Escracho popular da Fiesp denuncia financiamento da ditadura por empresários

Manifestantes estiveram na frente da instituição e pediram reparação às famílias de trabalhadores torurados e assassinados através de “listas negras”. Representante do grupo era visto constantemente nos porões do Dops

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Manifestantes estiveram na frente da instituição e pediram reparação às famílias de trabalhadores torturados e assassinados através de 'listas negras'. Representante do grupo era visto constantemente nos porões do Dops Texto e fotos de Igor Carvalho [caption id="attachment_45023" align="alignleft" width="300"]Policiais observam as faixas dos manifestantes (Foto: Igor Carvalho) Policiais observam as faixas dos manifestantes[/caption] Na manhã desta quarta-feira (9), as duas pistas da avenida Paulista foram ocupadas por manifestações populares. No sentido centro, a 8ª Marcha da Classe Trabalhadora, reunindo as principais centrais sindicais do país. Na contramão dos sindicalistas, acontecia o escracho popular da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), por conta do “financiamento e apoio à ditadura civil-militar que torturou e assassinou centenas de opositores políticos”. Os manifestantes usaram faixas para lembrar os militantes presos, torturados e assassinados pela ditadura militar, expondo as consequências do apoio da Fiesp ao golpe militar. “A sociedade precisa saber que esses empresários financiaram torturas e assassinatos durante a ditadura, eles elaboravam listas, chamadas de “listas negras”, nas quais estavam os nomes de trabalhadores opositores ao regime, que passaram a ser perseguidos”, relatou Amelinha Teles, que foi presa e torturada no período militar e que integra a Comissão Estadual da Verdade. [caption id="attachment_45024" align="alignright" width="220"]Deputado estadual Adriano Diogo (PT) durante o escracho da Fiesp (Foto: Igor Carvalho) Deputado estadual Adriano Diogo (PT) durante o escracho da Fiesp[/caption] “A Fiesp patrocinou o golpe, denunciou os trabalhadores e usufruiu do golpe”, afirmou o deputado estadual Adriano Diogo (PT), para quem os empresários deveriam reparar os “crimes do passado”. “Trabalhadores que estavam na 'lista negra' não eram contratados por outras empresas, passavam a ser perseguidos, presos, torturados e assassinados. Essas famílias, muitas delas, até hoje estão desassistidas pelo Estado”, finalizou o parlamentar. O enviado da Fiesp Documentos encontrados pelo ex-preso político e também membro da Comissão Estadual da Verdade Ivan Seixas comprovam a visita de Geraldo Resende de Mattos, representante da Fiesp ao Dops de São Paulo. “Ele esteve presente pelo menos quatro vezes por semana no prédio do Dops. Isso escancara o quanto a Fiesp é suja e esteve comprometida com o desaparecimento e assassinato de brasileiros durante a ditadura”, acusou Seixas. O ato, organizado pela Frente de Esculacho Popular, ainda lembrou a cooperação de outro empresário com os militares. O banqueiro Olavo Setúbal, que foi nomeado prefeito de São Paulo pela ditadura e que distribuiu aos clientes de seu banco, o Itaú, agendas chamando o golpe militar de “Revolução de 1964”. [caption id="attachment_45025" align="alignleft" width="300"]Reprodução de documento que comprova a visita de representante da Fiesp ao Dops (Foto: Igor Carvalho) Reprodução de documento que comprova a visita de representante da Fiesp ao Dops[/caption] Setúbal foi ironizado durante o ato por meio de uma intervenção da atriz Fernanda Azevedo, da Kiwi Cia. de Teatro. Recentemente, ao ganhar o prêmio Shell de melhor atriz, Fernanda criticou a multinacional petrolífera por seu comprometimento com a ditadura nigeriana. Durante o ato, a artista comentou a importância da memória. “Não tem como falarmos do Brasil, hoje, sem falar da violência do passado. Não podemos esquecer que grandes corporações, como Odebrecht, Shell, GM, Itaú, Grupo Camargo Côrrea continuam apoiando regimes ditatoriais pelo mundo e só vão parar se denunciarmos.” De acordo com um documento distribuído pelos manifestantes, "a Fiesp abrigou reuniões de empresários que articularam uma rede de contribuições financeiras e logísticas à repressão."