Filme "arrasa-quarteirão" ocupa 80% das salas de cinema

Produções norte-americanas restringem possibilidades dos longas nacionais e de outros circuitos, denunciam associações

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Produções norte-americanas restringem possibilidades dos longas nacionais e de outros circuitos, denunciam associações

Por Redação

Associações de cineastas manifestam "grave preocupação com o nível inédito de ocupação das salas brasileiras por filmes estrangeiros" e pedem medidas da Ancine em defesa da produção nacional

A ocupação por filmes estrangeiros no mercado nacional de salas de cinemas atingiu, a partir de maio deste ano, um índice nunca antes registrado. Em documento enviado à Ancine (Agência Nacional de Cinema), no dia 20 de agosto, e ao Ministério Público, a Associação Brasileira de Cineastas (Abraci) e a Associação Paulista de Cinema (APACI) destacaram o fato de que apenas três filmes norte-americanos ocuparam mais de 80% do mercado brasileiro de salas de exibição.

"A nossa preocupação é essa forma de ocupação do mercado cinematográfico. Está havendo uma excessiva concentração muito negativa, que é o fato de muitas salas passarem os mesmos filmes", afirmou ao HP, Ícaro Martins, presidente da APACI. "Isso fez, inclusive, com que o público caísse no cinema, está sendo nocivo porque o cinema é heterogêneo", disse.

De acordo com o documento, no dia 4 de maio, o filme ‘O Homem Aranha 3’ ocupou 869 telas de cinemas, o que representa cerca de 42% no mercado brasileiro. Já no Estados Unidos, onde foi lançado com 4.252 cópias e exibido em 39.668 salas, o mesmo filme ocupou cerca de 11% do mercado norte-americano. ‘Piratas do Caribe 3’, lançado no Brasil duas semanas depois de ‘O Homem Aranha 3’ ocupou 789 salas. Os dois filmes juntos tomaram conta de 70% das salas brasileiras. Logo depois, ‘Shrek 3’, com 705 cópias, somado aos outros dois, atingiu mais de 80% do mercado nacional de cinema.

"Uma vez que o Brasil é signatário de acordo internacional em defesa da diversidade cultural, tal forma de ocupação do mercado, além de predatória é evidente violação desse tratado. Além disso, a produção cinematográfica brasileira vem sofrendo como nunca os efeitos nocivos da concorrência extremamente desigual com a indústria estrangeira, que se inicia pela gigantesca concentração de recursos investidos em promoção e marketing, e se consuma na ocupação abusiva do mercado quando do lançamento de filmes com número de cópias claramente desproporcional", diz o documento.

"Acreditamos que é possível que a Ancine tome alguma medida, porque existe mecanismo para isso", afirmou Ícaro Martins. "Hoje, nós temos casos de multiplex que, de 18 filmes que exibe, 10 são o mesmo título".

A Associação Brasileira e Paulista de Cineastas afirma ainda que instrumentos legais e instituições devem ser acionadas em defesa do interesse nacional e do consumidor, ameaçados pela ocupação de algumas poucas produções audiovisuais estrangeiras, que não só prejudica a produção nacional, mas também a diversidade de oferta cultural para os brasileiros.

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