Famílias mais pobres gastam 26% da renda com comida, diz estudo

No caso dos mais ricos, valor usado com alimentação representa apenas 5% de seus rendimentos

Comida servida em Brasília ( Foto: Tony Winston/Agência Brasília)Créditos: Tony Winston/Agência Brasíli
Escrito en BRASIL el

As famílias mais pobres do Brasil, com renda de até dois salários mínimos, usam, em média, 26% do que ganham para comprar comida. Já as mais ricas, que recebem acima de 25 mínimos, usam na sua alimentação apenas 5% de seu orçamento.

O dado consta do Estudo sobre a Cadeia de Alimentos, feito pelo economista Walter Belik. Para a pesquisa, Belik se baseou em dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2017-18), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ele cruzou os dados com outras fontes, como a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

O estudo mostrou que o valor médio gasto com alimentação por essas famílias mais ricas, que representam 2,7% da população, é 165,5% maior do que a renda total das mais pobres, que são 24% dos brasileiros. Para chegar a esse valor, Belik calculou que cada família tinha, em média, três pessoas. Nas mais pobres, o valor mensal destinado à alimentação ficou em R$ 120,86. Já nas famílias acima de 25 salários mínimos, para cada pessoa são gastos R$ 671,45 por mês.

Essa desigualdade se dá especialmente pelo gasto com alimentação fora de casa. Entre as famílias mais ricas, metade dos gastos com alimentação vai para pagar a conta em restaurantes e lanchonetes. Já entre as famílias mais pobres, o gasto com refeições e lanches fora de casa equivale a 20% do gasto total com alimentação. Quanto maior a renda, come-se mais fora de casa.

Produtos mais consumidos

O estudo ainda mostrou que a maior parte dos recursos dos brasileiros, independentemente de renda, se concentra em dez produtos: arroz, feijão, pão francês, carne bovina, carne de frango, banana, leite, refrigerantes, cervejas e açúcar cristal. Para Belik, isso mostra como a dieta do brasileiro é “monótona”.

Outro fato constatado pelo estudo foi a diferença no aumento ou diminuição do consumo de certos itens básicos de acordo com a faixa de renda em que se encontra a família. Os produtos considerados foram farinha de mandioca, açúcar cristal, peixes frescos, óleo de soja e até mesmo do arroz e do feijão. Nas classes de renda mais baixa, um aumento na renda provoca apenas uma pequena elevação proporcional no consumo desses itens básicos, enquanto nas classes de renda mais alta o aumento de renda chega a levar à redução absoluta no consumo desses alimentos.

O estudo contou com a parceria do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), com apoio do Instituto Ibirapitanga e do Instituto Clima e Sociedade.