Em política não há espaço vazio e quase tudo que acontece não é por acaso. De repente, sem mais nem menos, a metralhadora giratória do ex-ministro Ciro Gomes mirou em Flávio Dino. Numa entrevista hoje (30) ao programa de Datena na Band ele disse que o governador do Maranhão perdeu a noção da realidade por usar uma camisa camiseta com os dizeres Lula Livre no dia da eleição em São Luís.
Depois que Dino respondeu à sua provocação de maneira educada, mas dando a letra o cearense deu uma recuada dizendo que também está preocupado em manter as portas abertas para uma frente progressista e que só discorda pontualmente de Dino.
Não é bem essa discordância pontual que está por trás do ataque gratuito de Ciro a Dino. Ele percebeu que ao votar com a camiseta de Lula Livre, Dino poderia estar abrindo ainda mais as portas para ser um candidato alternativo em 2022.
O resultado das eleições que se encerraram ontem está movimentando as direções partidárias a pensar em estratégias para 22. A eleição acaba num dia e no outro todos agentes políticos começam a discutir as próximas. No Brasil é assim. Mesmo sabendo-se que muito do que se discute nesses dias acaba sendo modificado depois pela conjuntura que se segue.
O PCdoB está conversando com o PSB uma possível fusão. Isso resolveria o problema do partido com o a cláusula de barreira. E se isso vier a acontecer, mesmo no PSB, há quem considere Dino um bom candidato pra a presidência da República.
Por outro lado, no PT há um grupo questionando a tática utilizada pelo partido de lançar candidatos em quase todas as capitais e não ter trabalhado pela unidade do campo progressista. Neste grupo há quem defenda que o PT tem de estar disposto a, inclusive, abrir mão da cabeça de chapa. Este grupo não é majoritário hoje, mas pode vir a se tornar se Lula abraçar esta tese.
Uma chapa Haddad e Dino ou vice-versa é muito bem vista pela militância do PT. Até por Dino ter sido extremamente leal com Lula em todos os momentos de seu calvário com a Lava Jato.
Ou seja, Ciro sentiu o cheiro de que Dino mesmo não tendo tido resultados eleitorais favoráveis no Maranhão pode vir a ser seu adversário no campo progressista e resolveu lhe dar uma cutucada para deixar claro que não está disposto a abrir mão da cabeça de chapa para ninguém.
Se não bastasse isso, o PDT de Ciro na figura do senador Weverton Rocha apoiou o candidato do DEM no primeiro turno, mas no segundo, rompeu com a base de Flávio Dino e foi apoiar Eduardo Braide (Podemos), bolsonarista que saiu vitorioso nas eleições. Essa atitude de Weverton, que é pré-candidato à sucessão de Dino, colocou em xeque a capacidade de articulação do governador em um momento em que ele se apresenta como um alternativa ao Planalto.
Ciro não cometeu mais uma gafe hoje. Ciro deu um recado claro para Flávio Dino.