Em sua 3ª edição, Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul se renova

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No período de 6 de outubro a 6 de novembro, a 3ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul leva a 12 capitais brasileiras a produção de cineastas latino-americanos sobre temas, valores e dilemas que dizem respeito aos diversos direitos que não raro são negados a população mundial e em especial a latino-americana.

A mostra, inteiramente gratuita, acontece no ano em que a Declaração Universal dos Direitos Humanos completará 60 anos e se dispõe a refletir as formas como organizadamente pode-se construir um mundo mais justo, igual e solidário.

A linguagem do audiovisual já há longa data é um dos canais para dialogarmos com nosso continente. A procura por criar uma linguagem própria e libertadora, de maneira que o cinema se tornasse um espaço de crítica e reflexão das peculiaridades da região – como o subdesenvolvimento – deu origem ao Nuevo Cine Latinoamericano a seus representantes como o cubano Tomás Gutiérrez Alea, o argentino Fernando Birri e o brasileiro Glauber Rocha, entre outros.

Cinema político-militante
Como exemplo desse tipo de produção, podemos falar de Glauber se apropriando da epígrafe de Che: "Crear dos, tres...muchos Vietnans"para o roteiro de América Nuestra – nunca filmado;e de Fernando Solanas e o seu A hora dos fornos (La hora de los hornos), 1968, produção referencial do Grupo Cine Liberación, cujo título é emprestado de uma frase de José Martí, citada por Che em "Mensaje a los pueblos del mundo através de la Tricontinental". Dizia a frase: "Es la hora de los hornos y no se ha de ver más que luz"..

Com a globalização e com a explosão tecnológica, o mosaico de olhares sul-americanos está muito mais diversificado.

E justamente para dialogar com essa nova produção, que a 3º Mostra se renova e apresenta 50 produções audiovisuais, que formam um conjunto de olhares que transpõe a diversidade da cultura em procura de seus próprios caminhos de expressão e de diálogo.

Novas seções
A curadoria da mostra – que esteve a cargo de Amir Labaki em 2006 e de Giba Assis Brasil em 2007 – tem agora à sua frente o cineasta e produtor cultural Francisco Cesar Filho, o Chiquinho.

A outra novidade, são as novas seções da Mostra. A seção Retrospectiva Histórica, na qual serão exibidos clássicos como o “Tire Dié” (1960), de Fernando Birri – primeira produção da Escola Latino-Americana de documentário de Santa Fé, tida como a primeira revisão latino-americana de crítica social.

E a seção Homenagem, que será inaugurada com obras do grupo argentino Cine Ojo, que há 22 anos produz premiados documentários alternativos. Do grupo, serão exibidos cinco títulos na mostra. Entre eles, o “Eu, madre Alice” (2001), que percorre a história de Alice Domon, uma religiosa francesa pertencente à congregação Hermanas de las Misiones Extranjeras, que viveu na Argentina desde 1967 e foi seqüestrada pela última ditadura militar. E “Jaime de Nevares, a última viagem”, de 1995, que narra a viagem de despedida do bispo Jaime, conhecido por atuar em defesa dos direitos dos indígenas, operários, camponeses e dirigentes políticos.


Destaques
Quanto às produções contemporâneas, os títulos também são variados, mas ficam os destaques para:


O brasileiro Café com Leite, de Danilo Ribeiro, que aborda a diversidade sexual e foi premiado com o Urso de Cristal de melhor curta-metragem no último festival de Berlim;

América Minada, de Vinicius Souza e Maria Eugênia de Souza, que problematiza as minas terrestres, presentes em 11 países da América Latina;

Cidade de Papel, de Claudia Sepúlveda Luque, sobre a descoberta de centenas de cisnes mortos no Santuário do Rio Cruces, em Valdivia, no Chile, devido à contaminação de uma indústria de papel – um desastre ecológico que detonou um movimento popular que levou a uma ruptura histórica nas instituições e leis ambientais do Chile;

Vítimas da Democracia, de Stella Jacobs, que apresenta uma Venezuela sob o governo de Rómulo Betancourt, de Raúl Leoni e de Rafael Caldera, em que se instalou uma campanha de terror e repressão com campos de concentração, desaparecidos e todas as práticas para aniquilar qualquer movimento de esquerda;

Vestígios de um sonho, de Erich Fischer, que contribui para a reconstrução da memória coletiva de uma época tenebrosa do Paraguai, durante a ditadura de Alfredo Strossner e;

O Aborto dos Outros, de Carla Gallo, sobre a necessidade de debater o aborto como questão de saúde pública.

Acesse o site da Mostra: http://www.cinedireitoshumanos.org.br/ 

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