parece ser pedir a inserção plena no mundo heterocapitalista – “queremos ser como você, hétero branco de classe média: casar, ter filhxs-herdeirxs, investir na bolsa de valores, explorar xs mais miseráveis” – a Marcha das Vadias não pede aceitação nem integração na barbárie heterocapitalista, mas exige a transformação profunda deste mundo. Assim sendo, consideramos que já não há mais sentido em participar da Parada do Orgulho LGBT, essa micareta heterocapitalista e policialesca.

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Já que está claro que nem a chamada “grande imprensa”, nem a polícia têm a intenção de informar a população a respeito das gangues nazifascistas que agem nas ruas da cidade, tomamos a iniciativa de distribuir durante a Parada deste ano um material com informações básicas sobre as quadrilhas homofóbicas de São Paulo. É um material que ainda será melhorado e ampliado, mas que consideramos fundamental para que as pessoas comecem a se proteger melhor nas ruas.

[caption id="attachment_24598" align="aligncenter" width="600"] Reprodução[/caption]

Na noite do domingo, enquanto ainda fazíamos uma avaliação de tudo o que ocorreu durante a Parada – de como a organização do evento parece colaborar com a polícia para criminalizar os grupos de skins e punx antifascistas/anti-homofóbicos e de qual teria sido o alcance do material que distribuímos – nos chega um mostruário de símbolos nazifascistas muito mais completo e eloquente que o panfleto que fizemos. Um mostruário ambulante que já havia circulado num evento pré-parada realizado em uma casa noturna LGBT chique, tocaria na Parada de São Paulo, estará também presente na Parada de Santo André e que temos que expor aqui por seu aspecto profundamente didático.

Então, senhoras e senhores, depois da “neofeminista” (sic) nazi Sara Winter, temos o desprazer de apresentar o mostruário ambulante, digo, o Dj Enrico Tank, mais conhecido como…

O metrossexual nazi!

 

1 – Bandeira Confederada – Bandeira usada pelos estados escravistas do sul dos Estados Unidos durante a Guerra de Secessão ou Guerra Civil Americana (1861 -1865). É símbolo de orgulho dos sulistas racistas dos Estados Unidos.

2 – White Power (“Poder Branco”) –  Este punho cerrado pode ser confundido com o símbolo tradicional da esquerda e das lutas de libertação, mas na verdade representa a mão branca do White Power racista. Foi popularizado pela banda nazi inglesa Skrewdriver.

3 – Logotipo da banda nazi inglesa Skrewdriver.

4 – O número 8 corresponde à oitava letra do alfabeto – H – e o 88 é usado pelos nazis para representar a saudação Heil Hitler (“Salve Hitler”).

5 – Cruz Celta – símbolo usado pelos White Power, em especial pelos Boneheads (pseudo-skins nazis).

6 – Cruz de Ferro – condecoração de guerra alemã que, embora tenha sido criada antes do período nazista, é um dos grandes símbolos fashion pra nazistada. A da Sara Winter tem cerejinhas e a do nazi metrossexual cospe foguinho, mas é tudo a mesma merda.

7 – Combat 18 – organização terrorista neonazi criada na Inglaterra e atuante em diversos países. O número 18 é uma referência às iniciais de Adolf Hitler.

8 – Blood and Honour – organização neonazista composta basicamente por boneheads, cujas atividades envolvem concertos de rock nazi, conhecido como RAC (Rock Against Communism) e crimes de ódio. Em sua tattoo o metrossexual nazi combinou o nome da organização com a Runa Odal.

9 – Runa Odal – É o símbolo de uma religião pagã chamada Odinismo. Nem a religião nem o símbolo é racista, mas ambos foram cooptados por certos setores da extrema direita. É uma letra do alfabeto rúnico, usado pelos antigos povos germânicos e representa o som “O”. Originalmente como dito, nada tem a ver com o nazismo, mas como foi usada como símbolo de uma divisão SS, passou a ser usada pelos neonazis.

10 – Benito Mussolini – O “inventor” do fascismo, foi ditador da Itália entre 1922 e 1943.

11 – W.A.R. - White Aryan Resistance: organização neonazi criada nos Estados Unidos por um ex-lider da Klu Klux Klan chamado Tom Metzger.

12 – Bandeira do Estado de São Paulo – como muitos outros símbolos mostrados aqui, não é racista nem fascista em sua origem, mas vem sendo apropriada por grupos de extrema direita, em geral separatistas como seus colegas fachos dos estados do Sul, que vêm criando toda uma mitologia em torno do Estado de São Paulo, sua história e seus símbolos.

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Bizarrices à parte, a existência de um dj metrossexual nazi na cidade só vem confirmar algumas coisas que já vínhamos dizendo há tempos. A primeira delas: os quadrilheiros nazis não são aberrações, criaturas monstruosas, mas pessoas socialmente bem adaptadas, que compartilham dos valores e preconceitos do cidadão médio. Sentem-se à vontade para cometer seus crimes porque contam com a conivência da família, dos amigos, dos colegas de trabalho e de escola, da polícia. O nazi metrossexual expõe tranquilamente, com muito orgulho, suas tatuagens nas redes sociais e ainda é contratado para tocar em clubes e eventos destinados às pessoas que deseja exterminar.

Nesse ponto entramos em uma outra questão que também abordamos em nosso panfleto, que é a necessidade de se criar espaços autônomos de socialização: xs donxs das casas noturnas estão interessadxs apenas em tirar dinheiro dxs heterodissidentes, que acabam pagando, sem saber, membros de quadrilhas homofóbicas, sejam eles seguranças ou dj’s metrossexuais. Relembramos aqui o quanto setores heterodissidentes – ou “LGBTs”, propriamente ditos – se sentiram chocados quando, no ano passado, o empresário André Almada declarou apoio ao candidato Celso Russomanno. Criou-se um “comitê suprapartidário”, para coordenar os protestos “contra o apoio” e a gritaria foi grande. Como se o “pink market” tivesse a ver com alguma outra coisa além de lucro e exploração.

Apesar de tudo, sabemos que não são poucxs xs que querem muito mais que simplesmente usufruir de privilégios em uma sociedade baseada na exploração e na desigualdade. Reafirmamos o convite feito em nosso panfleto, para que todxs xs que se encontram nas margens do heterocapitalismo se empoderem, aprendam a se defender e sigam construindo espaços autônomos de socialização. As ruas são nossas, são de todxs nós e cabe a nós torná-las seguras e livres do ódio fascista.

*** Em tempo:

Depois que já havíamos postado o texto, recebemos o seguinte flyer da Parada do Orgulho de Santo André, que será realizada no próximo dia 23. Nele as tatuagens do metrossexual nazi aparecem com todo seu esplendor. É realmente estarrecedora a falta de informação e despolitização do mainstream LGBT tupiniquim, que chega ao absurdo de financiar aqueles que desejam seu extermínio.

Recebemos também o print da seguinte conversa ocorrida hoje no fachobook, na qual o metrossexual nazi, ao ser interpelado por um antifa, debocha daquelxs que enchem seu bolso, completando a mensagem com a saudação nazi 88 14: