Dor na coluna, pressão alta e estresse são problemas de saúde dos bóias-frias

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A marmita com alimentos ricos em sal e gordura gera hipertensão a longo prazo.

Por Wellton Máximo, Agência Brasil

Unaí (MG) - As marmitas feitas de madrugada e carregadas nas costas durante todo o dia podem matar a fome durante os trabalhos na lavoura, mas estão longe de representar garantia de alimentação saudável. Os bóias-frias, que ganharam esse nome por causa das refeições improvisadas no campo, são mais propensos a sofrer de hipertensão e de taxas altas de colesterol por causa do tipo de alimento que consomem.

Para suportar as longas jornadas, os bóias-frias recorrem a comidas ricas em sal e gordura. A longo prazo, o hábito deixa seqüelas na saúde desses camponeses. “Esse é mais um problema para quem já está propenso a sofrer de fome”, avalia o biólogo Fernando Ferreira Carneiro, autor de uma tese de doutorado, na da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que mostra que os sem-terra correm menos risco de sofrer fome do que os bóias-frias.

Agente comunitária da prefeitura de Unaí (MG) há três anos, Maria Patrícia Menezes acompanha as condições de saúde da população do bairro Mamoeiras, área na periferia da cidade com alta concentração de bóias-frias. Segundo ela, além de problemas de coluna provocados pela má-postura durante as colheitas, grande parte desses trabalhadores sofre com a hipertensão. “Não há dúvidas de que a maioria dos casos, de alguma forma, está relacionada com a alimentação incorreta”, ressalta.

De acordo com Patrícia, outro problema está na falta de acesso à saúde pública. “Como não existem médicos no campo, os bóias-frias passam anos sem saber que têm problemas de saúde”, salienta a agente comunitária. Ela também destaca o estresse como um problema enfrentado por esses camponeses. “Principalmente nas entressafras, quando estão sem emprego, tanto os bóias-frias como as famílias passam por grande desgaste emocional”, acrescenta.

Com o marido desempregado por causa do fim da colheita de feijão, a dona de casa Eliene Sousa Santos, 31 anos, é um exemplo de como a pressão psicológica afeta as famílias de bóias-frias. Pressão tanto pela instabilidade de emprego, quanto pelas condições exaustivas de trabalho. Além dela, do marido e dos três filhos, cinco parentes do casal dividem uma casa de cerca de 30 metros quadrados no bairro Mamoeiras. “São dez pessoas vivendo aqui”, ressalta. “Quando não tem emprego, eu, muitas vezes, nem consigo dormir e só fico pensando em como vamos nos virar.”

O estresse pode ter um efeito duplamente negativo sobre os bóias-frias. Quando sofrem os efeitos físicos do excesso de pressão, os bóias-frias ficam até sem trabalhar, segundo Patrícia. Isso aumenta ainda mais o estresse, pelo medo de perder o emprego.

Os programas de transferência de renda do governo federal, como o Bolsa Família, poderiam ser uma solução temporária para os bóias-frias. No entanto, segundo o biólogo, o próprio regime de trabalho a que se submetem dificulta o acesso aos projetos sociais e contribuem para o estresse. “Ao serem contratados pelos fazendeiros, os trabalhadores rurais perdem a preferência ao Bolsa Família e vão para o último lugar da lista”, explica Fernando Carneiro. “O problema é que quando eles são dispensados e ficam sem ter o que comer.”

(Agência Brasil)