Entre Haitis e terremotos: os arquitetos do GOLPE

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Para produzir um golpe é preciso produzir esquecimento, porque esquecimento é a base do cinismo do golpe. Uma manchete do G1 “saúda” o dólar mais alto por “deixar Brasil 'barato' para estrangeiros e atrair turistas”, quando há dias o mesmo dólar era motivo de crise porque impedia viagens de brasileiros ao exterior. O cinismo não tem limites em criar narrativas para mudar completamente o cenário: rei posto, rainha deposta, história recontada Por Adriana Dias Acabo de ler a crônica de Antônio Prata na Folha, Crônica em Exercício. Esse guerreiro da palavra me impressiona mais uma vez com a singeleza de seus jogos de palavras. Traduzem um pouco do que eu gostaria de ter escrito e, principalmente, lembram momentos que eu preciso recordar em dias em que se produz tanto esquecimento como os atuais. Porque para produzir um golpe é preciso produzir esquecimento, porque esquecimento é a base do cinismo do golpe. Uma manchete do G1 “saúda” o dólar mais alto por “deixar Brasil 'barato' para estrangeiros e atrair turistas”, quando há quatro dias o mesmo dólar era motivo de crise porque impedia viagens de brasileiros ao exterior. O cinismo não tem limites em criar narrativas para mudar completamente o cenário: rei posto, rainha deposta, história recontada. Como ele revela, também não gostei do ministério do segundo período Dilma. Mas tive que me render ao fato de que o terremoto Temer ainda é muito pior. Porque lança fora qualquer esperança, falência total. Virar Haiti pós-terremoto é pouco, Prata. Como efeito de comparação, seremos terra arrasada. Não vai sobrar nada, nada. Temer destruirá o país, a esperança do povo, a possibilidade de combate à corrupção, de passar o país e o projeto de nação a limpo. Destruirá o futuro da educação, o SUS, absolutamente tudo. Apenas para manter o PMDB e certos pastores, e alguns políticos de famílias tradicionalmente oligárquicas e ligadas a esquemas de corrupção longe de qualquer investigação. Nesse momento de terremoto, penso em quem quer nos transfigurar num Haiti sem possibilidade de volta. Os arquitetos do GOLPE. Todos eles: de Álvaro Dias a Michel Temer, de Malafaia a Eduardo Cunha, de Jucá a Jabor, de Aécio a Serra, de Globo a Record, de Veja a Isto É, de MBL a Revoltados Online, de Olavetes a Olaprados, de adoradores de Bolsonaro a adoradores da ditadura, de batedores de panela a isentões... Todos são responsáveis por cada família que ficar sem renda, por cada pai e mãe que perder o emprego, por cada brasileira ou brasileiro que vier a passar fome, por cada criança que morrer sem hospital daqui para frente, por cada vida que perder o rumo, por cada violência cometida contra movimento social, LGBT, movimento negro, mulheres. Que Deus, a história, o karma, o que mais lhe pesar, coloque na cota de vocês todo o mal do terremoto, que longe de um acidente natural, foi planejado, premeditado, articulado. Entramos para história como o país do futuro que escolhe viver no passado medieval, cujo presidente separa a realidade de gênero entre mundo feminino e ministeriáveis, e deixa seu filho de sete anos, que mal entrou no período operacional concreto cognitivamente escolher o logo do país: excluindo todos os estados que não existiam da reforma do pacto federativo, Acre, Amapá, Roraima, Rondônia e Tocantins não existem no logo de Temer. A demarcação dos territórios quilombolas foram parar no Ministério da Educação, seja lá o que signifique isso. A MP 727 coloca o Estado à venda, em liquidação, e a casa da moeda pode ser “dada” a uma empresa para produzir dinheiro. Para si. Se ficar pior, não será um terremoto, será uma hecatombe nuclear. O recital de besteiras, que toma conta do país é tão grande que tentaram ME PROVAR que o governo era COMUNISTA porque os BANCOS PRIVADOS tiveram muito LUCRO. Não. O Governo do PT não foi comunista, nem perto. Infelizmente foi de aliança. Dormiu com morcegos, acordou de cabeça para baixo. Eu não votei no Temer, votei em Dilma. Ele era vice. Sim, eu sei. Mas, não estava lá para fazer um golpe, muito menos para orquestrar a saída da presidenta. Muito menos para ao assumir providenciar cargos para os investigados da Lava Jato do PMDB (cadê as liminares na Justiça?), para privatizar empresas públicas, acabar com a Cultura, com os Direitos Humanos, colocar um Ustra no  Ministério da Justiça, romper com a América Latina inteira, destruir as exportações brasileiras, criar um ministério do mundo masculino, velho, que cheira a corrupção, medievalismo e fisiologismo, e tudo isso em apenas 48 horas de poder. Ele afirma não pensar em se candidatar. Eu dou risada muito alto. Nunca seria eleito. Seria o candidato menos votado de toda a história do PMDB. O mundo inteiro escreve sobre ele assim: golpista, informante, espião, traidor, e no Brasil a imprensa sorri, pensando na renovação da concessão em 2018. Calma, Globo. Ainda tem muito chão. A CNN vem aí. Seu maior pesadelo. O fim do jornalismo das notícias sem informação, tendenciosas, manipuladoras, grotescas. A Globo não respeita os entrevistados. Digo por mim: fui entrevistada para uma matéria do Fantástico e usaram o material para um especial da Globo News. Seria legal, hiper válido. Se tivessem me avisado. Não tiveram esse trabalho. Sou eu a pesquisadora, a fonte e sequer me avisam que vão fazer o especial. Se tratam assim a fonte, imaginem o espectador.