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O azeite é feito em casa, como sua mãe fazia quando era pequena, o mesocarpo vendido em saquinho foi tirado do coco com suas próprias mãos, mas o sabão líquido ela aprendeu a fazer nas aulas de capacitação da Rede de Empreendedoras Rurais da Amazônia. A paraense de Domingos do Araguaia, dona Cledeneuza Oliveira, tira sua renda mensal dos produtos que ela mesma fabrica com matéria-prima da própria floresta. Ela conta que ter entrado para a rede de mulheres a ajudou a administrar melhor seu próprio negócio. Agora, dona Cledeneuza não depende mais de intermediários, ela mesma comercializa o que produz e estava presente na feira de Economia Solidária do 9° Fórum Social Mundial para divulgar a iniciativa a pessoas do mundo todo.

Dona Cledeneuza não estava só. Outras mulheres da rede expunham seus produtos no estande batizado de ”Saberes e Sabores da Amazônia”. Waldiléia Amaral, uma das coordenadoras do projeto, relata que 150 mulheres já participam da rede, e algumas delas, inclusive, já exportam seus produtos. Criada em 2002, a rede tem o objetivo de auxiliar essas mulheres na conquista de sua autonomia, oferecendo-lhes espaços para o intercâmbio de experiências, assessoria para a sistematização de seus negócios e formação para que ampliem seu leque de produtos.

De acordo com Waldiléia, esta é uma forma de apoiar o desenvolvimento regional de forma realmente não-predatória. Como nos conta Rita, da coordenação regional da Minepa (Movimento de Mulheres do Nordeste Paraense), as mulheres que nasceram e cresceram na região amazônica guardam conhecimentos preciosos sobre a floresta e sabem utilizar seus recursos de forma a colaborar com o ser humano e o meio ambiente, numa relação em que ninguém sai perdendo.

Conhecimento este que é transmitido hereditariamente. Dona Cledeneuza, por exemplo, aprendeu todo o ofício da confecção do azeite, da farinha e dos flocos do mesocarpo do côco - que, aliás, é ótimo para curar cicatrizes e corrimentos vaginais -, com sua mãe. Sua filha também aprendeu e já segue os passos da mãe, mas, como nos diz resignadamente Dona Cledeneuza, “meus filhos já estão fazendo outra coisa, não querem isso, não”.

“A mulher tem um papel muito importante na agricultura familiar e na soberania alimentar”, afirma Rita. Ela ressalta que, sem incentivos para que elas se fixem no campo, não apenas a estrutura familiar se desintegra como, ao ir para as grandes cidades em busca de emprego, essas mulheres “vão para as periferias e acabam se prostituindo para conseguir sobreviver”. Já no campo, a mulher resguarda a agricultura de pequeno porte, a própria natureza e, como defende Rita, torna-se uma resistência à expansão das grandes monoculturas sobre a mata.

As atividades da rede fizeram Dona Cledeneuza ampliar seus desejos de conhecimento. Ela passou a integrar a organização assim, meio sem querer, “quando me dei conta já fazia parte”, conta com um sorriso tímido, mas sempre presente. Seu engajamento começou nos anos 1980, com a participação em um sindicato de artesanato feminino da Amazônia e, a partir de então, entrou em contato com outras mulheres que, como ela, precisam da floresta conservada para sobreviver. Se aprendeu a administrar seu negócio com a rede, hoje ela quer mais: “eu tenho é vontade de mexer no conputador para organizar os relatórios”.

Com informações de Três no Fórum.