Estudo diz que informe da OEA que respaldou golpe na Bolívia era baseado em dados falsos

Segundo a Rede de Pesquisa em Ciências Sociais dos Estados Unidos, o documento golpista possui “graves problemas metodológicos, e não mostra evidências estatísticas de que houve uma fraude”

Camacho (ao centro) se ajoelha com a Bíblia após invadir o Palácio do Governo na Bolívia - Foto: Reprodução/Twitter
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Um estudo realizado por investigadores independentes, publicado nesta segunda-feira (8), mostrou que o informe da OEA (Organização dos Estados Americanos) sobre uma suposta fraude nas eleições presidenciais da Bolívia de outubro de 2019 foi baseado em “imprecisões e muitos dados claramente falsos”.

As eleições presidenciais de 10 de outubro de 2019 terminaram com vitória do então presidente Evo Morales no primeiro turno, o que significaria sua reeleição para um terceiro mandato. Porém, diferentes grupos de oposição alegaram que houve fraude, e utilizaram esse informe da OEA para justificar o golpe que, a partir da ação das Forças Armadas, derrubou Morales e impôs na presidência a atual ditadora, Jeanine Áñez.

Segundo os analistas Nicolás Idrobo, Dorothy Kronick e Francisco Rodríguez, SSRN (sigla em inglês da Rede de Pesquisa em Ciências Sociais), responsável pelo estudo, a auditoria dos resultados feita pela OEA foi “deficiente, levantou dados claramente falsos e utilizou técnicas estatísticas inadequadas”.

“A integridade do processo não foi avaliada em nenhum momento, apenas as evidências quantitativas que desempenharam um papel importante na evolução da crise política boliviana”, afirma o estudo.

O estudo mostra como a OEA baseia sua tese a partir de uma informação não comprovável de que “a vitória de Morales era estatisticamente improvável, tomando em conta as pesquisas”, e não em dados concretos.

Um dos analistas, Francisco Rodríguez, comentou o estudo em entrevista para o jornal New York Times, e disse que as evidências estatísticas da OEA apresentaram “graves problemas metodológicos, e depois que corrigimos esses problemas, os resultados da OEA desaparecem, não deixando evidências estatísticas de que houve uma fraude”.

Este não é o primeiro estudo que questiona o informe da OEA. Outros dois estudos internacionais já forma publicados, um do CEPR (Centro de Pesquisa em Economia e Política) e outro dos Departamentos de Ciência Política e Estatística da Universidade de Michigan, ambos apontando falhas parecidas ao do estudo recentemente publicado.