Estados norte-americanos se unem para melhorar ensino de jovens

Os seis estados que compõem a região de New England, formaram um consórcio com o objetivo de transformar a experiência de aprendizagem dos alunos nas escolas públicas

Escrito en GLOBAL el
Os seis estados que compõem a região de New England, na costa oeste dos EUA, formaram um consórcio com o objetivo de transformar a experiência de aprendizagem dos alunos nas escolas públicas Por Patrícia Gomes, do PorVir [caption id="attachment_42009" align="alignleft" width="318"] O New England Secondary School Consortium (Consórcio de Escolas Secundárias de New England, na tradução literal) tem tem atuação baseada em três pilares:  proficiência dos alunos, caminhos personalizados de aprendizagem e sistemas de avaliação eficientes (Foto Reprodução)[/caption] No fim dos anos 2000, quatro dos seis estados que compõem a região de New England, na costa leste dos EUA, se reuniram para elaborar uma avaliação comum para suas escolas secundárias, o equivalente no Brasil a escolas de séries de ensino fundamental 2 e médio. Perceberam que, além de já terem provas semelhantes, cada um, com iniciativas próprias, estava começando programas muito parecidos para melhorar o ensino de suas escolas públicas. Resolveram então somar esforços. Apostaram no que chamam de aprendizado baseado em proficiência – por aqui, o termo mais comum é aprendizado baseado em competência, mas se referem ao mesmo tipo de abordagem –, na personalização do aprendizado e num sistema de avaliações que está atento para outras formas de aprendizado. Um ano depois, o quinto estado entrou para o grupo. Era o início do Consórcio de Escolas Secundárias de New England (New England Secondary School Consortium), que conta com os estados de Connecticut, Maine, New Hampshire, Rhode Island e Vermont. Para que esses três objetivos fossem tangíveis, as escolas públicas da região foram convidadas a fazer parte de uma Liga de Escolas Inovadoras. Os 8.000 professores locais passaram a compor uma rede para compartilhar tanto agrúrias quanto boas práticas. E aí, com encontros anuais, as boas práticas se espalharam. “Escolas visitam umas as outras, compartilham estratégias, reúnem seus profissionais em capacitações, discussões várias vezes por ano dentro e fora de seus estados”, diz Stephen Abbot, diretor de comunicações da Great Schools Partnership, uma ONG que foi criada em 2008 para gerir o consórcio. Desde que o consórcio se firmou com essa abordagem, os estados têm visto as taxas de conclusão de curso melhorarem, as de desistência e abandono serem reduzidas e o número de matrículas no ensino superior aumentar de forma significativa. “Nas escolas, temos observado grandes e poderosas mudanças acontecendo nas formas como elas funcionam e ensinam seus alunos, mas a maneira como isso ocorre muda de escola para escola. A liga, neste momento, está focada em construir uma comunidade profissional de aprendizado na região, o que acreditamos ter um impacto por si mesmo”, explicou Abbot. Veja a seguir trechos da entrevista que o especialista concedeu ao Porvir. Em que medida as redes que fazem parte do consórcio são diferentes das demais? Temos três principais iniciativas para escolas: (1) nossa Liga de Escolas Inovadoras, (2) a conferência anual High School Redesign in Action [em que os educadores trocam experiências], e (3) o desenvolvimento de publicações e recursos alinhados com a missão, a visão e as metas do consórcio. A liga é única no sentido de que todas as 75 escolas integraram a rede voluntariamente, e a maior parte não recebe financiamento como condição de adesão. Todos os membros da escola se reuniram pelo desejo de fazer parte de uma comunidade maior, comprometida com os mesmos valores educacionais e objetivos. Já os recursos e publicações do consórcio são produzidos para dar apoio e simplificar o complicado processo de melhoria da escola. Como e quando vocês decidiram trabalhar a partir dos três pilares: decisões baseadas na proficiência dos alunos, caminhos personalizados de aprendizagem e sistemas de avaliação eficientes? Ao longo de muitas reuniões e discussões, os líderes do consórcio reconheceram que seus objetivos eram muito ambiciosos e que a iniciativa precisava de um plano segmentado. A saída foi se concentrar em três estratégias “de alta alavancagem” que, se bem sucedidas, poderiam mudar fundamentalmente a experiência de aprendizagem do aluno nas escolas. Atenção à aprendizagem baseada em proficiência, aos percursos de aprendizagem personalizados e à avaliação centrada no aluno foram essas três estratégias. Aprendizagem baseada em proficiência é motivada por um princípio fundamental: não vamos apenas ensinar aos nossos alunos as habilidades e os conhecimentos mais importantes, vamos também ter a certeza de que eles aprenderam. Para um aprendizado personalizado verdadeiro ou para caminhos personalizados funcionarem, o desempenho do aluno deve ser avaliado a partir de um conjunto de testes de aprendizagem comuns que são aplicadas de forma consistente. As avaliações em um sistema baseado em proficiência se dão a partir de critérios, não de regras. O sucesso [dos alunos] é definido pelo alcance de resultados esperados, e não por medidas relativas, pela competição entre pares. Se você for criar caminhos personalizados, então você precisa de um sistema que pode definir expectativas e certificar a proficiência adquirida a partir de diversos tipos de experiências de aprendizagem. O objetivo de ter a avaliação centrada no aluno é algo que ainda não está pronto, dadas as enormes complexidades relacionadas a esse processo. A ideia básica, no entanto, é afastar-se de uma dependência excessiva nas provas. Buscar um sistema que utiliza múltiplas medidas de escola, professor e de desempenho dos alunos, e que também alinha mecanismos de avaliação com as necessidades autênticas do estudante e da sociedade. Por exemplo, se os alunos precisam escrever bem, pensar criticamente ou resolver problemas complexos para serem bem sucedidos na universidade ou numa economia global, nossos sistemas de avaliação devem promover esses talentos. Se teremos sistemas de avaliação, então eles devem conduzir os resultados mais importantes para os alunos. Vocês dizem que apóiam ”as melhores práticas”. Como vocês definem que práticas são essas? O termo “melhores práticas” é amplo e todo educador vai definir o termo diferentemente do outro. Melhores práticas, para mim, é definir prioridades (o que é mais importante), viabilidade (o que pode ser feito com o tempo que temos), praticidade (o que funciona) e alavancagem (qual será o impacto que essa ação terá sobre a aprendizagem do aluno?). Para ajudar as escolas a identificar essas prioridades, nós criamos ferramentas, como a Global Best Practices, um processo de autoavaliação que escolas podem usar para revisar seus programas, avaliar onde estão e criar planos de ação para chegar onde quiserem. Ao conversarmos com Vander Ark, ele disse que vocês são o melhor exemplo que eles conhecem de aprendizado baseado em competência. Como vocês estão usando essa abordagem? Aprendizado baseado em competência, proficiência ou em padrões – ou qualquer maneira que se chame – é mais um princípio que um modelo: ensinar aos alunos as habilidades e o conhecimento mais importante e ter certeza de que eles aprenderam. Como os educadores de fato implementam esse princípio em suas escolas pode variar muito em forma e execução, já que não há uma abordagem universal. Na nossa organização, nos dedicamos à prática – que é a construção de um sistema baseado em proficiência, para atingir um objetivo primário: formar alunos educados e talentosos, trabalhadores e cidadãos prontos para serem bem sucedidos na universidade, na profissão ou em suas comunidades no século 21. Não queremos criar sistemas demais, sobrecarregar professores ou diminuir sua criatividade. Estamos trabalhando para terminar uma série de fontes que vão dar para as escolas um modelo simples e prático para implementar o aprendizado baseado em proficiência. Chamamos de Aprendizado Baseado em Proficiência simplificado [livre tradução para Proficiency-Based Learning Simplified]. O modelo só vai oferecer uma estrutura central e recomendar algumas diretrizes – os líderes das escolas e os professores farão o restante. Entre os seus objetivos, vocês dizem “medir aquilo que realmente importa”. Como e o que vocês medem? Os resultados das provas e dados de avaliação são indicadores importantes das escolas e dos desempenhos dos alunos, mas nos Estados Unidos essas informações são levadas a sério demais. Claro, fortalecer ou melhorar os resultados nos testes não são nenhuma garantia de que os alunos estejam preparados para o sucesso após a graduação. O consórcio, a Great Schools Partnership e seus parceiros têm uma definição mais ampla de sucesso. O que é mais importante para uma vida futura em sociedade: que o aluno tenha boas notas no segundo ano do ensino médio ou que ele tenha uma boa formação geral? Qual é o melhor indicador que mostra que a meta da educação pública foi atingida? O Consortium’s Common Data Project está desenvolvendo metodologias, métricas e medidas de qualidade de controle que vão permitir que os estados comparem os resultados de importante indicadores: taxas de conclusão de curso, de abandono, de matrícula no ensino superior e índices de persistência. O objetivo é aumentar, até onde pudermos, a confiança, a comparabilidade e a utilidade dos dados de educação na região para sabermos se nossos alunos estão se formando, se estão indo para o ensino superior, se estão obtendo seus diplomas. Também estamos trabalhando para desenvolver um “índice de preparo para o ensino superior” que usa uma série de dados acadêmicos, de comportamento e de conquistas atitudinais dos estudantes. Este último indicador é um trabalho em andamento, assim como é o nosso sistema de educação. *Título original: "New England se une para melhorar ensino de jovens"