Em Campinas, ato de mulheres relembra feminicídio da virada do ano

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Além de levantar bandeiras contra a reforma da previdência, o machismo e por mais direitos, o assassinato das nove mulheres na virada do ano também foi lembrado na manifestação Por Isabelle Grangeiro, colaboradora da Rede Fórum No dia 8 de março, dia internacional da luta feminina, as mulheres de Campinas aderiram à greve internacional e foram às ruas protestar. Entre várias bandeiras levantadas no protesto estavam a luta contra a violência de gênero, a reforma da previdência, retirada de direitos e retrocesso propostos pelos governos municipais, estaduais e federal, fim da LGBTfobia, debate de gênero nas escolas e criação de políticas públicas que garantam a segurança e o bem estar da mulher trabalhadora. A concentração do ato começou às 16h, em frente à Catedral Metropolitana. Por volta das 18h:30, as manifestantes saíram em passeata pelas ruas do centro da cidade. Com o tema “se nossas vidas não importam que produzam sem nós”, uma das pautas do protesto foi a reforma da previdência proposta pelo governo Temer, que já está sendo discutida no Congresso Nacional. Embora a mudança na previdência seja prejudicial a todos trabalhadores, ela é a ainda pior para as mulheres que terão a idade mínima para aposentadoria de 65 anos, equivalente a idade dos homens. Para a secretária-geral do Sindicato dos Professores de Campinas e região, Conceição Fornasari, a reforma é desigual e não leva em consideração que as mulheres ainda enfrentam jornada dupla ou tripla. “A reforma não considera o quanto tempo de trabalho a mais que a mulher efetua no lar. Em média mulher trabalha 9 anos a mais que o homem”, afirma. O assassinato das nove mulheres na virada do ano também foi lembrado na manifestação. A militante do PSOL, Marcela Moreira, acusou o reeleito prefeito Jonas Donizette (PSB) de não reconhecer que os assassinatos não configuraram como feminicídio e de não fazer políticas públicas que garantam a segurança das mulheres. “Com apenas 12 mil reais temos condições de fazer um centro de ressocialização do agressor em Campinas e aqui não temos isso”, afirma Marcela. “O prefeito não reconhece que na cidade aconteceu um feminicído onde não só a Isamara foi assassinada, mas outras 8 mulheres foram assassinadas em nome de um suposto amor, amor não mata. ” A militante do PSOL ainda criticou o governo estadual por não possuir delegacias de defesa da mulher que trabalhem 24 horas e nos finais de semana “as mulheres não apanham no horário comercial, as mulheres apanham a noite e aos finais de semana”, explica. O presidente Temer também foi alvo de críticas de Marcela “ o governo golpista está atacando a classe trabalhadora, seja com a reforma da previdência, seja com a reforma trabalhista”. O prefeito Jonas Donizette também foi alvo de críticas da militante Idair Aparecida Luz, do grupo de mulheres da periferia de Campinas “o prefeito está lá no gabinete, ele não sabe da realidade, a luta da mulher, que levanta cedo para levar o filho na escola e trabalhar, se ele soubesse, estaria aqui conosco hoje”, afirmou. Para a coordenadora da União Brasileira de Mulheres (UBM) de Campinas, Lidiane Gomes, Campinas tem números alarmantes quando se trata de violência contra a mulher. A coordenadora defende que uma das principais armas contra esse tipo de violência é o debate de gênero nas escolas. “Se a gente conseguir discutir com as crianças o que significa a igualdade, nós não teremos problemas como a violência contra a mulher ”, assegura Lidiane. Enquanto as ruas pedem mudanças, a Câmara Municipal de Campinas, conhecida por suas posturas conservadoras, vai na contra mão dos direitos humanos. Em 2016, foi aprovado o Plano Municipal de Educação, elaborado pelo prefeito Jonas Donizette, que excluiu uma série de metas sobre discriminação de gênero, e o Projeto de Emenda à Lei Orgânica Municipal nº 145/15, de autoria do vereador Campos Filho (DEM). Esse Projeto proibiu deliberação na Câmara Municipal de “qualquer proposição legislativa que tenha por objetivo regulamentar políticas de ensino, currículo escolar, disciplinas obrigatórias, ou mesmo de forma complementar ou facultativa, que tendam a aplicar a ideologia de gênero, o termo ‘gênero’ ou orientação sexual. O ato também fez um chamamento para a Greve Geral Nacional convocada para o dia 15 de março.