Encontro discute produção teatral comunitária e jovem

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Diversidade. As caras e línguas são muitas. A fala vira "portunhol" com sotaque baiano, ora pernambucano ora carioca; distintos em sua naturalidade, mas idênticos na causa. A fusão de idéias é um reflexo da necessidade de se pôr em pauta a produção teatral comunitária e jovem feita no país e na América Latina, motivo da realização do 1º Encontro Comunitário de Teatro Jovem da Cidade de São Paulo, organizado pelo Pombas Urbanas, realizado entre 11 e 21 de setembro.

A abertura oficial do evento aconteceu na Secretaria Municipal de Cultura, Galeria Olido, centro de São Paulo. Sob mediação da atriz Juliana Flory (Pombas Urbanas), alguns representantes de instituições apoiadoras subiram ao palco para um breve parecer sobre a importância do evento: Ary Scapin, coordenador de Cultura do Sebrae/SP; Rubens Moura, diretor do Departamento de Expansão Cultural; Lárcio Benedetti, Instituto Votorantim; e Élcio Paiva, diretor de Marketing da Caixa Econômica Federal. "É uma grande provocação iniciar o Encontro no prédio de onde saem as discussões sobre Cultura", justifica um dos atores do Pombas, Adriano Mauriz.

Realizado em sua maior parte na Cidade Tiradentes, região do extremo leste da capital, onde – há quatro anos – está localizado o Centro Cultural Arte em Construção, o Instituto Pombas Urbanas, o Encontro contou com a presença de representantes da Colômbia, Argentina e Cuba, representantes do Movimento de Teatro de Rua de São Paulo, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro; além de 11 apresentações teatrais e quatro workshops (Maquiagem, Cenário e Figurino, Dramaturgia e Direção).


Direito de todos
Uma série de seminários rendeu reflexões acerca do teatro comunitário na América Latina. O tema "Redes de Teatro em Comunidade" ajudou a entender a história de formação e atuação entre redes de teatro a partir da experiência de grupos internacionais. Jorge Blandón, "Corporación Cultural Nuestra Gente" (Colômbia); Stella Rodriguez Giaquinto, "Catalinas Sur" (Argentina); Guillermo Rodoni, "AITA" - Asociación Internacional Del Teatro de Arte (Argentina) engrossaram o caldo e suscitaram a inquietação do público.

"Arte é direito de todos. Teatro é direito de todos. Cultura é um direito de todos. Vocês que estão aqui, são também Nuestra Gente, são também Pombas Urbanas", diz Blandón, diretor do grupo colombiano "Nuestra Gente". Há 21 anos, a instituição sem fins lucrativos desenvolve um trabalho comunitário de formação e capacitação artística de jovens em Medellín, Colômbia. O projeto "Semeando Asas", do Pombas Urbanas, toma a iniciativa colombiana como referência para as atividades exercidas desde 2004 no "Centro Cultural Arte em Construção" com jovens da comunidade de Cidade Tiradentes.

Uma outra referência de teatro comunitário é a do grupo argentino Catalinas Sur, que há 25 anos realiza espetáculos de, com e para a comunidade de "La Boca", bairro da periferia de Buenos Aires. "Um grupo de vizinhos que encontra no teatro a possibilidade de comunicação com outros vizinhos", possível definição para teatro comunitário dada pela atriz Stella Giaquinto, que esteve no Brasil exclusivamente para participar do encontro. Há 16 anos no grupo, Stella defende a arte política que eles, "sobreviventes utópicos", fazem. "Temos o compromisso de dizer o que pensamos", diz.

Transformação social
Outros temas como: "Projetos e programas para a juventude"; "Teatro de Rua"; "Processo de Criação e Produção Teatral" e "Formação teatral com Jovens" em comunidades foram discutidos em seminários. "Precisamos descobrir argumentos para convencer as pessoas de que a causa é válida e não que os envolvidos nisso sejam considerados ?loucos?", alerta Dan Baron, presidente do Associação de Drama/Teatro e Educação (IDEA) – que, desde 1992, atua em 90 países com propostas de aprendizagem criativa e solidariedade mútua através do teatro. Uma luta diária pela transformação social que traz à tona questões políticas e, não por isso, inferiores resultados estéticos no fazer artístico.

Um Encontro de falas emocionadas e experiências compartilhadas demonstraram as dificuldades existentes no âmbito artístico e ressalva que as situações se repetem em todo o mundo. A arte vira meio de comunicação onde todos se fazem entender, resta, fazer-se ouvir.

(Originalmente publicado no jornal Brasil de Fato)

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