Explosões de veículos da GM dobram, mas empresa não assume recall

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As explosões continuam. O modelo de “luxo” da General Motors, o Vectra, continua vitimando cidadãos brasileiros. No mês de março, a Fórum, na edição 72, denunciou 23 casos de incêndios – alguns com mortes – envolvendo o automóvel. Acidentes ocorreram em todas as regiões do país, com carros de vários anos, muitos deles, parados, sem ter sofrido colisão.

Desde a reportagem da Fórum, muito aconteceu. Em abril, as Comissões de Defesa do Consumidor e a de Viação e Transporte da Câmara dos Deputados aprovaram a realização de uma audiência conjunta para debaterem os casos do Vectra. A solicitação foi feita pela Associação Brasileira de Consumidores Automotivos (ABCAuto) localizada em Cuiabá, e que já catalogou a ocorrência de 48 casos espalhados pelo Brasil, sendo 31 sem qualquer motivo aparente e 17 precedidos de colisão, o que, ainda assim, não justifica a combustão do automóvel. Até o momento, 24 pessoas morreram carbonizadas.

Recentemente, duas explosões ocorreram, causando ferimentos em ocupantes dos veículos e também em pedestres. No dia 8 de maio, na cidade de Anchieta, no Espírito Santo, um Vectra com cinco jovens a bordo explodiu. Dois deles estão internados num hospital de Vitória, em estado grave. Na última sexta-feira, 19 de junho, em Belo Horizonte, Minas Gerais, outro carro pegou fogo. O automóvel estava em trânsito e o motorista perdeu a direção, colidindo com um estabelecimento comercial e ferindo pessoas.

Exemplo marcante 

Em 1999, no estado de Mato Grosso, na cidade de Barra do Garças, quatro pessoas foram queimadas e, a montadora, em primeira instância, foi condenada a pagar R$ 6 milhões de indenização aos familiares. Na sentença, a juíza da Comarca de Cuiabá, Amini Haddad Campos também exigiu a realização de um recall (chamada de volta) o que obrigaria a empresa a convocar todos os proprietários de Vectra para avaliações nas concessionárias.

A montadora sofre outras ações. Uma delas tramita no Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) ligado ao Ministério da Justiça. O procedimento administrativo investiga os motivos pelos quais a GM não realizou o recall do Vectra e de outros veículos com defeitos em série.

Nos Estados Unidos, a montadora anunciou, em abril deste ano, um recall para 1,5 milhão de automóveis, pois foi constado que diversos modelos da marca correm risco de se incendiar. Em janeiro de 2008, na Austrália, outra convocação, de 86 mil automóveis, foi feita em condições semelhantes, por possibilidade de combustão do veículo.

Russomano: “tentam desmoralizar a GM”

A proposta de realização da audiência pública apresentada pela ABCAuto recebeu apoio do deputado federal e vice-presidente da Comissão de Defesa do Consumidor, Filipe Pereira (PSC-RJ).
Munido de um dossiê fornecido pela associação, o deputado decidiu apresentá-lo no dia 15 de abril. Contudo, o deputado Celso Russomanno (PP-SP) se posicionou contra o relatório.

Russomano – que ficou conhecido na mídia por defender os “interesses do consumidor” – garantiu que fez um levantamento e só teria encontrado dois casos de explosões de Vectra, o que não justificaria a convocação. Mais: ele disse que tal situação “seria uma tentativa de desmoralizar a GM”.

Integrantes da ABCAuto, no entanto, continuaram mobilizados e se reuniram novamente com a Comissão de Defesa do Consumidor. No dia 29 de abril, uma reunião deliberativa ordinária aprovou, por unanimidade, a realização de uma nova audiência pública para discutir o caso Vectra.

A audiência ainda não tem data definida, mas deve ocorrer no segundo semestre. Vítimas, familiares e testemunhas devem estar presentes para apresentarem versões dos acidentes. A General Motors também poderá enviar representantes. 

*Leia mais sobre o caso na matéria da Fórum 72. À época, a GM do Brasil foi contatada pela reportagem, mas a assessoria de imprensa da fabricante, em São Caetano do Sul, afirmou que a empresa não se pronunciaria sobre quaisquer denúncias de incêndios no Vectra.