“É o constrangimento que milhares de pessoas passam diariamente”, diz homem vítima de racismo na Renner

Caso aconteceu nas Lojas Renner do Pátio Brasil, em Brasília; a empresa fez contato com a vítima e disse que “adota políticas de diversidade”

Escrito en BRASIL el

No último dia 10 de junho o fotógrafo Lucas Santiago, após um dia de trabalho, resolveu passar nas Lojas Renner, localizada no shopping Pátio Brasil, em Brasília, para comprar um perfume e um óculos. Era pra ser apenas uma compra, mas se transformou em perseguição, humilhação e racismo.

De acordo com vídeo postado em suas redes sociais, Lucas, ao entrar nas Lojas Renner do Pátio Brasil, foi perseguido pelo segurança em todo momento que esteve presente no local. Como relatou, para tirar qualquer dúvida, buscou sair do campo de visão do segurança, mas, em poucos segundos, lá estava o homem a espreitá-lo.

"Foi uma situação completamente atípica, eu tenho 26 anos e nunca havia acontecido isso comigo. Fiquei constrangido e intrigado. Porque, ao entrar na loja, já percebi o segurança vindo atrás de mim, mesmo que discretamente. Queria saber qual o critério que o segurança usa para seguir as pessoas dentro da loja?", questiona Santiago.

O que mais poderia ter levado Lucas a ser perseguido pelo segurança da loja? "Ser negro? Estar usando uma mochila? Tinham mulheres de mochilas na loja, mas não estavam sendo observadas como eu estava. Eu quis apenas deixar registrado o constrangimento que eu passei, e que com certeza, é o constrangimento que milhares de pessoas passam diariamente aqui no Brasil", diz o fotógrafo.

À Fórum, Lucas revelou que hoje "está tranquilo" e que a direção da loja entrou em contato com ele.

"A gerente regional entrou em contato comigo por telefone, lamentando o ocorrido, e reforçando as políticas de diversidade adotadas pela loja, disse que se esforçam para o treinamento adequado de suas equipes, porém percebem que ainda tem um caminho longo pela frente".

Além do fato de ter sido perseguido e constrangido dentro da loja, Santiago revelou à Fórum que após a publicação das primeiras matérias sobre o seu caso, passou a ser questionado sobre a sua cor.

"Algumas pessoas começaram a questionar a minha cor. Ninguém pode questionar ou determinar a cor de qualquer outra pessoa - se é negro, ou não é - apenas a própria pessoa. A autodeclaração racial é um direito. A autodeclaração é política, passa por esse reconhecimento da própria identidade e de sua história, e da sua vivência", analisa Santiago.

Ainda sobre a questão de ser negro, Lucas Santiago pergunta: "Se a gente for discutir quem é negro de verdade, quem vai dar o atestado? Pessoas brancas? Eu não tenho dúvidas quanto a minha cor, meus traços, minha história, minhas origens. Porém sofremos ataque até sobre colorismo".

Por conta desses tipos de questionamentos, o fotógrafo atenta para o fato de que eles buscam colocar as pessoa não brancas em um "não lugar".

"Se o julgamento for posto desta maneira, volta-se a colocar pessoas negras de pele mais clara em um 'não lugar'. E algumas pessoas irão pensar que não são pretas o suficiente para (integrar) o movimento negro e que não são brancas o suficiente para pertencer à branquitude. Até porque, passam por situações como essa que passei".

Para Lucas, "Essa sensação de não pertencimento das pessoas negras de pele clara acarreta prejuízos individuais e coletivos, repercutindo, inclusive, em sofrimento psicológico".

"Não existe nenhum privilégio em ser negro. Nem se for negro de pele clara, por exemplo, um ponto de deturpação dessa discussão, porque privilégio é algo que, em uma sociedade racista, nenhuma pessoa negra, seja ela de pele clara ou retinta, terá", pontua Lucas.

Sobre tomar medidas legais contra as Lojas Renner, Lucas disse que não pretende fazê-lo, pois, o segurança não chegou a abordá-lo, o seguiu e o espreitou, mas não o interpelou. Afirmou que o seu objetivo era tornar o caso público e levantar a discussão.

A reportagem da Revista Fórum entrou em contato com a assessoria de imprensa das Lojas Renner que ficou de se pronunciar sobre o caso, mas até o fechamento desta matéria não houve retorno da marca.