Exclusivo: para Dirceu, auto-crítica é desvio de foco do PT

Ex-ministro acusado em processo no STF fala da solidariedade do partido e considera que críticas das correntes é eco da direita

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Ex-ministro acusado em processo no STF fala da solidariedade do partido e considera que críticas das correntes é eco da direita

Por Anselmo Massad

Depois da entrevista coletiva de quinta-feira, 30, José Dirceu evitou a imprensa. Isso porque o tema era a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que decidiu aceitar a denúncia da procuradoria-geral da República que o acusa de ser um dos chefes da quadrilha que teria distribuído dinheiro em troca de apoio político.

Ao pedido da revista Fórum, na noite de sexta-feira, 31, Dirceu aceitou. Mas só deu a entrevista neste sábado, depois do pronunciamento do presidente Lula, o ex-ministro passou 45 minutos entre poses para fotografias com militantes, abraços e conversas ao pé do ouvido. Dois acompanhantes continham parte dos curiosos e fãs, todos credenciados como delegados ou observadores, para permitir as conversas do ex-deputado.

"Pelo que você ouviu aqui, eles [os delegados] manifestam solidariedade, por justiça, pela presunção de inocência até que se prove o contrário, e porque não há culpa na aceitação da denúncia, como destacou a própria decisão do STF", explicou.

Ele declarou que mantém seu trabalho militante, cita as reformas política e tributária como prioridades para o país, bem como políticas para a juventude. Dentro do partido, fala da antecipação do Processo de Eleições Diretas (PED) para dezembro deste ano e de mais democracia interna no PT e mecanismos de controle. "Fui o primeiro a defender isso", declara.

Fórum – Como o senhor recebe o pedido do presidente Lula de solidariedade aos petistas acusados como o senhor? José Dirceu – O presidente Lula expressou o sentimento de delegados presentes ao encontro, pelo menos da maioria deles. Pelo que você ouviu aqui, eles manifestam solidariedade, por justiça, pela presunção de inocência até que se prove o contrário, e porque não há culpa na aceitação da denúncia, como destacou a própria decisão do STF. Estamos juntos há 27 anos, ninguém no PT enriqueceu ilicitamente, ninguém desviou recursos públicos. O que houve foi caixa 2, mas foi transformado em crise política na denúncia do Roberto Jefferson.

Fórum – O senhor mencionou, a recepção dos delegados, que o cumprimentam, querem tirar fotografias. E ontem, na solenidade de abertura gritaram seu nome e pediram sua presença na mesa. Por que essa recepção acontece? Dirceu – É um gesto de solidariedade. São 27 anos que construo o PT, apesar de ocupar cargos de direção desde 1987, mas sempre mantive meu trabalho de militante. É uma manifestação de afeto, de companheirismo, de força para continuar minha militância. E mais, conheço cada um deles, vivi lutas ou algum trabalho político, estive ao lado nos momentos de dificuldade e sou um deles, sou um delegado de base (mostra o crachá de delegado), fui eleito com votos de todas as chapas [do Congresso] no meu diretório.

Fórum – Na coletiva de quinta-feira, o senhor declarou que não pretende mais compor a direção partidária, bem como do projeto de anistia. Como a cassação implicou perda de direitos de se candidatar, a que tipo de trabalho o senhor pretende se dedicar? Dirceu – Continuo com meu trabalho de militante, como venho fazendo. Neste ano, fiz visitas a quase todos os estados, faltou cinco, salvo engano. Fui participar de debates, atividades, fazer palestras, atender a convites de prefeitos, diretores da CUT, da Contag, do MST, da UNE e do próprio PT. Vou continuar debruçado sobre algumas lutas políticas. Fui presidente do PT. Antes, foram dois como secretário geral do partido, antes, como secretário em São Paulo, são 19 anos de direção do PT, já dei minha contribuição.

Fórum – Muitas das defesas de teses de sexta-feira, das tendências minoritárias, cobraram com frequência uma auto-crítica do partido em relação ao caixa 2 e a medidas dentro do governo. Eles miravam no grupo político do qual o senhor faz parte. Dirceu – É legítima a manifestação, mas a imensa maioria não concorda. O partido já fez a auto-crítica, se renova, assume novas bandeiras. O importante agora é a antecipação do PED, a reforma política, a reforma tributária, as políticas para a juventude, e a preparação para as eleições de 2008. Há mais democracia dentro do PT, fui o primeiro a defender isso, com representação das executivas estaduais no diretório nacional, com a criação de um conselho fiscal para promover uma fiscalização independente da gestão partidária, mais independência aos setoriais, que a Fundação Perseu Abramo assuma também a escola de formação do PT. Na minha visão, é um desvio de foco o PT se voltar a esse tema que é instrumentalizado pela direita. Setores do PT ecoam o discurso dos setores conservadores da sociedade ao insistir nele.